domingo, 12 de junho de 2016

O plano de Estudos de Che Guevara - Carta de 1965

Carta de Che Guevara para Armando Hart Dávalos,
Dar-Es-Salaam, Tanzânia (4 / XII / 1965)

"Meu querido Secretário:

Quero parabenizá-lo pela oportunidade que te deram de ser Deus; Tem seis dias para isso. Antes que acabes e se sente a descansar (...) eu quero expor algumas ideiazinhas sobre a cultura de nossa vanguarda e de nosso povo em geral.

Neste longo período de férias, eu meti meu nariz na filosofia, coisa que há muito tenho planejado fazer. Tive minha primeira dificuldade: em Cuba nada foi publicado, se excluirmos os tijolos soviéticos que têm a desvantagem de não permitir que você pense; porque o partido fez isso para você e você deve digerir. Como método, é o mais antimarxista, mas também tendem a ser muito ruins. O segundo, e não menos importante, foi a minha ignorância da linguagem filosófica (lutei arduamente com o professor Hegel e no primeiro round me derrubou duas vezes). Por isso eu fiz um plano de estudos para mim, eu acho, pode ser estudado e melhorado muito para formar a base de uma verdadeira escola de pensamento; Já fizemos muito, mas um dia vamos ter que pensar também. O meu plano é de leituras, naturalmente, mas pode se adaptar a publicações em série da Editora Política.

Se você der uma olhada em suas publicações você vai ver a profusão de autores soviéticos e franceses que têm.

Isto é devido à comodidade na obtenção traduções e ao seguidismo ideológico. Assim não se dá cultura marxista ao povo, no máximo, a divulgação marxista, que é necessário, se a divulgação é boa (não é o caso), mas insuficiente.

Meu plano é o seguinte:

I Classicos Filosófos

II Grandes dialéticos e materialistas

III Filósofos modernos

IV Clássicos da economia e precursores

V Marx e pensamento marxista

VI Construção Socialista

VII Heterodoxos e capitalistas

VIII Polêmicas

Cada série tem independência uma da outro e pode ser desenvolvida como se segue:

I) Pega-se clássicos conhecidos e traduzidos para o espanhol adicionando um estudo preliminar sério de um filósofo, marxista se possível, e um grande vocabulário explicativo. Simultaneamente, se publica um dicionário de termos filosóficos e um pouco da história da filosofia. Talvez poderia ser Dennyk [Guevara refere-se a Dinnyk que liderou uma história da filosofia em cinco volumes] e a de Hegel. A publicação pode seguir uma ordem cronológica seletiva, ou seja, começar com um livro ou dois dos maiores pensadores e desenvolver a série de terminar nos tempos modernos, voltando ao passado com outros filósofos menos importantes e aumentando volumes dos mais representativos, etc.

II) Aqui você pode seguir o mesmo método geral, fazendo coleções de alguns dos antigos (tempo atrás eu li um estudo que foram Demócrito, Heráclito e Leucipo, feito na Argentina).

III) Aqui se publicariam os filósofos modernos mais representativos, acompanhados por estudos sérios e detalhados de gente entendida (não precisa ser de cubanos) com a crítica correspondente àquilo que corresponda às visões idealistas

V) [No original aparece o número IV riscado e corrigido como V, a carta explica-se, em seguida]. Isso já é feito, mas sem qualquer ordem e faltando obras fundamentais de Marx. Aqui seria necessário publicar as obras completas de Marx e Engels, Lenin, Stalin [sublinhado por Che no original] e outros grandes marxistas. Ninguém leu nada de Rosa Luxemburgo, por exemplo, que têm erros em sua crítica de Marx (Volume III), mas foi assassinada, e o instinto do imperialismo é superior ao nosso nesses aspectos. Também falta pensadores marxistas que logo deixaram a pista, como Kautsky e Hilfering (não se se se escreve assim) [Che refere-se ao marxista austríaco Rudolf Hilferding] que fez contribuições e muitos marxistas contemporâneos, não inteiramente escolásticos.

VI)  Construção socialista. Livros que tratam de problemas concretos, não só dos governantes atuais, mas no passado, fazendo perguntas sérias sobre as contribuições de filósofos e, acima de tudo, economistas ou estadistas.

VII) Aqui vêm os grandes revisionistas (se quiserem podem colocar Khrushchev), bem analisados, mais profundamente do que qualquer outros, e deveria estar o seu amigo Trotsky, que existiu e escreveu, aparentemente.

Além disso, grandes teóricos do capitalismo como Marshall, Keynes, Schumpeter, etc. Também discutidos exaustivamente com a explicação dos porquês.

