sábado, 28 de março de 2015

Fidel e os 50 anos dos assaltos aos quarteis Moncada e Carlos Manuel Céspedes

DISCURSO PRONUNCIADO PELO COMANDANTE-EM-CHEFE FIDEL CASTRO RUZ, PRESIDENTE DA REPÚBLICA DE CUBA, NO ATO PELO 50º ANIVERSÁRIO DO ASSALTO AOS QUARTÉIS MONCADA E CARLOS MANUEL DE CÉSPEDES, REALIZADO EM SANTIAGO DE CUBA, EM 26 DE JULHO DE 2003.

Os rebeldes libertados após sua prisão em função da ação revolucionária. Maio de 1955.

Parece algo irreal estar aqui, neste mesmo lugar, 50 anos depois dos acontecimentos que comemoramos hoje, ocorridos naquela manhã de 26 de julho de 1953. Eu tinha então 26 anos; hoje, já se passaram mais 50 anos de luta em minha vida.

Não podia, naquele momento distante, nem imaginar que nesta noite os poucos participantes daquela ação que ainda sobrevivemos seríamos convocados, junto aos que, aqui reunidos ou escutando em todo o país, foram influenciados pela Revolução ou dela participaram ativamente; junto aos que naquela data eram crianças, adolescentes ou jovens; aos que ainda não haviam nascido e hoje são pais ou até avós; a contingentes inteiros de homens e mulheres completos, plenos de glória e história revolucionária e internacionalista, soldados e oficiais da ativa ou da reserva, civis que realizaram verdadeiras proezas; a um número que parece infinito de jovens combatentes; a trabalhadores laboriosos ou estudantes entusiastas, ou as duas coisas ao mesmo tempo, e a milhões de pioneiros que preenchem nossa imaginação de eternos sonhadores. E novamente a vida me impõe o singular privilégio de me dirigir a vocês.

Não falo aqui apenas em meu nome. Falo em nome dos heróicos esforços de nosso povo e dos milhares de combatentes que deram suas vidas, ao longo de meio século. E falo também com orgulho, pela grandiosa obra que foram capazes de realizar, pelos obstáculos que venceram e os impossíveis que tornaram possíveis.

Nos dias terrivelmente tristes que se seguiram à ação, expliquei, ante o tribunal que me julgou, as causas que nos levaram a essa luta.

Cuba contava com uma população que não chegava a seis milhões de habitantes. Pelos dados conhecidos então, expressei com crueza, em números aproximados, a situação de nosso povo, 55 anos após a intervenção norte-americana contra uma Espanha já derrotada militarmente pela tenacidade e heroísmo dos patriotas cubanos, frustrando assim os objetivos de nossa longa guerra pela independência, e estabelecendo, em 1902, um total domínio político e econômico sobre Cuba.

A imposição forçada, em nossa primeira Constituição, do direito do governo dos Estados Unidos de intervir em Cuba, e a ocupação do território nacional para bases militares, unidas ao total domínio de nossa economia e de seus recursos naturais, reduziram praticamente a zero nossa soberania nacional.

Citarei apenas frases e parágrafos curtos de meus depoimentos no julgamento realizado em 16 de outubro de 1953:

"600 mil cubanos estão sem trabalho."

"500 mil camponeses trabalham quatro meses por ano e passam fome no restante."

"400 mil trabalhadores industriais e braçais cujas pensões estão desfalcadas, cujas moradias são os infernais quartinhos dos cortiços, cujos salários passam das mãos do patrão às do vendeiro, cuja vida é o trabalho perene, e cujo descanso é a tumba."

"10 mil profissionais jovens: médicos, engenheiros, advogados, veterinários, pedagogos, dentistas, farmacêuticos, jornalistas, pintores, escultores etc. saem das escolas com seus diplomas, ansiosos por luta e cheios de esperança, para ver-se num beco sem saída, com todas as portas fechadas."

"85 por cento dos pequenos agricultores cubanos estão pagando arrendamentos e vivem sob a constante ameaça do desalojamento de seus lotes."

"200 mil famílias camponesas não têm um pedaço de terra onde semear alimentos para seus filhos famintos."

"Mais da metade das melhores terras de produção cultivadas está em mãos estrangeiras."

"Cerca de 300 mil 'caballerías' (mais de três milhões de hectares) permanecem sem cultivar."

"Dois milhões e duzentas mil pessoas de nossa população urbana pagam aluguéis que consomem entre um quinto e um terço de seus rendimentos."

"Dois milhões e oitocentas mil pessoas de nossa população rural e suburbana não têm luz elétrica."

"Às escolinhas públicas rurais comparecem, descalças, seminuas e desnutridas, menos da metade das crianças em idade escolar."

"90 por cento das crianças do campo estão cheias de vermes."

"A sociedade permanece indiferente diante do assassinato em massa de milhares e milhares de crianças que, todos os anos, morrem por falta de recursos."

"Entre os meses de maio e de dezembro, um milhão de pessoas se encontram sem trabalho em Cuba, com uma população de cinco milhões e meio de habitantes."

"Quando um pai de família trabalha quatro meses por ano, com que poderá comprar roupas e medicamentos para seus filhos? Crescerão raquíticos, aos 30 anos não terão um dente saudável na boca, terão ouvido dez milhões de discursos, e no final morrerão de miséria e decepção. O acesso aos hospitais públicos, sempre repletos, só é possível mediante a recomendação de um magnata político, que exigirá do infeliz seu voto e o de toda a sua família, para que Cuba continue sempre igual ou pior."

Talvez o mais importante do que disse sobre o tema econômico e social tenha sido o seguinte:

"O futuro da nação e a solução de seus problemas não podem continuar dependendo do interesse egoísta de uma dúzia de financistas, dos frios cálculos de lucros traçados por dez ou doze magnatas, em seus escritórios com ar-condicionado. O país não pode continuar de joelhos, implorando os milagres de uns poucos bezerros de ouro que, como aquele do Velho Testamento derrubado pela ira do profeta, não fazem nenhum milagre. [...] E não é com estadistas cujo estadismo consiste em deixar tudo como está e passar a vida gaguejando bobagens sobre a 'liberdade absoluta de empresa', 'garantias ao capital investido' e a 'lei da oferta e da procura' que serão resolvidos tais problemas."

"No mundo atual, nenhum problema social se resolve por geração espontânea."

Essas frases e idéias descreviam todo um pensamento subjacente sobre o sistema econômico e social capitalista, que devia ser simplesmente eliminado. Expressavam, em essência, a idéia de um novo sistema político e social para Cuba, ainda que fosse arriscado colocá-lo em meio ao oceano de preconceitos e de todo o veneno ideológico espalhado pelas classes dominantes aliadas ao império, jogados sobre uma população que era, em 90 por cento, analfabeta ou semi-analfabeta, sem o primário completo; inconformada, combativa e rebelde, mas incapaz de discernir um problema tão agudo e profundo. Desde aquele tempo, eu já abrigava a mais sólida e firme convicção de que a ignorância foi a mais poderosa e terrível arma dos exploradores, ao longo da história.

Educar o povo na verdade, com palavras e fatos irrebatíveis, talvez tenha sido o fator fundamental da grandiosa proeza realizada por ele.

Aquelas humilhantes realidades foram aniquiladas, apesar de bloqueios, ameaças, agressões, terrorismo em massa e o emprego ad libitum dos mais poderosos meios de divulgação de todos os tempos contra nossa Revolução.

Os números não admitem réplica.

Depois foi possível saber, com mais exatidão, que a população real de Cuba em 1953, de acordo com o censo realizado daquele ano, chegava a 5.820.000 habitantes. A atual, de acordo com o censo de setembro de 2002, já em sua fase final de processamento de dados, chega a 11.177.743 pessoas.

