sábado, 8 de agosto de 2015

Entrevista com o Presidente do Movimento Juvenil Martiano - Parte 2

Yusuam Palacios Ortega,
Presidente do Movimento Juvenil Martiano

No mês de abril, publicamos a primeira parte da entrevistas com o camarada Yusuam Palacios Ortega, presidente do Movimento Juvenil Martiano. Segue abaixo a segunda parte dessa entrevista, que abordará concretamente quais são as atividades realizadas pelo Movimento e sua relação com a União da Juventude Comunista, a juventude do Partido Comunista de Cuba.


Que tipo de atividades são organizadas pelo movimento e como elas são financiadas? 

Yusuam: São atividades das mais variadas. É destacável o objetivo pelo qual surge o movimento, de resgatar o Seminário Juvenil de Estudos Martianos, sendo esta sua atividade fundamental. É um evento que é organizado desde os clubes martianos até o nível nacional, no qual as crianças, os adolescentes e os jovens realizam pesquisas, estudos martianos, aproximam-se de Martí a partir de distintas perspectivas. A partir de manifestações artísticas, crianças que pintam sobre temas relacionados a Martí, jovens que escrevem sobre Martí, assim como os que realizam obras teatrais a partir das idéias e ensinamentos desse professor, os que compõem canções dedicadas a Martí, os que escrevem contos, poesías, ensaios, exposiçoes, todas as manifestações da literatura e da arte, relacionadas a esse evento. Enquanto os jovens agrupam-se para conjuntamente, a partir do diálogo, das relações que podem ser criadas em torno de um evento desse tipo, realizar essa festa martiana.

Vemos nesse Seminário que em distintas comissões reunem-se os jovens para transmitir suas experiências, para compartilhar o resultado de seus trabalhos dedicados não somente a Martí, insistimos sempre nisso. O Movimento é mais que martiano, levando em consideração que não estudamos apenas Martí, mas desde Martí estudamos toda a escola cubana de pensamento, como pensadores ilustres como Maceo. E destaco Antonio Maceo, porque derivado do Semininário Juvenil de Estudos Martianos, já em sua edição 42, estamos organizando e o Movimento vem assumindo, outros eventos desta natureza, como o Seminário Juvenil Maceísta, como a Jornada Cespediana (Carlos Manuel de Céspedes, N.E.), dedicada ao pai da pátria, como os seminários em torno da figura de Ignácio Aramonte, por exemplo.

Ou seja, é uma atividade na qual agrupamos e tentamos reunir, nesse intercâmbio de experiências, muitos jovens no país, desde que são crianças até quando já terminaram seus estudos universitários. São jovens que estudam toda esta grande obra humana que nos antecede e que afinal é a própria cultura cubana. Essa é a atividade essencial.

Que outras atividades realizamos? Pois os encontros entre gerações os diálogos entre gerações, atividade que o Movimento assumiu a partir de uma idéia, que afortunadamente se materializou, do doutor Armando Hart Dávalos, diretor da Oficina do Programa Martiano, uma das figuras históricas da Revolução Cubana. E o movimento compreendeu que é hoje mais do que importante, é uma necessidade, dialogar entre gerações, para o entendimento entre essas gerações e para conseguir e obter a unidade nacional, a unidade das forças em Cuba. Isso é muito significativo e é uma das ações que realizamos: os "Diálogos entre Gerações".

Fazemos também as acampadas martianas, as rotas históricas, especialmente, reeditamos com muita sistematicidade a rota martiana de Playita de Cajobabo, lugar por onde desembarcou Martí em 11 de abril de 1895, até Dos Ríos, lugar onde cai em combate. Essa é uma rota que o movimento assumiu e que realiza anualmente com muitos jovens que sentem-se motivados para conhecer essa história não apenas pelo que contam os historiadores, ou até mesmo pelo que o próprio Martí conta em seu diário de campanha, mas vivendo os lugares por onde passou Martí. Diretamente, conectam-se com cada um desses acampamentos, lugares históricos por onde transitou o apóstolo (da independência, N.E.) em sua rota gloriosa, assim como o generalíssimo Máximo Gomes que o acompanhou nesse trajeto, já que desembarcou junto com ele em Playita de Cajobabo.

