sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Os 90 anos de Fidel Castro, o revolucionário real.


Em 13 agosto de 2016, Fidel Castro, o Comandante en Jefe da Revolução Cubana, completa 90 anos de vida

Fundamentalmente, aos que são jovens em nossos tempos e que conhecem um pouco da história, em um momento em que as agressões que sofrem os povos se multiplicam, quando a realidade nos impõe uma das maiores tarefas da história da humanidade, dar-se conta de que em nosso planeta, enquanto pensamos, escrevemos e lutamos, respira, vive e pensa, ao completar 90 anos, Fidel Castro Ruz é, sem dúvida, inspirador.
Fidel Castro, 15 de fevereiro de 1965.

Não porque se Fidel não estivesse fisicamente presente, como passaram e passarão a estar os grandes homens e mulheres da humanidade, seria menor sua capacidade de inspirar àqueles que almejam a honra de serem revolucionários.

Mas, porque, de forma bastante simples, o fato de Fidel permanecer por mais de 70 anos combatendo, das diversas formas, carregando fuzis, liderando seu povo, enfrentando o imperialismo, e o fato de hoje estar vivo, são capazes de nos fazer lembrar que os grandes líderes revolucionários são também homens de carne e osso, o que os torna muito mais impressionantes, muito mais reais e, paradoxalmente, seus feitos muito mais fantásticos. Saber que são homens de carne e osso nos impõe grandes responsabilidades.

É justamente essa realidade, essa materialidade de sua dedicação, que converte Fidel, como aos grandes homens e mulheres dos séculos, em exemplo a se seguir. Nem santos e nem filhos de deuses têm o poder que um homem de carne e osso tem para inspirar e impelir à luta.

Os líderes revolucionários reais não só impelem os bons ao combate, mas também assustam e atordoam aos opressores. Sua própria existência é uma constante advertência, um alerta: “Somos sim os homens e mulheres mais avançados que servem à causa dos povos, mas não somos filhos de milagres, frutos da predestinação do milênio ou do acaso, somos o simples resultado do desenvolvimento histórico da sociedade, das contradições que a luta de classes engendra. E, como nós, mais cedo ou mais tarde, muitos outros notarão as tarefas que tem de ser realizadas e arregaçarão suas mangas. Não estamos sozinhos, porque essa marcha é inevitável.”

E, dessa marcha inevitável faz parte Fidel Castro, homem de carne e osso, que tem sua própria história.

Nasceu no ano de 1926, em Birán, pequena cidade do oriente de Cuba. Filho de Ángel Castro Ruz, espanhol que era dono de terras e relativamente rico, Fidel foi alfabetizado muito cedo, pois tinha que acompanhar seu irmão mais velho à escola, ainda que não tivesse idade para frequentá-la. Logo, aos seis anos de idade, foi enviado à cidade de Santiago de Cuba para que estudasse em colégios de jesuítas.

Sua infância localiza-se em período de extremo conflito político na História de Cuba. O então sargento Fulgêncio Batista – o mesmo que seria derrubado pelo movimento liderado por Fidel 20 anos depois – já iniciava sua carreira como executor de golpes miltares, e, com apoio da embaixada dos Estados Unidos, em 1934, dissolvia, mediante os fuzis do exército, um governo fruto de lutas populares e composto por elementos nacionalistas, o Governo dos Cem dias.

Adiante, como homem forte dos Estados Unidos, Batista alternaria na cabeça do Estado representantes sob seu controle. Seria eleito presidente de Cuba em 1940, após ter, em um momento, realizado amplas perseguições e, em outro, acenado às anistias como tentativa de legitimar-se.

Em meio a tudo isso, a adolescência de Fidel seria como a de muitos outros de sua classe de origem, um tanto quanto desligada dos acontecimentos políticos, com maiores preocupações como a prática dos esportes e suas férias no campo.

Somente mais tarde suas inquietudes se fundiriam definitivamente a sua personalidade, como resultado de todo um processo de aprendizado. Processo no qual foi imprescindível sua disposição de abrir mão das ambições individualistas, típicas dos homens de sua classe e de seu entorno.