Os números nos indicam que em 1953 existiam 807.700 pessoas analfabetas, ou seja, 22,3 por cento, cifra que sem dúvida se elevou depois, durante os sete anos da tirania batistiana; no ano de 2002, havia apenas 38.183, cerca de 0,5%. O Ministério de Educação estima que essa cifra seja ainda menor, pois, em sua busca de pessoas que não tinham sido alfabetizadas, em nível de setores e bairros, visitando casa por casa, tem muita dificuldade para encontrá-las. Seus cálculos, ajustados a meios de pesquisa ainda mais precisos que um censo de população, chegam a 18 mil, equivalente a 0,2 por cento. Ambos os dados, é claro, excluem as pessoas que, por causas mentais ou físicas, não possam ser alfabetizadas.

Em 1953, o número de pessoas com nível médio e colegial completo chegava a 139.984, cerca de 3,2 por cento da população com mais de dez anos. Em 2002 atingia 5.733.243, ou seja, 41 vezes mais e equivalente a 58,9 por cento da população de idade similar.

Os graduados universitários passaram de 53.490 em 1953, a 712.672, no ano 2002.

O desemprego, apesar de o censo de 1953 ter sido realizado em plena safra açucareira, etapa de máxima demanda da força de trabalho, chegou a 8,4 por cento da população economicamente ativa. O censo de 2002, realizado em setembro, revela que este atinge hoje em Cuba apenas 3,1 por cento da população. apesar de a força de trabalho ativa, que em 1953 era de 2.059.659 pessoas, ter alcançado, no ano passado, 4.427.028 pessoas. O mais contundente é que, no próximo ano, com a redução do desemprego a índices inferiores a três por cento, Cuba passará à categoria de país com pleno emprego, algo que, em meio à situação econômica mundial, não é concebível em nenhum outro país da América Latina ou dos chamados países economicamente desenvolvidos.

Sem entrar em outras áreas de notáveis avanços sociais, acrescentarei apenas que, entre 1953 e 2002, a população quase se duplicou, o número de habitações triplicou, e o número de pessoas por vivenda se reduziu de 4,64 em 1953 a 3,16 em 2002. Das vivendas atuais, 75,4 por cento foram construídas após o triunfo da Revolução.

85 por cento da população é proprietária da moradia que ocupa. Não paga imposto. 15 por cento restante paga um aluguel meramente simbólico.

Do total de moradias existentes no país, a porcentagem de choupanas diminuiu de 33,3 por cento em 1953 a 5,7 em 2002, e a eletrificação das mesmas passou de 55,6 por cento em 1953 a 95,5 em 2002.

As cifras, entretanto, não dizem tudo. A qualidade não aparece nos números frios, e é nela que está o verdadeiramente espetacular dos avanços alcançados em Cuba.

Nosso país ocupa hoje, por ampla margem, o primeiro lugar do mundo em número de professores e educadores per capita. O pessoal docente, em seu conjunto, atinge a altíssima cifra de 290.574 pessoas na ativa.

Em estudos realizados sobre um conjunto dos principais índices educacionais, Cuba também ocupa o primeiro lugar, e acima dos países desenvolvidos. O máximo, já conseguido, de 20 alunos da escola primária por professor, e o de um professor para cada 15 alunos de secundária básica – sétima, oitava e nona séries –, que conseguiremos no próximo ano letivo, é algo que nem se sonha nos países mais ricos e desenvolvidos do planeta.

Os médicos atingem os 67.079. Deles, 45.599 são especialistas, e 8.858 estão em processo de formação. O pessoal de enfermagem chega a 81.459, e o de técnicos da saúde, a 66.339, num total de 214.877 médicos, pessoal de enfermagem e técnicos dedicados aos serviços de saúde.

A expectativa de vida é de 76,15 anos; a mortalidade infantil – 6,5 por cada mil nascidos vivos no primeiro ano de vida – é mais baixa que a de todos os países do Terceiro Mundo e de vários dos países desenvolvidos.

Os professores de educação física, esportes e recreação são 35.902, muito mais que número total de educadores e professores dedicados à educação antes da Revolução.

Cuba se encontra em plena tarefa de transformação de seus próprios sistemas de educação, cultura e saúde, com os quais obteve tantos êxitos, para levá-los, a partir da experiência alcançada e das novas possibilidades técnicas, a níveis de excelência jamais sonhados.

Com esses programas já em pleno andamento, estima-se que os atuais conhecimentos que as crianças, adolescentes e jovens adquirem serão triplicados a cada ano, ao mesmo tempo em que, num prazo máximo de cinco anos, a expectativa de vida deve elevar-se a 80 anos. Os países mais desenvolvidos e ricos jamais conseguirão os 20 alunos por professor no ensino primário, nem um professor por cada 15 alunos no secundário, nem levar o ensino universitário aos municípios de todo o país para colocá-lo ao alcance de todo o povo, nem oferecer gratuitamente serviços de excelência em educação e saúde a todos os cidadãos. Seus sistemas econômicos e políticos não estão desenhados para isso.

Em Cuba, o pesadelo social e humano denunciado em 1953, que deu origem a nossa luta, tinha ficado para trás, poucos anos após o triunfo de 1959. Já não havia camponeses sem terras, precaristas, parceiros, nem pagamento de rendas; todos eram donos das parcelas que ocupavam; nem havia crianças desnutridas, descalças e cheias de vermes, sem escolas ou professores, nem que fosse debaixo de uma árvore; já não ocorriam entre eles as mortes em massa por fome, enfermidades ou falta de recursos ou de atedimento médico. Os longos meses sem ocupação laboral desapareceram; não se viram de novo homens e mulheres nas zonas rurais sem trabalho. Iniciava-se uma etapa de criação e construção de instituições educacionais, médicas, habitacionais, esportivas e outras de caráter social, junto com milhares de quilômetros de estradas, represas, canais de irrigação, instalações agrícolas, centros de geração de energia elétrica e suas linhas de transmissão, indústrias agrícolas, mecânicas, de materiais de construção e tudo o que é indispensável para o desenvolvimento sustentado do país.

Foi tamanha a demanda de força de trabalho, que durante muitos anos foi necessário mobilizar consideráveis contingentes de homens e mulheres das cidades, para as atividades agrícolas, construtivas e de produção industrial, que assentaram as bases do extraordinário desenvolvimento social alcançado por nossa Pátria, a que já me referi.

Falo como se o país tivesse sido um remanso de idílica paz, como se não houvessem ocorrido mais de quatro décadas de rigoroso bloqueio e guerra econômica, agressões de todo tipo, cifras massivas de sabotagens, atos de terrorismo, planos de assassinato e uma interminável lista de ações hostis contra nossa Pátria, os quais não quis enfatizar neste discurso, para poder concentrar-me nas idéias essenciais da atualidade.

Basta dizer que apenas as tarefas da defesa exigiram o emprego permanente de milhares de homens e de numerosos recursos materiais.

A duríssima batalha foi curtindo nosso povo, ensinou-o a lutar simultaneamente em muitas frentes difíceis, a fazer muito com pouco e a não desanimar nunca ante as dificuldades.

Prova decisiva foi sua conduta heróica, sua tenacidade e sua inabalável firmeza, quando o campo socialista desapareceu, e a URSS se desintegrou. A página que escreveu então, quando ninguém no mundo teria apostado um centavo na sobrevivência da Revolução, passará à história como uma das maiores proezas jamais realizadas. E o fez sem violar nenhum dos princípios éticos e humanitários da Revolução, apesar dos alaridos e calúnias de nossos inimigos.