Mas também temos outras rotas em todo o país que estão relacionadas essencialmente com a história de cada um de nossos territórios. Vejam, o Movimento Juvenil Martiano converteu-se em uma brigada de resgate e salvamento da história. Traz a bandeira da história, traçando hoje linhas importantes da aproximação com a história por parte dos próprios jovens. Uma forma de nos aproximar da história e de nos sentir motivados pela história e de não pensar que a história são meros relatos ou que a história é algo que não nos contribuirá em nada proveitoso, é precisamente nos conectarmos com a história, desde as vivências, desde o emotivo, desde a própria materialização prática do que lemos ou do que dizem que ocorreu. Então é por isso que fazemos esses trajetos, as caminhadas, as visitas a lugares de interesse histórico. Evidentemente, organizamos também uma ação todos os anos, no dia 14 de junho, dedicada a Maceo e ao Che Guevara, pois esse dia é precisamente o dia do nascimento de ambas as figuras históricas, de ambos os próceres, subindo as principais elevações de todo o país. Em todas as províncias, os jovens unem-se para fazer essa escalada histórica, também Martiana, até as principais elevações que temos em Cuba, porque, precisamente, seguindo Martí, "Subir lomas hermana hombres." ("Subir montanhas torna os homens fraternos.", N.E.). E também buscamos isso.

Pois bem, fazemos também os encontros de pensamento, O Movimento Juvenil Martiano, e os convidamos para quando haja a próxima edição, faz os Encuentros Ganémosla a pensamiento (A ganhemos com o pensamento, com nossas idéias, N.E.), espaços para intercâmbio, espaços para debater, espaços também para que nos questionemos da realidade na qual vivemos, para pensar Cuba a partir do presente, para pensar Cuba em direção ao futuro. Esses são espaços muito interessantes, muito ricos com intelectuais, com distintas pessoas que se interessam pelos temas em alta da própria sociedade cubana, da vida, da situação internacional inclusive, sendo também encontros de pensamento, de diálogo, de debate. 

Fazemos os projetos vinculados a todos os jovens dos distintos níveis de ensino, por dizer, os jovens da FEEM (Federação de Estudantes do Ensino Médio, N.E.), os jovens também da Universidade, os jovens dos centros de trabalho e de produção, nas comunidades, fazemos os projetos de trajetos por todo o país, como por exemplo o que concluímos faz cinco ou seis meses, que chamou-se "Cuba em minha Mochila". Percorremos todo o país com uma pergunta essencial, um questionamento, que motivou todas as pessoas às quais pudemos chegar a também sentar e refletir sobre suas vidas em Cuba, sobre as necessidades que temos hoje, na nossa condição de seres humanos, de seguir em frente e de seguir prosperando, não apenas no campo econômico mas também no campo espiritual, cultural, que é tão importante. E esse questionamento era muito simples: "O quê você guardaria de Cuba em sua mochila?", qualquer que fosse a circunstância. As experiências e as vivências foram muitas e das mais variadas, muito ricas, por todo o país, em centros estudantis, em centros de trabalho e em comunidades. E assim fazemos as rotas e as campanhas, admiráveis, como a de Sabaneta a Miraflores que será realizada agora no próximo mês de julho, especificamente dedicada ao 60º aniversário do nascimento do comandante supremo Hugo Rafael Chávez Frías. (1)

São algumas das principais atividades que hoje o Movimento Juvenil Martiano está realizando. Isso sem contar todas as ações que desde a escola de pensamento do Movimento estamos realizando. A linha de pesquisa do Movimento Juvenil Martiano é hoje uma das ações fundamentais de nosso movimento. Nós temos também um núcleo investigativo que realiza esses estudos muito importantes, da cultura cubana, da história, da política em Cuba, da economia, do direito, também aí está o projeto Pensar Cuba desde o Direito, do Movimento Juvenil Martiano. Ou seja, buscamos enquanto Movimento que nos sintamos - e não de que nos consideremos, já que isso pode significar que não o somos - tratamos de ser efetivamente uma vanguarda juvenil liderados pela União de Jovens Comunistas para assumir como pauta e levar adiante o país. E levar o país em direção a duas arestas fundamentais. A primeira delas: Manter nossas conquistas. As conquistas revolucionárias de Cuba não podem perder-se. O movimento está consciente disso e está lutando para mantê-las, mas, mais do que isso, com o objetivo de vencer os limites do possível, de ir mais longe, seguir conquistando, seguir levando o país adiante. Essas são as idéias fundamentais do trabalho que vem sendo realizado hoje pelo Movimento Juvenil Martiano. Em suma: trata-se de semear nos jovens a idéia martiana, o humanismo, a espiritualidade, o ser revolucionário, radical e harmonioso de José Martí. A fé no progresso do homem, na utilidade da virtude, a vocação pela justiça...

Qual foi o legado de Martí ao seu filho? Qual foi a herança que ele recebeu de seu pai, senão sua obra, seu pensamento? Mas, mais que isso, no dia primeiro de abril, alguns dias antes de Martí viajar à Cuba, e desembarcar aqui no dia 11, escreve uma carta ao seu filho e termina exortando-lhe, a José Francisco Martí Zayas Bazán, que fosse justo. E ele deixa isso ao seu filho, esse pedido de que fosse um homem justo. Isso é o que tentamos, a partir do Movimento, de cultivar em nossos jovens: o senso de justiça.

