sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A história não contada que Obama quer nos fazer esquecer

Em 1949, Marines ianques urinam em uma estátua de Martí.
Em março de 2016, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteve em Cuba e afirmou que estadunidenses e cubanos deveriam esquecer o passado de relações conturbadas entre ambos os países [itálico]. Ao povo cubano é impossível apagar de sua história as interferências ianques.

Nos últimos tempos tem se incrementado a tendência para distorcer a história de Cuba, especialmente antes de 1959. Por exemplo, na Enciclopédia Wikipedia, Fulgêncio Batista era um militar, político e ditador; mas em nenhum lugar é dito que ele era um criminoso envolvido no assassinato e desaparecimento de milhares de cubanos com a cumplicidade do governo dos EUA. A natureza desta personagem foi muito bem identificada pelo líder da Revolução cubana, Fidel Castro, em sua defesa histórica "História me absolverá", quando disse de Batista: "Dante dividiu seu Inferno em nove círculos: colocou no sétimo criminosos, colocou no oitavo ladrões e colocou no nono traidores. Seria um dilema difícil que os demônios teriam de enfrentar para encontrar um local adequado para a alma deste homem ... se esse homem tivesse uma alma!"

Pretende-se vender para a juventude cubana e de outros países a ideia de que Cuba pré-revolucionária era um paraíso, quando na realidade era o oposto em todos os sentidos. Dados refletidos no livro "Por que a Revolução Cubana?", Publicado pela Editorial Capitan San Luis demonstram que durante o governo de Batista Cuba viveu um clima de terror como nunca antes em sua história republicana.

"Eram utilizados ​​instrumentos para remover os olhos, unhas, aguilhões elétricos, chicotes, varas para quebrar ossos, um arsenal de crimes, mostrando a selvageria sem precedentes de homens que o serviam.

"A juventude universitária levantou um forte protesto contra a ditadura e pagou com a vida e sangue generoso. Ela lutou duramente contra as forças repressivas do exército. O resultado foi cabeças quebradas, braços quebrados, camisas manchadas de sangue e morte de muitos jovens.

"Cadáveres apareciam jogados em números cada vez maiores, em áreas desertas, em estradas, pendurados nas árvores ou simplesmente abandonados, com sinais de tortura, em qualquer lugar público. Centenas deles seriam enterrados sem uma certidão de óbito. Algumas vítimas da repressão permaneciam nas geladeiras do necrotério por várias semanas e mais tarde eram enterrados em uma cova especial no cemitério de Columbus, no grupo de indigentes.

"Em 1956, o governo de Batista suprime o escasso apoio financeiro ao Ballet de Cuba, e insere Alicia Alonso num registro no Bureau de Repressão das Atividades Comunistas (BRAC) e do Serviço de Inteligência Militar (SIM), nos dois corpos mais repressivos do regime".

Na ordem socioeconômica, 85% dos pequenos agricultores cubanos pagavam rendas e viviam sob a constante ameaça de desapropriação de suas terras; mais da metade das melhores terras produtivas estavam em mãos estrangeiras; 90% das crianças rurais eram devoradas por parasitas; a capital, com 22% da população, tinha 65% dos médicos; além disso, havia apenas um hospital rural com apenas 10 camas e nenhum médico; acesso aos hospitais, que eram sempre cheios, só era possível através da recomendação de um político que exigia ao infeliz seu voto e toda sua família; a mortalidade infantil era de mais de sessenta mortes por mil nascidos vivos; 23,6% da população acima de 10 anos era analfabeta e havia mais de um milhão de pessoas que não sabiam ler e escrever; nas escolas públicas de 100 crianças que se inscreviam apenas 6 atingiam o sexto grau e mais de dez mil professores estavam desempregados. [1]

Nunca na história do Estado foi visto tamanho apoio ao jogo como o dado por Batista. O próprio Estado foi o principal impulsionador do vício, e sustentava a Loteria Nacional e jogo ilegal; as arrecadações do jogo chegaram a penetrar no Palácio Presidencial. O tirano controlava os recebimentos de jogos clandestina e apostas ilegais, recebendo cerca de 730.000 pesos por isso.

O governo dos Estados Unidos da época fazia entregas importantes de armas e equipamentos militares para que a ditadura de Batista reprimisse o povo cubano. Em fevereiro de 1955, Batista recebeu o vice-presidente americano Richard Nixon e em abril do mesmo ano, o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), Allan Dulles, que representou um endosso do governo dos EUA ao regime repressivo de Batista.

O Presidente Obama pretende que os cubanos se esqueçam do estado de coisas para que voltem, talvez, multiplicadas. Mas ele está errado, a juventude deste país sabe muito bem o que significa em termos de soberania e independência apagar a memória histórica. Um amigo septuagenário que viveu em primeira mão as calamidades que existiam antes de 1959 disse-me recentemente que tem certeza que as futuras gerações nunca permitirão que se repitam cenas como aquelas daqueles fuzileiros navais dos EUA, que, em 1949, urinaram na estátua do herói nacional cubano, José Martí, localizado no parque central de Havana. Muitos jovens, dentre os quais se incluia o então jovem estudante de direito, Fidel Castro, fizeram um ativo protesto em frente da embaixada norte-americana. Cinismo ou ignorância do presidente que há alguns dias nos pediu-nos a esquecer o passado?


Tradução equipe Fuzil contra Fuzil

De abril de 2016, por Omar Perez Solomon, na Pupila Insomne.

Nota:

[1] "Por que a Revolução Cubana?". Editorial Capitan San Luis. Havana, de 2010.

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