O Programa do Moncada se cumpriu e ultrapassou. Faz tempo que vamos em prol de sonhos, muito mais elevados e inimagináveis.

Hoje se travam grandes batalhas no campo das idéias, e confrontamos problemas associados à situação mundial, talvez a mais crítica jamais vivida pela humanidade. A isso devo dedicar inevitavelmente uma parte de meu discurso.

Há várias semanas, no princípio de junho, a União Européia aprovou uma infame resolução, elaborada por um grupinho de burocratas, sem prévia análise dos próprios Ministros de Relações Exteriores, e impulsionada por um personagem de estirpe e ideologia fascistas: José María Aznar. A mesma constituiu um ato covarde e repugnante, que se somava à hostilidade, às ameaças e perigos que implica, para Cuba, a política agressiva da superpotência hegemônica.

Decidiram suprimir ou diminuir ao mínimo o que qualificam de "ajuda humanitária" a Cuba.

Qual tem sido essa ajuda, nos últimos anos, que foram muito duros para a economia de nosso país. Em 2000, a chamada ajuda humanitária recebida da União Européia chegou a 3,6 milhões de dólares; em 2001, a 8,5 milhões; em 2002, a 0,6 milhões. Ainda não tinham sido aplicadas as justas medidas adotadas por Cuba, sobre bases absolutamente legais, para defender a segurança de nosso povo frente a graves perigos de agressão imperialista, coisa que ninguém ignora.

Como se pode apreciar, a soma equivale a uma média de 4,2 milhões de dólares por ano, que em 2002 se reduziu a menos de um milhão.

O que significa de fato essa cifra, para um país que, entre novembro de 2001 e outubro de 2002, sofreu o impacto de três furacões, que afetaram o país em 2,5 bilhões de dólares, aos quais se uniram os efeitos devastadores, para nossa receita, da queda do turismo por causa dos atos terroristas de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, dos preços do açúcar e do níquel, pela crise internacional, e a alta considerável dos preços do petróleo, por diversos fatores? O que significam, comparados com os 72 bilhões que tem custado o bloqueio econômico imposto pelos governos dos Estados Unidos durante mais de quatro décadas, e frente ao qual, em razão de uma cruel lei extraterritorial como a Helms-Burton, que afeta os próprios interesses econômicos da União Européia, esta chegou a um vergonhoso entendimento, mediante o qual se comprometeu a não apoiar a seus empresários nos negócios feitos com Cuba, em troca de vagas promessas de que não aplicariam essa lei a seus investimentos nos Estados Unidos?

Com os subsídios ao açúcar, os países da União Européia afetaram em bilhões de dólares as receitas de Cuba, ao longo de todo o tempo que vem durando o bloqueio dos Estados Unidos.

Os pagamentos de Cuba aos países da União Européia, a título de importações de mercadorias, atingiram, nos últimos cinco anos, 7,5 bilhões de dólares, uma média aproximada de 1,5 bilhão anual. Em troca, esses países adquirem de Cuba apenas um valor médio, nos últimos cinco anos, de 571 milhões anuais. Quem está realmente ajudando a quem?

Além disso, a famosa ajuda humanitária usualmente está acompanhada de atrasos burocráticos e condições inadmissíveis, como, por exemplo, criar fundos de contravalor em moeda nacional, à taxa de nossas casas de câmbio, para financiar, em moeda nacional, outros projetos cujas decisões deveriam ser tomadas com a participação de terceiros.

Isso significa que, se a Comissão Européia entregava um milhão de dólares, pretendia que a parte cubana pagasse, por esse milhão, 27 milhões de pesos cubanos para financiar outros projetos em moeda nacional por esse valor, e para cuja execução se deveria contar com a participação de organizações não-governamentais européias na tomada de decisões. Essa absurda condição, que nunca foi aceita, praticamente paralisou, durante três anos, o fluxo de ajuda a um grupo de projetos, e depois o limitou consideravelmente.

Entre outubro de 2002 e dezembro de 2002, a Comissão Européia aprovou formalmente quatro projetos, por um montante aproximado de 10,6 milhões de dólares (quase todos de assistência técnica em temas administrativos, jurídicos e econômicos), e apenas 1,9 milhões de dólares para segurança alimentar. Nada disso foi executado, devido à lentidão dos mecanismos burocráticos daquela instituição. Sem dúvida, em todos os relatórios da União Européia, esses valores aparecem como "aprovados para Cuba", mas a realidade é que, até esta data, não entrou para nosso país nem um centavo desses fundos.

Deve-se levar em conta que adicionalmente a Comissão Européia e os países membros incluem, em todos os seus relatórios sobre ajuda a Cuba, os chamados custos indiretos, tais como passagens em suas próprias linhas aéreas, hospedagem, despesas de viagem, salários e luxos de primeiro mundo. A suposta ajuda desembolsada que incide diretamente no projeto se vê minguada por esses gastos que, no final, não constituem um benefício para o país, mas que, com fins claramente publicitários, são computados como parte de sua "generosidade".

Realmente causa indignação que pretendam pressionar e intimidar a Cuba com essas medidas.

Cuba, país pequeno, assediado e bloqueado, não apenas tem sido capaz de sobreviver, mas também de ajudar a muitos países do Terceiro Mundo, explorados durante séculos por metrópoles européias.

Durante 40 anos, formou-se em Cuba mais de 40 mil jovens de mais de 100 países do Terceiro Mundo, como profissionais universitários e técnicos qualificados, sem qualquer custo, sendo 30 mil deles procedentes da África, sem que nosso país lhes roubasse nenhum deles, como fazem os países da União Européia com muitos dos melhores talentos. Ao longo desse tempo, por outro lado, mais de 52 mil médicos e trabalhadores da saúde cubanos prestaram serviços voluntária e gratuitamente em 93 países, salvando milhões de vidas.

Ainda sem haver saído totalmente do período especial, no ano de 2002 já havia mais de 16 mil jovens do Terceiro Mundo estudando cursos superiores gratuitamente em nosso país, entre eles, mais de oito mil que se formam como médicos. Se fizermos um cálculo do que teriam de pagar nos Estados Unidos e na Europa, equivale a uma doação de mais de 450 milhões de dólares por ano. Se somarmos os 3.700 médicos que prestam serviços no exterior, nos lugares mais afastados e difíceis, teríamos de acrescentar quase 200 milhões mais, tomando como base o custo do salário anual pago pela OMS por um médico. Em conjunto, um valor aproximado de 700 milhões de dólares. Isso que nosso país pode fazer, não a partir de seus recursos financeiros, senão do extraordinário capital humano criado pela Revolução, deveria servir de exemplo à União Européia e fazê-la envergonhar-se da mísera e ineficaz ajuda que presta a esses países.

Enquanto combatentes cubanos derramavam seu sangue, lutando contra os soldados da apartheid, os países da União Européia intercambiavam anualmente bilhões de dólares em mercadorias, com os racistas sul-africanos e, através de seus investimentos, beneficiavam-se do trabalho semi-escravo e barato dos nativos sul-africanos.

Em 20 de julho passado, há menos de uma semana, a União Européia, numa tagarelada reunião para revisar sua vergonhosa posição comum, ratificou as infames medidas adotadas contra Cuba em 5 de junho, e declarou que considerava que se deve continuar o diálogo político, "a fim de promover uma busca mais eficiente do objetivo da Posição Comum".

O governo de Cuba, por elementar senso de dignidade, renuncia a qualquer ajuda ou resto de ajuda humanitária que possam oferecer a Comissão e os governos da União Européia. Nosso país somente aceitaria esse tipo de ajuda, por modesta que fosse, das unidades regionais ou locais, das organizações não-governamentais e movimentos de solidariedade, que não impõem a Cuba condicionantes políticas.

