terça-feira, 19 de abril de 2016

O povo de Cuba vencerá - Fidel Castro Ruz

No encerramento do 7º Congresso do Partido Comunista de Cuba.

Fidel Castro Ruz, no encerramento do 7º Congresso.
"É um esforço sobre-humano dirigir qualquer povo em tempos de crise. Sem eles[os dirigentes], as mudanças seriam impossíveis. Em uma reunião como esta, aos mais de mil representantes escolhidos pelo próprio povo revolucionário, que a eles delegou sua autoridade, significa  a maior honra que receberam na vida, e a isso se soma o privilégio de ser revolucionário que é o resultado de nossa própria consciência.

Por que eu me tornei um socialista, de forma mais clara, por que eu me tornei um comunista? Essa palavra que expressa o conceito mais distorcido e caluniado da história por aqueles que tiveram o privilégio de explorar os pobres, despossuídos uma vez que eles foram privados de todos os bens materiais que proporcionam o trabalho, talento e energia humana. Desde quando o homem vive neste dilema, ao longo do tempo, sem limite. Eu sei que vocês não precisam  dessa explicação, mas talvez alguns dos ouvintes.

Falo simplesmente para que se compreenda melhor que não sou ignorante, extremista, ou cego, ou que não adquirida a minha ideologia por conta própria estudando economia.

Eu não tive preceptor, quando era um estudante de direito e ciência política, naquelas em que eles tem um grande peso. Desde que tinha ao redor de 20 anos, gostava de esportes e de escalar montanhas. Sem preceptor para me ajudar no estudo do marxismo-leninismo; não era mais do que um teórico e, é claro, tinha total confiança na União Soviética. A obra de Lenin seria ultrajada após 70 anos de revolução. Que aula de história! Podemos dizer que não devem transcorrer outros 70 anos para que ocorra outro evento como a Revolução Russa, para que a humanidade tenha outro exemplo de uma grande Revolução Social, [como a] que significou um grande passo na luta contra o colonialismo e seu ajudante, o imperialismo .

Talvez, no entanto, o maior perigo agora pairando sobre a terra deriva do poder destrutivo das armas modernas que poderia minar a paz no mundo e tornar impossível a vida humana na superfície terrestre.

As espécies desapareceriam como os dinossauros desapareceram, talvez não haveria tempo para novas formas de vida inteligente ou talvez o calor do sol cresça até fundir todos os planetas do sistema solar e seus satélites, como muitos cientistas reconhecem. Se certas, as teorias de vários deles, que não são leigos ignorantes, o homem prático deve aprender mais e se adaptar à realidade. Se a espécie sobrevive a um espaço de tempo muito maior, as gerações futuras saberão muito mais do que nós, mas primeiro terão que resolver um grande problema: Como alimentar os milhares de milhões de seres humanos cujas realidades inevitavelmente colidem com os limites para a água e os recursos naturais que necessitam?

Alguns ou talvez muitos de vocês se perguntem onde está a política neste discurso. Acreditem, eu tenho vergonha de dizer isso, mas a política está aqui nestas palavras moderadas. Esperemos que muitos humanos se preocupem com essas realidades e não continuem como nos dias de Adão e Eva a comer maçãs proibidas. Quem vai alimentar as pessoas famintas da África sem a tecnologia na ponta dos dedos, sem chuva, sem barragens, sem depósitos subterrâneos cobertos por areias? Veremos o que dizem que os governos que  quase em sua totalidade subscreveram os compromissos climáticos.

Devemos martelar constantemente sobre estas questões e eu não quero me extender além do essencial.

Devo, em breve, cumprir 90 anos, eu nunca teria pensado em tal ideia e isso nunca foi o resultado de um esforço, foi capricho da sorte. Logo serei, já como todos os demais. A todos nós chegará nossa vez, mas ficaram as idéias dos comunistas cubanos como prova de que neste planeta, se você trabalha com fervor e dignidade, é possível produzir os bens materiais e culturais que os seres humanos necessitam, e nós devemos lutar incansavelmente para obtê-los. Para nossos irmãos da América Latina e do mundo, devemos transmitir que o povo cubano vencerá.

Talvez seja a última vez fale nesta sala. Eu votei em todos os candidatos apresentados para consulta pelo Congresso e agradeço ao convite e a honra de que me escutem. Felicito a todos, e, em primeiro lugar, ao companheiro Raul Castro por seu magnífico esforço.

Empreenderemos a marcha e aperfeiçoaremos o que devemos melhorar, com a máxima lealdade e força unida, como Martí, Maceo e Gómez em marcha imparável."

Fidel Castro Ruz

19 de abril de 2016.