Em 1945, aos 19 anos, ingressou na Universidade, em Havana, como mais um entre tantos jovens, esportista, espirituoso, e sem qualquer experiência ou conhecimento político, exceto alguma intuição e certo sentido de justiça derivado daquele contato mais imediato com os trabalhadores no campo e a repressão aberta que a gente humilde sofria do exército.

Ao ingressar na universidade, Fidel era mais um.

“Tinha me matriculado na Escola de Direito, todos os dias eu tinha que sair para a Universidade, pegar ônibus, por vezes dois – pelo menos um sempre muito super-lotado , havia que pegá-los e descer de pressa, porque os ônibus jamais paravam, depois caminhava uns quantos quarteirões…”, como relata. (1)

Mas esse mais um, conscientemente, pouco a pouco, foi ingressando nas atividades estudantis, num local que guardava em sua História forte tradição de vínculo aos interesses das massas populares. Da Universidade haviam saído muitos daqueles que formaram o governo progressista derrubado por Batista, muitos dos que haviam lutado contra as oligarquias e ditaduras, além dos que combateram as intervenções norteamericanas e o colonialismo espanhol.

No entanto, a memória de tal tradição de lutas, às quais o jovem Fidel era simpático, encontrava realmente poucos herdeiros sinceros. A tradição estava esmorecida pelo tempo, pela politicagem e acomodação de certos partidos e políticos, que também se proliferavam no movimento estudantil. Além do mais, “era uma universidade burguesa e de pequenos burgueses, com muitos poucos jovens procedentes de classes trabalhadoras”. (2) Uma Universidade para as elites, como muitas na América Latina.

Do jovem filho de fazendeiro ao revolucionário, certamente, não foi um caminho fácil.

A primeira atividade pela qual Fidel teve contato com círculos amplos de estudantes não foi propriamente o trabalho de caráter político. Fazia algo muito mais simples: começou como um representante de turma que se dedicava com afinco.

“Acho que comecei a distinguir-me entre os restantes dirigentes da Escola de Direito porque peguei a trabalhar a sério; jamais pensei que seria ajudado com uma nota ou que faria articulações para que um aluno recebesse uma qualificação não merecida. Não se tratava de que exercesse influência no professor, mas sim que ajudasse os estudantes em questões práticas relacionadas com os estudos. (…) Minhas primeiras atividades foram desse tipo, não era um programa de reformas universitárias nem um programa político. Realizava uma série de serviços úteis aos estudantes. Não lhes dizia: 'votem em mim'”. (3)

E a seriedade desde as tarefas mais simples, a marca que seria seu caráter distintivo durante toda trajetória, fez que, pouco a pouco, encontrasse o reconhecimento de seus pares e avançasse na atividade política, sendo eleito como representante na Federação Estudantil Universitária, a FEU.

A partir daí, passou a ter contato maior com a política, aperfeiçoando seus conhecimentos e combatendo as práticas do governo que havia se instalado: a tão perversa quanto usual associação oligárquica e a corrupção institucionalizada predominante nos países atrasados, como era Cuba. Diferenciando-se dos envolvidos nas rixas partidárias, que beiravam ao gangsterismo, foi na universidade que se fez revolucionário.

Mas não como e por um passe de mágica, como se houvesse algo como uma revelação de um dom político ou de uma habilidade inata.

O que é verdadeiro e, paradoxalmente, muito mais incrível do que a explicação que beira ao místico, justamente por seu aspecto real, é o argumento oferecido pelo próprio Comandante. O que o formou como revolucionário nesse período foi sua sinceridade com aquilo que acreditava que merecia sua atenção. Foi sua consequência que fez que pegasse “a trabalhar em sério”. Trabalhar em sério, com disciplina e espírito de sacrifício, foi o que o fez revolucionário.

Foi o que fez com que, passo a passo, frente aos desafios que se impunham, o jovem Fidel fosse colocando sua própria capacidade a prova, não sem inúmeros riscos, como fizeram todos os grandes revolucionários, despindo-se em cada ação daqueles resquícios do individualismo próprio do meio de onde provinha.