A União Européia se ilude, quando afirma que o diálogo político deve prosseguir. A soberania e a dignidade de um povo não podem ser discutidas com ninguém, muito menos com um grupo de potências coloniais historicamente responsáveis pelo tráfico de escravos, pelo saqueio e, inclusive, extermínio de povos inteiros, e culpadas pelo subdesenvolvimento e a pobreza em que milhões de seres humanos vivem hoje, aos quais continuam saqueando, através do intercâmbio desigual, a exploração e dilapidação de seus recursos naturais, uma impagável dívida externa, o roubo de seus melhores cérebros e outros procedimentos.

A União Européia carece de liberdade suficiente para dialogar com plena independência. Seus compromissos com a OTAN e os Estados Unidos, sua conduta em Genebra, onde atua junto com os que desejam destruir a Cuba, incapacitam-na para um intercâmbio construtivo. Logo se unirão a ela os países procedentes da antiga comunidade socialista. Os governantes oportunistas que os dirigem, mais fiéis aos interesses dos Estados Unidos que aos da Europa, serão cavalos-de-tróia da superpotência, no seio da União Européia. Estão cheios de ódio contra Cuba, que deixaram sozinha e a que não perdoam ter resistido e demonstrado que o socialismo é capaz de alcançar uma sociedade mil vezes mais justa e humana que o podre sistema que eles adotaram.

Quando a União Européia foi criada, nós aplaudimos, porque era a única coisa inteligente e útil que podiam fazer, como contrapeso à força hegemônica de seu poderoso aliado militar e concorrente econômico. Também aplaudimos o euro como algo conveniente à economia mundial, frente ao poder asfixiante e quase absoluto do dólar.

Quando, em troca, arrogante e calculadora, a procura de reconciliação com os amos do mundo, ofendem a Cuba, não merece do nosso povo a menor consideração e respeito.

O diálogo deve ser público, nos foros internacionais, e para discutir os graves problemas que ameaçam ao mundo.

Não tentaremos discutir os princípios da União ou Desunião Européia. Em Cuba, encontrarão um país que não acata a amos, nem aceita ameaças, nem pede esmolas, nem carece de valor para dizer a verdade.

Vocês necessitam que alguém lhes diga um pouco de verdades, já que muitos os adulam, por interesse, ou simplesmente deslumbrados pelas pompas das glórias passadas da Europa. Por que não criticam ou ajudam a Espanha a melhorar o desastroso estado de sua educação, que, em nível de república das bananas, é uma vergonha para a Europa? Por que não socorrem a Grã-Bretanha, para impedir que as drogas eliminem a orgulhosa raça? Por que não se analisam e ajudam a si mesmos, que tanto necessitam?

A União Européia faria bem em falar menos e fazer mais pelos verdadeiros direitos humanos da imensa maioria dos povos do mundo; atuar com inteligência e dignidade frente aos que não querem deixar-lhe nem as migalhas dos recursos do planeta que aspiram a conquistar; defender sua identidade cultural frente à invasão e penetração das poderosas transnacionais da indústria de recreação norte-americana; ocupar-se de seus desempregados, que somam dezenas de milhões; educar a seus analfabetos funcionais; dar um tratamento humano aos imigrantes; garantir uma verdadeira seguridade social e atenção médica a todos os seus cidadãos; como Cuba faz, moderar seus hábitos consumistas e esbanjadores; garantir que todos os seus membros contribuam com um por cento do PIB, como já fazem alguns, para apoiar o desenvolvimento do Terceiro Mundo, ou pelo menos aliviar, sem demagogia, sua terrível situação de pobreza, insalubridade e analfabetismo; indenizar a África e outras regiões, pelos prejuízos que lhes causaram durante séculos, pela escravidão e colonialismo; outorgar a independência aos enclaves coloniais que ainda mantêm neste hemisfério, do Caribe até as Malvinas, sem privá-los da ajuda econômica de que são credores, pelo dano histórico e a exploração colonial que sofreram.

A uma lista que seria interminável, poderia acrescentar-se:

Praticar uma verdadeira política de apoio aos direitos humanos, com fatos e não palavrório oco; investigar o que realmente sucedeu com os bascos assassinados pelos GAL e exigir responsabilidades; informar ao mundo como foi brutalmente assassinado o cientista David Kelly, ou de que forma o levaram ao suicídio; responder alguma vez às perguntas que lhes fiz no Rio de Janeiro, sobre a nova concepção estratégica da OTAN em relação aos países da América Latina; opor-se resolutamente e com firmeza à doutrina do ataque de surpresa e preventivo contra qualquer país do mundo, doutrina essa proclamada pela potência militar mais poderosa que jamais existiu, e cujas conseqüências para a humanidade vocês sabem aonde conduzem.

Caluniar e sancionar a Cuba, além de injusto e covarde, é ridículo. A partir do grandioso e abnegado capital humano que criou, e com o qual vocês não contam, Cuba não necessita da União Européia para sobreviver, desenvolver-se e alcançar o que vocês jamais poderão alcançar.

A União Européia deve melhorar sua arrogância e prepotência.

Novas forças emergem por todo lado, com grande pujança. Os povos estão cansados de tutorias, ingerências e saques, impostos mediante mecanismo que privilegiam os mais desenvolvidos e ricos, às custas da crescente pobreza e ruína dos demais. Uma parte desses povos já avança, com força incontrolável. Outros se somarão. Entre eles, há gigantes que despertam. A esses povos pertence o futuro.

Em nome de 50 anos de resistência e luta sem trégua frente a uma força várias vezes superior à de vocês, e dos êxitos sociais e humanos alcançados por Cuba sem qualquer ajuda dos países da União Européia, convido-os a refletir serenamente sobre seus erros,, sem se deixar levar por excessos de ira ou embriaguez euronarcisista.

Nem a Europa nem os Estados Unidos dirão a última palavra sobre o destinos da humanidade.

Desejo assegurar-lhes algo parecido com o que disse diante do tribunal espúrio que me julgou e condenou pela luta que iniciamos há hoje 50 anos, mas desta vez não serei eu a dizê-lo; quem o afirma e augura é um povo que realizou uma Revolução profunda, transcendente e histórica, e que soube defendê-la:

Condenem-me, não importa! Os povos dirão a última palavra!

Glória eterna aos caídos durante 50 anos de luta!

Glória eterna ao povo que converteu seus sonhos em realidade!

Venceremos!

Fonte:
http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/2003/por/f260703p.html

quarta-feira, 11 de março de 2015

O que disse Fidel a Kim Il Sung e ao Povo Norte Coreano há aproximadamente 29 anos

Disponibilizamos aqui o discurso de Fidel em 1986, saudando o povo norte-coreano em sua visita ao país. Eis uma demonstração das fraternas relações entre Cuba e Coreia, e um exemplo do internacionalismo proletário.


Discurso pronunciado pelo Comandante em Chefe Fidel Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no banquete oferecido em honra à delegação do Partido e do Governo da República de Cuba pelo Marechal Kim Il Sung, secretário Geral do Partido do Trabalho e Presidente da República Popular Democrática da Coreia, em 8 de março de 1986, "ano do XXX aniversário do desembarque do Granma".

"Querido companheiro Kim Il Sung;

Queridos companheiros do Partido e do Governo da República Popular Democrática da Coreia:

Tudo parece distanciar Coreia e Cuba. Separam-nos milhares de kilômetros. Quando em nosso país começa o dia, na Coreia reina a noite; quando este país amigo está coberto de neve, nossas terras permanecem verdes e, ainda assim, Coreia e Cuba são nações irmãs. E nos unem, queridos companheiros, nossos sonhos comuns e a proximidade e a ameaça de um inimigo comum.