Tradução Equipe Fuzil contra Fuzil

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Ernesto Che Guevara na 19ª Assembléia Geral da ONU, 1964 - Parte II

Reproduzimos abaixo a parte II do histórico discurso de Ernesto Che Guevara na Assembleia das Nações Unidas. Antes de prosseguir, Leia a Parte I.

"(...)
Tocaremos somente os temas sobre desenvolvimento econômico e comércio internacional que tem ampla representação na agenda. Neste mesmo ano de 64 se celebrou a Conferência de Genebra, onde se tratou de muitos pontos relacionados a estes aspectos das relações internacionais. As advertências e previsões da nossa delegação foram confirmadas plenamente, para a desgraça dos países economicamente dependentes.

Só queremos deixar assinalado que, no que respeita a Cuba, os Estados Unidos da América não tem cumprido recomendações explícitas desta Conferência e, recentemente, o governo norte-americano proibiu também a venda de remédios a Cuba, caindo definitivamente a máscara do humanitarismo que pretendeu ocultar o caráter agressivo que tem o bloqueio contra o povo de Cuba.

Por outra parte, expressamos uma vez mais que as cicatrizes coloniais que detêm o desenvolvimento dos povos não se expressam somente nas relações de índole política: a chamada deterioração dos termos de troca não é outra coisa que o resultado do intercâmbio desigual entre os países produtores de matéria-prima e os países industriais que dominam os mercados e impõe a aparência de uma justa troca de iguais valores.

Enquanto os povos economicamente dependentes não se liberarem dos mercados capitalistas e, em firme bloco com os países socialistas, liberarem as impostas relações entre exploradores e explorados, não haverá desenvolvimento econômico sólido, e se retrocederá, em certas ocasiões, voltando a cair os países débeis sob o domínio político dos imperialistas e colonialistas.

Por último, Senhores Delegados, temos que estabelecer claramente que se está realizando na área do Caribe manobras e preparativos para agredir a Cuba. Nas costas da Nicarágua sobretudo, na Costa Rica também, na zona do Canal do Panamá, nas ilhas Vieques de Porto Rico, na Florida; provavelmente, em outros pontos do território dos Estados Unidos e, talvez, também nas Honduras, estão treinando mercenários cubanos e de outras nacionalidades com algum fim que não deve ser o mais pacífico.

Depois de um escândalo estrondoso, o governo da Costa Rica afirma que ordenou a liquidação de todos os campos de treinamento de cubanos exilados neste país. Ninguém sabe se esta atitude é sincera ou se constitui uma simples desculpa, devido a que os mercenários ali treinados estavam a ponto de cometer alguma crueldade. Esperamos que se tome clara consciência da existência real destas bases de agressão, que estamos denunciando há tanto tempo, e se medite sobre a responsabilidade internacional que tem o governo de um país que autoriza e facilita o treinamento de mercenários para atacar Cuba.

É preciso notar que as notícias sobre o treinamento de mercenários em distintos pontos do Caribe e a participação que tem em tais atos o governo norte-americano se dá com naturalidade nos periódicos estadunidenses. Não sabemos de nenhuma voz latino-americana que protestou oficialmente por isto. Isto só nos mostra o cinismo com que maneja os Estados Unidos os seus piões. Os perspicazes conselheiros da OEA que tiveram olhos para ver escudos cubanos e encontrar provas "irrefutáveis" nas armas ianques exibidas na Venezuela, não conseguem ver os preparativos de agressão que se mostram nos Estados Unidos, como não ouviram a voz do presidente Kennedy que se declarava explicitamente agressor de Cuba em Playa Girón(7).

Em alguns casos é uma cegueira provocada pelo ódio das classes dominantes de países latino-americanos sobre nossa Revolução; em outros, mais tristes ainda, é produto dos deslumbrantes resplendores de Mamon.

Como é de todos conhecido, depois da tremenda comoção chamada crise do Caribe, os Estados Unidos contraíram com a União Soviética determinados compromissos que culminaram na retirada de certos tipos de armas que as contínuas agressões daquele país - como o ataque mercenário de Playa Girón e as ameaças de invadir nossa pátria - nos obrigaram a instalar em Cuba em um ato de legítima e irrenunciável defesa.

Pretenderam os norte-americanos, além disso, que as Nações Unidas inspecionassem nosso território, coisa que negamos enfaticamente, já que Cuba não reconhece o direito dos Estados Unidos, nem de ninguém no mundo, de determinar que tipo de armas que pode ter dentro de suas fronteiras.

Neste sentido, só aceitaríamos acordos multilaterais, com iguais obrigações para todas as partes.