VIII) .- Como o nome indica, este é o mais controverso, mas o pensamento marxista avançou assim. Proudhon escreveu Filosofia da Miséria e é conhecido pela existência da Miséria da Filosofia. A edição crítica pode ajudar a compreender o tempo e desenvolvimento do próprio Marx, que não tinha sido concluído ainda. Estariam aqui, Robertus e Dürhing naquele momento e, em seguida, os revisionistas e a grande polêmica do ano 20 na URSS, talvez o mais importante para nós.

Agora eu vejo que eu perdi um, então eu mudei a ordem (eu estou escrevendo muito rápido).

Seria o IV, Clássicos da Economia e precursores, onde faria a partir de Adam Smith, os fisiocratas, etc.

É um trabalho enorme, mas Cuba merece isso e eu acho que poderia tentar. Eu não te canso mais com essa conversa. Eu escrevi para você, porque o meu conhecimento dos atuais responsáveis pela orientação ideológica é pobre e, talvez, não seria prudente fazê-lo por outras considerações (não apenas pelo seguidismo, que também conta).

Bem, ilustre colega (por causa da filósofia), desejo-lhe sucesso.

Eu espero vê-lo no sétimo dia, um abraço aos abraçáveis, inclusive, de passagem, a sua cara e belicosa amizade.

R. [Ramon] "

[Rámon era o pseudônimo de Che durante o perído em que combateu na África e, posteriormente, na Bolívia]

Traduzido pela equipe do Fuzil contra Fuzil

sábado, 4 de junho de 2016

Mais uma vez a OEA - Declação do Ministério de Relações Exteriores de Cuba

Mais uma vez a OEA demonstra claramente, assim como fez nos primeiros anos da Revolução Cubana,  que serve aos interesses imperialista em Nossa América. Segue a Declaração do Ministério de Relações Exteriores de Cuba


A irmã República Bolivariana da Venezuela travou uma dura batalha diplomática e vitoriosa na Sessão Especial do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos, realizada na quarta-feira, primeiro de junho, contra o plano intervencionista do imperialismo e das oligarquias.

Também afirmou o princípio da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados e o direito destes de escolher, sem ingerências externas, seu sistema político, econômico e social consagrado na Proclamação da América Latina e do Caribe como Zona de Paz, assinada pelos Chefes de Estado e de Governo na Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, realizada em Havana, em Janeiro de 2014.

Surpreende a maneira histérica, torpe e anti-ética pela qual o Secretário-Geral da OEA tenta obstinadamente servir interesses obscuros.

O senhor Almagro agora tenta aplicar a Carta Democrática Interamericana, em particular o seu artigo 20º, supostamente destinada a lidar contra as rupturas ou alterações graves da ordem constitucional, que não foi invocada quando do golpe militar de 2002 contra o presidente Hugo Chávez, ou para condenar golpes ou tentativas de golpe nos últimos quinze anos têm sacudido a região, exceto em um caso em 2009 em que os Estados Unidos e algumas forças de direita fizeram uma forte resistência.

Para fazer isso, sem um mandato dos Estados-Membros, atribuindo a si mesmo prerrogativas que não tem, com a ajuda de elementos da oposição golpista venezuelana e outras personagens reacionárias e de reputação duvidosa, escreveu um relatório difamatório e intervencionista, em violação dos procedimentos, fazendo tal relatório público.

Tudo parecia servido para uma vitória fácil, mas o Secretário-Geral, os burocratas da OEA e seus mentores truculentos esqueceram de que não vivemos em 1962, quando, com a cumplicidade vergonhosa foi julgada e e condenada a Cuba socialista.

Fez a diferença o tom das discussões, fortes alegações de papel indecente do Secretário-Geral, as posições firmes dos países irmãos da ALBA-TCP, argumentos sereno daqueles que escolheram o diálogo, o respeito entre as nações e paz como regras da diplomacia, e a medida mas declarada resistência Caribenha contra o convite traiçoeiro contra a Venezuela.

O Ministério de Relações Exteriores considera que o ocorrido agora em Washington é mais uma prova de que a nossa América mudou, ainda que a OEA continue a ser um instrumento de dominação irreformável de dominação dos Estados Unidos sobre os povos da América Latina e do Caribe, e recorda a declaração do Presidente Raul Castro Ruz, em Dezembro de 2008, reiterada no recente VII Congresso do Partido Comunista de Cuba, quando parafraseando José Martí disse que "antes de que Cuba volte a OEA o mar do Norte se unirá ao mar do Sul e nascerá uma serpente de ovo da àguia".

À Revolução Bolivariana e chavista, solidária e generosa, ao Presidente Nicolás Maduro Moros, à união civico-militar e a seu bravo povo, reiteramos mais uma vez o apoio total do povo e do Governo Revolucionário de Cuba e nossa fé inabalável no triunfo de sua causa justa.

Ministério de Relações Exteriores

Havana, 02 de junho de 2016

Tradução equipe Fuzil contra Fuzil