Gostaria de dizer, primeiramente, que visitar este heroico e revolucionário país, conhecer pessoalmente a seu grande líder Kim Il Sung, a quem nos unem laços estreitos de afeto e admiração, entrar em contato direto com o abnegado e fraterno povo coreano, era um objetivo firme sustentado durante longo tempo. Em meio à tensa luta em que está envolvida nossa pátria, durante muitos anos esperamos por essa oportunidade.

Devo expressar que as impressões recebidas hoje serão inesquecíveis.

Eu realmente não tenho palavras para descrever os sentimentos que experimentamos com nossa chegada à Pyongyang, frente às calorosas boas vindas e à extraordinária demonstração popular no aeroporto e nas ruas.

Não venho receber homenagens, venho render homenagem ao povo de Coreia e sua gloriosa e combativa história.

Viemos de muito longe para conhecer e expressar nossos maiores sentimentos de admiração e solidariedade a um povo que durante toda sua história jamais deu um passo atrás na batalha por sua independência, contra a opressão estrangeira e a exploração. Rendo tributo aos heróis que se levantaram historicamente com as armas em mãos, sob o guia do companheiro Kim Il Sung, contra a ocupação do militarismo japonês. Rendo tributo ao povo que resistiu mais tarde à bárbara agressão do imperialismo yanqui, reconstruiu a pátria em ruínas, forjou uma nova sociedade e, durante mais de 30 anos, manteve, nas condições de um país cruelmente dividido, com a parte sul da península convertida em uma agressiva base militar dos Estados Unidos, as dignas e inabandonáveis bandeiras da revolução e do socialismo.

O gesto heroico do povo coreano constitui, sem dúvida, um dos grandes acontecimentos revolucionários de nossa época e uma fonte permanente de inspiração para os lutadores e povos de todo o mundo.

Foi essa luta, unida à luta do povo cubano, a luta que fez possível que entre nossos dois países, tão distantes, tenham-se desenvolvido laços exemplares de colaboração e profundo sentimento de irmandade e solidariedade. Jamais faltou à nossa pátria, nos momentos mais difíceis, a mão quente e generosa do povo coreano. Da mesma forma, a justa posição do Partido, o povo e o governo coreano, favoráveis a reunificação pacífica de seu país, a decidida atitude frente as manobras e provocações do imperialismo e seus aliados na região, podem sempre contar com nossa mais vigorosa e decidida solidariedade.

Vivemos hoje tempos difíceis, nos quais é preciso fortalecer como nunca antes a  unidade de ação entre todas as forças da independência, da paz e progresso dos povos. Nunca antes a humanidade viveu tempos tão perigosos e complexos. A irresponsável política armamentista, de confrontação e força, aplicada pelo governo dos Estados Unidos, levou até níveis intoleráveis o perigo de uma guerra devastadora, da qual o mundo não poderia se recuperar. À escala local, o imperialismo incita a ingerência, a agressão e o terror. Somente nossa determinação e resistência mais enérgica e nossa irrevogável decisão de não ceder frente à chantagem poderão frustrar tais desígnios reacionários.

Mas o imperialismo não só agride aos povos com as forças das armas. Nossa época é testemunha do recrudescimento mais implacável do saque econômico e da exploração dos povos, especialmente os do Terceiro Mundo. A crise econômica leva muitos países a uma situação desesperada de fome, atraso e miséria. Associam-se a implacável dívida, as práticas criminais do dumping, o intercâmbio desigual e o protecionismo, que privam os países subdesenvolvidos e neocoloniais da América Latina, Ásia e África das mais elementares esperanças quanto ao futuro. Por isso dizemos e reiteramos que a decisiva batalha pela paz é inseparável, atualmente, da batalha pelo repúdio da dívida externa e o estabelecimento da nova ordem econômica internacional que pedem nossos países.

Chegamos à Coreia movidos por um profundo interesse político; desejamos também apreciar sua cultura milenar, e aspiramos conhecer ao máximo as admiráveis realizações desse povo e de suas experiências revolucionárias. Mesmo que o tempo que dispomos, por razões alheias a nossa vontade,  não será todo o que desejamos, estamos certos de que nossos contatos, nossas conversações com o querido presidente Kim Il Sung e com nossos irmãos coreanos, darão um novo impulso a nossa amizade, a nosso conhecimento recíproco, a cooperação e a solidariedade entre ambos partidos, estados e povos.

É verdade que atravessamos um época de convulsões e perigos. É verdade que enfrentamos desafios colossais. Entretanto, quando os povos podem desenvolver vínculos como os que hoje unem Coreia e Cuba, tão distantes geograficamente, quando o espírito internacionalista que anuncia o futuro da humanidade pode se manifestar com a intensidade que hoje presenciamos aqui, não temos a menor dúvida de que a vitória estará ao nosso lado.

E nessa ocasião, querido companheiro Kim Il Sung, queridos irmãos coreanos, permitam-me repetir aqui, como se estivesse em nossa própria pátria, as palavras de ordem que tem nos acompanhado ao longo de todos esses anos de luta, triunfos e esperanças: Pátria ou morte! Venceremos!

Queridos amigos: permitam-me brindar ao grande líder, companheiro Kim Il Sung, para que goze de uma larga vida e excelente saúde, de modo que possa continuar enriquecendo com sua experiência os conhecimentos revolucionários do socialismo e do movimento comunista internacional. Brindo também pelo querido dirigente Kim Jong Il. Brindo aos irmãos do Partido coreano e brindo a todos os irmãos coreanos. Obrigado." 



Traduzido pela equipe do Fuzil contra Fuzil

domingo, 1 de março de 2015

Cinquenta Anos de Diplomacia Médica de Cuba: do idealismo ao pragmatismo - Parte 1 - Julie M. Feinsilver

Em 2013, com a vinda dos médicos cubanos, graças ao convênio estabelecido entre governos de Cuba e Brasil, os Conselhos de Medicina, os partidos mais reacionários e atrasados e a grande mídia atacaram desenfreadamente Cuba, seu povo e suas conquistas. Os ataques mentirosos e a propaganda contra nossos irmãos comunistas se alastrava com especial violência nas revistas e meios televisivos. Mas nem mesmo nesses meios foi possível esconder tudo sobre a medicina cubana. Em agosto, a participação do jornalista Jorge Pontual, direto de Nova Iorque, revelou alguns aspectos da experiência exemplar cubana. "A medicina cubana é um exemplo para o mundo" teria afirmado Pontual. O comentário do jornalista, censurado posteriormente pela Rede Globo, foi baseado em conversações que o mesmo travou com estadunidense Julie M. Feinsilver, especialista no que diz respeito à medicina cubana.

Reproduzimos, aqui, a primeira parte da Tradução do artigo "Cinquenta Anos de Diplomacia Médica de Cuba: do idealismo ao pragmatismo", na qual Julie relata importantes aspectos da medicina cubana e as realizações do país no campo da solidariedade e serviços prestados nas diversas regiões do globo. Destacamos que a norte-americana, mesmo não sendo comunista, apresenta números bastante significativos que nos permitem entender a dimensão do trabalho realizado pelos médicos cubanos a partir da Revolução Socialista.