Os homens lutam, e tem sido assim historicamente, por pão e por direitos. Em Cuba, hoje em dia não é preciso lutar pelo pão, pois o pão o temos. Em Cuba, hoje não é preciso lutar por um grande grupo de direitos, foram já conquistados e já é realidade o exercício desses direitos pela cidadania, pelos cubanos. Em Cuba há que seguir lutando, para que não perdamos o pão e para que não perdamos os nossos direitos. Então seguimos lutando por pão e por direitos! Seguimos lutando pelo que já temos e pelo que devemos seguir tendo.

Então, poderia parecer que o Movimento, com suas caminhadas e caminhadas, com suas subidas de morros, rotas históricas, encontros entre gerações, intercâmbios nas universidades com os jovens, que é outra das coisas fundamentais, vamos com Martí às universidades, aos estudantes pré-universitários, aos técnicos, aos centros de educação técnico-profissional, aos bairros... Isso pode parecer algo sem sentido, sem valor. Mas, ao contrário, tem muito sentido e muito valor, pois deixamos o pequeno grão de compromisso pátrio, o pequeno grão de revolução, aquele pequeno grão de milho, mas é um grão de milho que tem valor, que sai de dentro de nós, desde o coração, desde o sentimento mais profundo de amor à Cuba, de amor à pátria, para compartilhá-lo com os demais, para que eles se sentem durante um segundo para refletir e sentir que são verdadeiramente cubanos e que tem que fazer por Cuba. Não apenas pensamos no Movimento, servimos também. Essa é a idéia: Pensar, pois pensar é servir. E aí está o principal dever dos homens, o de pensar por conta própria, mas com o fim de servir aos demais. "Faz algo de bom todos os dias em meu nome.", pede Martí a María Mantilla em uma de suas memoráveis cartas. Esse é o lema que o Movimento acolheu, o lema do Movimento Juvenil Martiano. "Faz algo bom todos os dias em meu nome."

Sobre o financiamento, perguntaram vocês. O financiamento está a cargo hoje da União de Jovens Comunistas, que é a organização de vanguarda juvenil em Cuba. Politicamente falando, é a fonte do Partido. Mas é também quem agrupa, a partir da atenção política propriamente dita, do acompanhamento, as organizações estudantis e movimentos juvenis. Então, o Movimento tem um orçamento, que a União de Jovens Comunistas lhe atribui para que realize suas atividades. Somos uma ferramenta fundamental, somos um dos braços armados da UJC em Cuba. E isso é algo muito grande, porque em Cuba não faz falta, e talvez muitos se perguntem, a partir da experiência que há em outros países, por que em Cuba não há um Ministério cujo papel seja a atenção aos jovens? Não nos faz falta. Em Cuba há uma União de Jovens Comunistas que não ocupa-se somente da atenção aos militantes da União de Jovens Comunistas, mas de todo o universo juvenil do país. Vejam a grandeza da unidade revolucionária em Cuba e de como a tradição histórica no país nos levou a isso, a ter uma organização política em Cuba, que é a organização que leva adiante a manutenção da República, mas que dirige sua política a atender todas as inquietudes, todas as preocupações dos jovens no país, das juventudes em Cuba. Há muitos jovens, com pensamentos diversos, com idéias distintas, com projeções também diferentes. Evidentemente, as coisas devem ser assim. Mas então existe essa organização que engloba, conduz e trata de articular de uma forma coerente as políticas para as juventudes. 

Pois bem, uma dessas arestas do trabalho da UJC é precisamente o Movimento Juvenil Martiano, que chega a todos os jovens, inclusive aqueles que são cubanos não nascidos em Cuba. Os cubanos que não nasceram em Cuba, que os temos hoje aqui, que estão estudando, que cursam distintos mestrados, que trabalham em Cuba, de uma forma não permanente, enfim, a todos esses jovens, e evidentemente a todos os jovens cubanos, até a idade de 35 anos, o Movimento pode chegar com todas estas propostas. Então, o financiamento se organiza por esse caminho, pelo orçamento que temos, que nos é atribuído pela UJC. 


Final da Parte II
28 de julho de 2014


Notas: 

1. Sabaneta é a cidade de origem de Hugo Chávez Frías. Coincidentemente, há uma cidade em Cuba com o mesmo nome e outra chamada Miraflores, mesmo nome do palácio de governo da Venezuela. 


Equipe do Fuzil contra Fuzil

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