Isso se ilustra, por exemplo, no fato de que, quando jovem, a atividade de Fidel não se resumiu a estar na oposição ao governo de seu país, nem de manter a posição confortável de acusador a distância. Demonstrava seu internacionalismo, ainda que não tivesse descoberto o marxismo. Notava a opressão comum e estava resolutamente ao lado dos povos latino-americanos.

Justamente por essa solidariedade – que não era só de palavras – Fidel, por meio de um comitê em solidariedade à República Dominicana, embarcou em uma expedição militar que objetivava derrubar o governo do ditador Trujillo. Aos 19 anos ingressava em sua primeira ação armada, porque levava as coisas a sério.

Pouco tempo depois, na Colômbia, organizaria um Congresso de Estudantes de toda América Latina, de cunho anti-imperialista, que coincidiu com as revoltas populares do bogotazo, quando do assassinato do candidato liberal à presidência do país, Jorge Eliecér Gaitán. Nessas revoltas, Fidel tomou parte ativa ao lado povo, juntando-se aos insurretos e combatendo. Tinha somente 21 anos.

Nesse meio do caminho, teria contato com o socialismo científico:

"As ideias do marxismo-leninismo caíram em mim como água no deserto." (4)

Desses acontecimentos ao seu trabalho como advogado na defesa desinteressada daqueles que o solicitavam; a sua resistência ao segundo golpe de Batista; ao Assalto ao Quartel Moncada; ao Desembarque do Granma; à luta na Sierra; à tomada do poder; ao combate da invasão mercenária de Girón; à posição abnegada durante a Crise dos Mísseis; à consolidação do socialismo em Cuba; à mobilização do povo em todos os momentos; à resistência no dificílimo período da queda da URSS, nota-se que Fidel forjou a si próprio em grandes combates, com o espírito que lhe é característico e que tem sua força aglutinadora. Nota-se que há algo em seu exemplo que deve ser seguido, que é universal na conduta dos revolucionários: a capacidade de doar-se, oferecendo a própria vida à causa de seu povo, a todo momento, seriamente.

Espírito tão bem sintetizado por Guevara:

“E se nós estamos hoje aqui e a Revolução Cubana está hoje aqui, é, simplesmente, porque Fidel entrou primeiro no Moncada, porque desceu primeiro do Granma, porque esteve primeiro na Sierra, porque foi à Playa Girón em um tanque, porque quando havia uma inundação houve até briga porque não o deixaram entrar… porque tem como ninguém em Cuba, a qualidade de ter todas as autoridades morais possíveis para pedir qualquer sacrifício em nome da Revolução.(5)

Mas Fidel não é um mito, é um homem real. E, dessa forma – ainda que seja comparável aos mitos, porque muitos de seus feitos não encontram qualquer desvantagem frente ao que é atribuído às figuras mais incríveis e heróicas das epopéias –, por ser homem de carne e osso, é muito maior do que todas essas figuras somadas. É maior porque é o que há de mais humano, porque respira e atua como humano, porque, por ser humano, como diz Guevera, “tem a qualidade de ter todas autoridades morais possíveis para pedir qualquer sacrifício em nome da Revolução”, porque é a prova cabal de que os homens podem realizar obras colossais.

Fidel é o homem de carne e osso que arregaçou suas mangas colocando-se a trabalhar seriamente pela causa dos povos durante mais de 70 anos. Justamente por isso, por sua seriedade de combatente incansável e leal, não só provoca calafrios nas classes dominantes, como seu exemplo conclama, a todo instante, homens e mulheres dos diversos cantos do planeta a que sirvam integralmente à causa das classes exploradas.

Os povos do mundo não poderiam ter melhor inspiração.

Equipe do Fuzil contra Fuzil.

Notas:
(1)  “Fidel Castro Ruz, Guerrilheiro do Tempo – Conversações com o líder histórico da Revolução Cubana”(2012), Katiuska Blanco Castiñera, Rio de Janeiro, Editora Ebendinger, Livro I, p.270.
(2) – Ibidem, p. 303.
(3) – Ibidem, p. 303.
(4)  Ibidem, p. 448.
(5) – “El Che en Fidel Castro, Selección temática 1959-1997” (2007), Havana, Editoria Política, p. 205-206.

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