Cinquenta Anos de Diplomacia Médica de Cuba: do idealismo ao pragmatismo - Parte 1
Julie M. Feinsilver

RESUMO

A diplomacia médica, a colaboração entre os países para que se produzam simultaneamente benefícios de saúde e a melhoria de suas relações, tem sido um dos pilares da política externa cubana desde o início da revolução de cinquenta anos atrás. Ela tem ajudado Cuba ganhar capital simbólico (boa vontade, influência e prestígio) muito além do que seria possível para um pequeno país em desenvolvimento, e isso tem contribuído para tornar Cuba um ator no cenário mundial. Nos últimos anos, a diplomacia médica tem sido fundamental no fornecimento considerável capital material (auxílio, crédito e comércio), como demonstra o acordo de 'petróleo por médicos' com a Venezuela. Isso tem ajudado que a revolução sobreviva em tempos muito difíceis. O que começou como a implementação de um dos valores fundamentais da revolução, ou seja, a saúde como um direito humano básico para todos os povos, continuou tanto como um objetivo idealista e uma busca pragmática. Este artigo analisa os fatores que permitiram a Cuba conduzir a diplomacia médica ao longo dos últimos cinqüenta anos, a lógica por trás da condução deste tipo de política de soft power, os resultados desse esforço, e a mistura de idealismo e pragmatismo que caracterizou a experiência. Além disso, apresenta uma tipologia da diplomacia médica que Cuba tem usado ao longo dos últimos cinqüenta anos.

Prólogo

Vinte anos atrás, eu examinei 30 anos de diplomacia médica cubana com base na pesquisa que eu havia realizado ao longo da década anterior (1). Revisando os últimos cinqüenta anos da diplomacia médica cubana para este artigo, revisitei meus escritos anteriores, de 1989; meu livro de 1993,  Healing the Masses: Cuban Health Politics at Home and Abroad; e uma série de artigos que venho escrevendo ao longo dos últimos quatro anos; e novos dados (2). A nível conceitual, quanto mais as coisas mudaram, mais eles permaneceram as mesmas. Claramente, houve várias mudanças fundamentais que afetaram a Cuba durante as últimas duas décadas. Desde 1989, assistimos ao colapso da União Soviética e da teia de relações comerciais e de ajuda que Cuba teve com os países da antiga esfera soviética de influência. A crise econômica resultante para Cuba fez da década de 1990, em grande medida, uma década perdida. Então, em um momento crítico, Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela, em 1998, inaugurando uma nova era de acordos comerciais preferenciais e de ajuda que forneceram generosidade econômica à Cuba. A crise econômica financeira mundial que começou no final de 2007 e  três furacões devastadores em 2008, mais uma vez, jogaram a economia de Cuba em colapso. O que permaneceu o mesmo é o tema deste artigo: compromisso e condução da diplomacia médica de Cuba.

Introdução

A diplomacia médica, a colaboração entre os países para que se produzam simultaneamente benefícios de saúde e a melhoria de suas relações, tem sido um dos pilares da política externa cubana desde o início da revolução de cinquenta anos atrás. Ela tem ajudado Cuba ganhar capital simbólico (boa vontade, influência e prestígio) muito além do que seria possível para um pequeno país em desenvolvimento, e isso tem contribuído para tornar Cuba um ator no cenário mundial.  Nos últimos anos, a diplomacia médica tem sido fundamental no fornecimento considerável de capital material -auxílio, crédito e comércio- para manter a revolução.  Esta análise examina como e porque Cuba realizou a diplomacia médica ao longo dos últimos cinquenta anos, os resultados desse esforço, e a mistura de idealismo e pragmatismo que caracterizou esta experiência. A revolução pode ser medida por suas ações para implementar seus ideais, algo que os cubanos têm feito com sucesso por meio da diplomacia médica.

A Natureza da Diplomacia Médica Cubana

    Fatores possibilitadores

    Desde os primeiros dias do governo revolucionário, as lideranças de Cuba defenderam o cuidado de saúde universal e gratuito como um direito humano básico e responsabilidade do Estado. Eles logo assumiram esse compromisso ideológico ao extremo e sustentaram que a saúde da população seria uma metáfora para a saúde da estrutura política. Esta defesa levou à criação de um sistema nacional de saúde, que por muita dedicação e tentativa e erro, evoluiu para um modelo elogiado por especialistas em saúde internacionais, incluindo a Organização Mundial de Saúde (OMS). O sistema de saúde cubano produziu indicadores de saúde, tais como a taxa de mortalidade infantil e esperança de vida ao nascer, comparáveis aos dos Estados Unidos, embora haja uma grande diferença nos recursos disponíveis para Cuba para alcançá-los.

    Ao mesmo tempo, a ideologia da saúde cubana sempre teve uma dimensão internacional. Tal ideologia considera a cooperação Sul-Sul como dever de Cuba, a fim de reembolsar a sua dívida para com a humanidade pelo apoio externo que recebeu durante a Revolução. Portanto, a prestação de assistência médica a outros países em desenvolvimento tem sido um elemento-chave das relações internacionais de Cuba, mesmo com a saída imediata de cerca de metade dos médicos da ilha após a revolução e as dificuldades que essa retirada  pode ter causado.

    A saída de médicos contribuiu para a a decisão do governo de reformar o setor de saúde, reformar a educação médica, e aumentar consideravelmente o número de médicos treinados. Esses fatores combinados possibilitaram o compromisso em larga escala para a diplomacia médica e deram credibilidade às ofertas de ajuda oferecidas por Cuba. Demonstraram também o sucesso de Cuba no terreno na redução das taxas de mortalidade e morbidade, que são objetivos principais de todos os sistemas de saúde. Em meados da década de 1980, Cuba produziu um grande número de médicos além da necessidade de seu próprio sistema de saúde, especificamente para o seu programa internacionalista. Os últimos dados disponíveis a partir de final de 2008 indicam que Cuba tem um médico para cada 151 habitantes, uma razão sem paralelo em qualquer lugar (3).

Incursão inicial de Cuba em Diplomacia Medica

    Apesar das dificuldades econômicas próprias de Cuba e do êxodo de metade de seus médicos, Cuba começou a conduzir a diplomacia médica em 1960, enviando uma equipe de médicos para o Chile para fornecer ajuda de emergencial após um grande terremoto. Três anos mais tarde, e com o embargo dos EUA, começou a sua primeira iniciativa diplomacia médica a longo prazo através do envio de um grupo de cinquenta e seis médicos e outros profissionais de saúde à Argélia, em uma missão de quatorze meses. Desde então, Cuba já prestou assistência médica para mais de cem países em todo o mundo, tanto para situações de emergência a curto prazo quanto de longo prazo. Além disso, Cuba forneceu educação médica gratuita para dezenas de milhares de estudantes estrangeiros em um esforço para contribuir para a sustentabilidade da assistência médica para seus países de origem.

    Talvez como um presságio do que estava por vir, mesmo durante os anos 1970 e 1980, Cuba implementou um desproporcionalmente maior programa de ajuda civil, - particularmente médicos - do que os seus parceiros comerciais mais desenvolvidos: a União Soviética, os países do Leste Europeu e China. Os voluntários civis cubanos constituíam 19,4 por cento do total fornecido por esses países, mesmo que Cuba representasse apenas 2,5 por cento da população. Isso gerou para Cuba um considerável capital simbólico, que se traduziu em apoio político na Assembléia Geral das Nações Unidas, bem como benefícios materiais, no caso de Angola, Iraque e outros países que poderiam ter recursos para pagar honorários de serviços profissionais prestados, mesmo que os custos fossem consideravelmente menores do que as taxas do mercado (4).

Tipologia da Diplomacia Médica de Cuba

    A seguinte tipologia de iniciativas de diplomacia médica de Cuba facilita a compreensão de uma porção da profundidade e a amplitude do uso de Havana deste tipo de soft power, como um importante instrumento de política externa. As assistências prestadas por Cuba podem ser divididas em duas grandes categorias: iniciativas de longo prazo e curto prazo, mesmo que algumas iniciativas de curto prazo possam ter efeitos a longo prazo. Além disso, algumas subcategorias não são mutuamente exclusivas, como iniciativa particular podem ser realizadas tanto a curto prazo como a longo prazo (5).

Iniciativas de curto prazo podem, então, ser dividida em nove categorias:

1. Assistência à desastres

2. Controle da epidemia e vigilância epidemiológica

3. Formação de campo para os profissionais de saúde melhorarem suas habilidades

4. Prestação direta de cuidados médicos em Cuba

5. Consultoria organizacional, administrativa e planejamento de serviços e sistemas de saúde

6. Doação de medicamentos, suprimentos médicos e equipamentos

7. Campanhas educativas de vacinação e de saúde

8. Desenvolvimento de programas para o desenvolvimento de recursos humanos e para a prestação de serviços médicos específico

9. Intercâmbios científico e transferência de conhecimento através do patrocínio de conferências internacionais e a publicação de revistas médicas

Iniciativas de diplomacia médica de longo prazo de Cuba podem ser classificados em sete áreas:

1. Prestação direta de cuidados de saúde primários no país beneficiário, particularmente em áreas onde os médicos locais não estão presentes

2. Treinamento de pessoal de hospitais de cuidados secundários e terciários em países beneficiários

3.Estabelecimento de centros de saúde (por exemplo, clínicas, laboratórios de diagnóstico, hospitais) em países beneficiários

4 Estabelecimento de programas integrais de saúde em países beneficiários

5. Estabelecimento ou formação de escolas médicas em países beneficiários e/ou clínicas comunitárias baseadas na educação médica combinadas com ensino à distância sob supervisão cubana no país beneficiário

6. Prestação de bolsas de estudo integrais para estudar em Cuba para a faculdade de medicina e profissões relacionadas à saúde

7. Intercâmbios científicos

Já em meados dos anos 1970, Cuba só não usava dois dos instrumentos citados. Desenvolvidos recentemente, os dois são a criação de programas integrais de saúde de campo, primeira abordagem desenvolvida em 1998, e o estabelecimento de  clínicas comunitárias no país para o ensino à distância incorporado a educação médica, concretizada pela Universidade Virtual de Saúde em 2006. Exemplos de algumas destas iniciativas durante os últimos cinquenta anos demonstram que, embora Cuba seja um pequeno país em desenvolvimento, tem sido capaz de conduzir a política externa de nível mundial, com a qual o presidente Barack Obama recentemente disse que Estados Unidos poderiam aprender (6).

Atendimento de desastres

Cuba tem sido rápida em mobilizar equipes de socorro de desastres bem treinados para muitas das grandes catástrofes no mundo. Entre suas atividades mais recentes está o envio imediato de brigadas médicas especialmente treinadas ao Haiti - sessenta médicos- depois do terremoto de janeiro de 2010 para complementar a brigada médica existente de quatrocentos médicos e mais de quinhentos alunos haitianos das escolas médicas cubanas que trabalharam com eles. Por já estarem trabalhando em todos os dez departamentos do Haiti - as equipes de médicos cubanos trabalhavam no país desde 1998 -, eles foram os primeiros estrangeiros a responder ao grande terremoto. Após três semanas, haviam assistido mais de 50.000 pessoas; realizado 3.000 cirurgias, 1.500 das quais foram operações complexas; realizados 280 partos; vacinado 20.000 pessoas contra o tétano; estabelecido nove salas de reabilitação; e começado a prestar cuidados de saúde mental, especialmente para crianças e jovens (7).

    Após o furacão Georges devastar o Haiti em 1998, Cuba foi também o primeiro pais a enviar ajuda médica ao Haiti. Depois do trabalho de ajuda humanitária imediata, Cuba passou a prestar assistência médica gratuita para o povo haitiano em uma base de longo prazo, implementando seu modelo de programa integral de saúde e fornecendo bolsas de estudo integrais, em Cuba, para estudantes de medicina do Haiti. Em resposta a tempestade tropical Jeanne, em 2004, Cuba enviou uma equipe adicional de sessenta e quatro médicos e doze toneladas de suprimentos médicos para o Haiti. Entre 1998 e 2010, 6.094 médicos cubanos trabalharam no Haiti, realizando mais de 14 milhões de visitas aos pacientes, 225 mil cirurgias, 100 mil partos, e salvando mais de 230.000 vidas. Além disso, em 2010, com o apoio da Venezuela, Cuba tinha estabelecido cinco dos dez centros de diagnósticos abrangentes planejados, que fornecem não só uma gama de serviços de diagnóstico, mas também de atendimento emergencial. Cuba também treinou 570 médicos haitianos em bolsas de estudo integrais. Finalmente, desde 2004, pouco mais de quarenta e sete mil haitianos foram submetidos a cirurgia de catarata como parte da Operação Milagre (8).

    Outras áreas de recentes desastres nas quais Cuba implantou suas brigadas médicas especializadas são a China após o terremoto de maio de 2008, a Indonésia após o terremoto de maio de 2007, a Bolívia depois das enchentes de fevereiro de 2008, e o Peru, após o terremoto de dezembro de 2007. Missões médicas cubanas prestaram assistência, também no pós-tsunami na Indonésia em 2004 e no pós-terremoto no Paquistão em 2005. Em ambos os casos, as equipes médicas cubanas inicialmente proveram assistência emergencial de socorro, mas, em seguida, permaneceram trabalhando depois que outras equipes de socorro haviam deixado de prestar cuidados preventivos e curativos. Os dados para a missão médica para o Paquistão indicam que, logo após o terremoto, Cuba enviou uma equipe de especialistas altamente experientes de socorro que compreendia 2.564 médicos (57 por cento da equipe), enfermeiros e técnicos de medicina (9). Parte da equipe trabalhou em campos de refugiados e hospitais paquistaneses. Trabalhando em trinta hospitais de campo localizados em toda a zona atingida pelo terremoto, a equipe trouxe tudo o que seria necessário para estabelecer, equipar e manter esses hospitais. O custo para Cuba não eram insignificantes. Dois dos hospitais custaram US $ 500.000 cada. Em maio de 2006, Cuba aumentou sua ajuda com cinqüenta e quatro geradores elétricos de emergência.

    Ao longo dos anos, Cuba também tem fornecido ajuda de socorro para a Armênia, Irã, Turquia, Rússia, Ucrânia, Belarus, e a maioria dos países da América Latina e do Caribe que sofreram catástrofes naturais ou provocadas pelo homem. Por exemplo, ao longo de quase duas décadas, Cuba tratou gratuitamente quase 20.000 crianças - mais de 16.000 ucranianas, quase 3.000 russas, e 671 bielorrussas - principalmente para doenças relacionadas com a radiação pós-Chernobyl (10) Esse tipo de diplomacia médica no momento da necessidade do país afetado tem atraído considerável capital simbólico bilateral e multilateral para Havana, em particular quando a ajuda é enviada para países considerados mais desenvolvidos do que Cuba.

Prestação direta de cuidados médicos:  Exemplos Selecionados

A Conexão Cuba-Venezuela-Bolívia: Programas de Saúde Integral

    Na verdade, é irônico que, em 1959, Fidel Castro tenha procurado em vão suporte financeiro e de petróleo do presidente venezuelano Rómulo Betancourt. Levariam 40 anos e muitas dificuldades econômicas até que outro presidente venezuelano, Hugo Chávez, proporcionasse comércio, crédito, ajuda, e investimentos preferenciais que a economia cubana desesperadamente necessitava. Esta parceria faz parte da Alternativa Bolivariana para los Pueblos de Nuestra América (ALBA), a união e integração da América Latina em um bloco de comércio e ajuda orientada para a justiça social sob a direcção da Venezuela. Assim, apesar de três décadas de obsessão de Fidel em tornar Cuba uma potência médica mundial, a ALBA criou uma oportunidade para ampliar o alcance da diplomacia médica de Cuba acima do anteriormente imaginável (11).

    O atual programa de cooperação medica de Cuba com a Venezuela é o maior jamais tentado. Os acordos comerciais de petróleo por médicos permitem preços preferenciais de exportação de serviços profissionais frente o fornecimento estável de petróleo venezuelano, investimentos conjuntos em setores de importância estratégica para os dois países, e à concessão de crédito. Em troca, Cuba não só presta serviços médicos a comunidades não servidas e carentes na Venezuela - o acordo inicial para a exportação de serviços médicos em massa em 2005 foi de trinta mil profissionais médicos, seiscentos postos de saúde abrangentes, seiscentos de reabilitação e centros de fisioterapia, trinta e cinco centros de diagnóstico de alta tecnologia, cem mil cirurgias oftalmológicas, e assim por diante - mas também presta serviços médicos semelhantes na Bolívia, em menor escala, à custa da Venezuela (12).

    Um acordo posterior incluiu a expansão do programa cubano financiado pela venezuela - Operação Milagre, de cirurgias oftalmológicas - para executar seiscentas mil operações de restauração e salvamento de visão na América Latina e no Caribe ao longo de um período de dez anos. Esse número já foi ultrapassado no final de 2007, quando o milionésimo paciente foi operado. Em fevereiro de 2010, 1,8 milhões de pacientes se beneficiaram do programa (13). Para alcançar estes números, Cuba estabeleceu sessenta e uma pequenas clínicas de cirurgias de visão na Venezuela, Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, Panamá, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Peru, St. Lucia, St. Vincent, Suriname e Argentina; e estendeu o programa para a África, instalando clínicas em Angola e no Mali, para lidar com parte da demanda daqueles e dos países vizinhos e para reduzir a pressão sobre as instalações (14).

    O segundo maior programa de cooperação médica é com a Bolívia, onde em junho de 2006, 1,100 médicos cubanos já prestavam assistência  gratuita de saúde, particularmente nas áreas rurais, em 188 municípios. Em julho de 2008, os profissionais de saúde cubanos trabalhavam em 215 de 327 municípios da Bolívia, incluindo remotas vilas rurais. Os relatos apontam que durante o período de dois anos de diplomacia médica na Bolívia, os médicos cubanos haviam salvo 14.000 vidas; realizado mais de 15 milhões de exames; e feito cirurgias oculares em cerca de 266 mil bolivianos e os seus vizinhos da Argentina, Brasil, Paraguai e Peru, este último como parte da Operação Milagre (15).
    Ironicamente, através do programa Operação Milagre na Bolivia, Cuba salvou a visão de Mario Terán, o homem Boliviano que matou Che Guevara.

Notas:

 1. Julie M. Feinsilver, ‘‘Cuba as a World Medical Power: The Politics of Symbolism,’’ Latin American Research Review 24, no. 2 (1989): 1–34; Julie M. Feinsilver, ‘‘Cuban Medical Diplomacy: Realpolitik and Symbolic Politics,’’ paper presented at meeting of the Latin American Studies Association, Halifax, Nova Scotia, November 1–4, 1989.

2. Julie M. Feinsilver, ‘‘Cuba’s Health Politics at Home and Abroad,’’ in Morbid Symptoms: Health under Capitalism, Socialist Register 2010, ed. Leo Panitch and Colin Leys (London: Merlin Press, 2009), 216–39; Julie M. Feinsilver, ‘‘Cuban Medical Diplomacy,’’ in A Changing Cuba in a Changing World, comp. Mauricio A. Font (New York: Bildner Center, City University of New York, 2009), 273–85, available at http://web.gc.cuny.edu/dept/bildn/publications/ChangingCuba .shtml; Julie M. Feinsilver, ‘‘Médicos por petróleo: La diplomacia médica cubana reciba una pequeña ayuda de sus amigos,’’ Nueva Sociedad (Buenos Aires), 216 (July–August 2008): 107–22 (English version: ‘‘Oil-for-Doctors: Cuba’s Medical Diplomacy Gets a Little Help from a Venezuelan Friend,’’ available at http://www.nuso.org/revista.php?n=216; Feinsilver, ‘‘Medical Diplomacy’’; Julie M. Feinsilver, ‘‘La diplomacia médica cubana: Cuando la izquierda lo ha hecho bien,’’ Foreign Affairs en Español 6, no. 4 (2006): 81–94 (English version: ‘‘Cuban Medical Diplomacy: When the Left Has Got It Right,’’ available at http://www.coha.org/2006/10/30/ cuban-medical-diplomacy-when-the-left-has-got-it-right/; Julie M. Feinsilver, Healing the Masses: Cuban Health Politics at Home and Abroad (Berkeley: University of California Press, 1993), 9–25, 156–95, 196–211. Although the statistical data in the book are dated, the overall analysis of the whole book has, as Dr. Peter Bourne—executive producer of Salud! The Film—indicated in a personal communication of November 13, 2006, ‘‘withstood the test of time.’’

3. Oficina Nacional de Estadísticas, República de Cuba, Anuario estadístico de Cuba 2008: Edición 2009, http://www.one.cu/aec2008/esp/20080618etablaecuadro.htm.

4. Feinsilver, Healing the Masses, 159–60.

5. Ibid., 157.

6. Mike Blanchfield, ‘‘Harper Hails Unplugging of Ideological Megaphones at Hemispheric Summit,’’ Canwest News Service, April 19, 2009, available at http://www.canada.com/business/Harper+hails+unplugging+ideological+megaphones+hemispheric+summit/1512580/story.html.

7. ‘‘Cuban Doctors in Haiti Boost Integral Assistance,’’ Prensa Latina, February 2, 2010, http://www.solvision.co.cu/english/index.php?option=comecontent&view=article&id=862:cu ba-doctors-in-haiti-boost-integral-assistance-&catid=7:health&Itemid=128; ‘‘Cuba considera ayuda a Haiti prioritaria,’’Granma, January 13, 2010, http://www.granma.cubaweb.cu/2010/01/13/nacional/artic28.html.

8. Embassy of Cuba in Nueva Zealanda, Pacific Press Release, ‘‘Cuba Stands by the Haitian People,’’ January 22, 2010, http://pacific.scoop.co.nz/2010/01/cuba-stands-by-the-haitian-people/.

9. Ibid.

10. ‘‘Cuba Has Treated over 20,000 Children from Chernobyl Disaster,’’ Havana Journal, April 2, 2009, http://havanajournal.com/forums/viewthread/1145/.

11. Feinsilver, ‘‘Cuando la izquierda lo ha hecho bien,’’ 84; Feinsilver, ‘‘Médicos por petróleo,’’ 111.

12. Ibid.

13. ‘‘The Open Eyes of Latin America,’’ Granma, February 3, 2010, http://translate.google .com/translate?langpair=es|en&u=http%3A%2F%2Fwww.radioangulo.cu%2Fenglish%2Findex .php%3Foption%3Dcomecontent%26task%3Dview%26id%3D5909%26Itemid%3D28.

14. ‘‘Nuevo impulso a Operación Milagro en Argentina,’’ Radio Sucro, December 3, 2009.

15. ‘‘Report on Cuban Healthcare Professionals in Bolivia,’’ Periódico, July 16, 2008, http://www.periodico26.cu/english/health/junesep2008/doctors-bolivia071608.html.