Como já disse Fidel Castro: "Enquanto o conceito de soberania exista como prerrogativa das nações e dos povos independentes; como direito de todos os povos, nós não aceitamos a exclusão do nosso povo deste direito. Enquanto o mundo for regido por estes princípios, enquanto o mundo for regido por esses conceitos que tenham validez universal, porque são universalmente aceitados e consagrados pelos povos, nós não aceitaremos que nos privem de nenhum destes direitos, nós não renunciaremos a nenhum destes direitos".

O senhor Secretário-Geral das Nações Unidas, U Thant, entendeu nossas razões. Entretanto, os Estados Unidos pretenderam estabelecer uma nova prerrogativa arbitrária e ilegal: a de violar o espaço aéreo de qualquer país pequeno. Assim estão cruzando o ar de nossa pátria, aviões U-2 e outros tipos de aparatos de espionagem que, com toda impunidade, navegam em nosso espaço aéreo. Temos feito todas as advertências necessárias para que cessem as violações aéreas, assim como as provocações que a marinha ianque fazem contra nossos postos de vigilância na zona de Guantánamo, os voos rasantes de aviões sobre nossos navios ou de outras nacionalidades em águas internacionais, os ataques piratas a barcos de distintas bandeiras e as infiltrações espiãs, sabotadoras e armas em nossa ilha.

Nós queremos construir o socialismo; temos declarado ser partidários dos que lutam pela paz; temos nos declarado dentro do grupo de países não alinhados, a pesar de sermos marxistas-leninistas, porque os não-alinhados, como nós, lutam contra o imperialismo. Queremos paz, queremos construir uma vida melhor para nosso povo e, por isto, nos resguardamos ao máximo para não cair nas provocações maquinadas pelos ianques, ainda que conheçamos a mentalidade de seus governantes; querem nos fazer pagar muito caro o preço desta paz. Nós contestamos que este preço não pode chegar mais além das fronteiras da dignidade.

E Cuba reafirma, uma vez mais, o direito a ter seu território as armas que lhe convir e sua negativa a reconhecer o direito de nenhuma potência da terra, por potente que seja, de violar nosso solo, nossas águas jurisdicionais e nosso espaço aéreo.

Se em alguma assembleia Cuba adquire obrigações de caráter coletivo, cumprirá estas fielmente; enquanto isto não aconteça, manteremos plenamente todos nossos direitos, igualmente a qualquer outra nação.

Ante as exigências do imperialismo, nosso Primeiro Ministro propôs cinco pontos necessários para que exista uma sólida paz no Caribe. Estes pontos são:

"Primeiro: que cesse o bloqueio econômico e todas as medidas de pressão comercial e econômica que exercem os Estados Unidos em todas as partes do mundo contra o nosso país.

Segundo: que cesse todas as atividades subversivas, lançamento e desembarque de armas e explosivos pelo ar e pelo mar, organização de invasões de mercenários, infiltração de espiões e sabotadores; todas estas ações, que se leva a cabo desde o território estadunidense e de alguns países cúmplices.

Terceiro: que cesse todos os ataques piradas que se levam a cabo desde as bases existentes nos Estados Unidos e em Porto Rico.

Quarto: que cesse todas as violações do nosso espaço aéreo e naval por aviões e navios de guerra norte-americanos.

Quinto: Retirada da Base Naval de Guantánamo(8) e a devolução do território Cubano ocupado pelos Estados Unidos". Não se cumpriu nenhuma destas exigências elementares, e desde a Base Naval de Guantánamo, continuam a importunar nossas forças. Dita Base se converteu em uma guarita de malfeitores e catapulta de introdução destes em nosso território.

Cansaríamos esta Assembleia se fizéssemos um relato medianamente detalhado da multiplicidade de provocações de todo tipo. Basta dizer que o número delas, incluídos os primeiros dias deste mês de dezembro, alcançam a cifra de 1.323, somente em 1964.

A lista abarca provocações menores, como a violação da linha divisória, lançamento de objetos desde o território controlado pelos norte-americanos, realização de atos de exibicionismo sexual pelos norte-americanos de ambos os sexos, ofensas de palavra; outros de caráter mais grave como disparos de armas de pequeno calibre, manipulação de armas apontando para o nosso território e ofensas a nossa bandeira nacional; provocações gravíssimas são: o cruzamento da linha divisória provocando incêndios em instalações do lado cubano e disparos com fuzis, feito repetido 78 vezes durante o ano, com o saldo doloroso da morte do soldado Ramón López Peña, resultado de dois disparos efetuados pelo posto norte-americanos situados a 3,5 quilômetros da costa pelo limite noroeste. Esta gravíssima provocação foi feita às 19:07, do dia 19 de julho de 1964, e o Primeiro Ministro de nosso governo manifestou-se publicamente, em 26 de julho, que se repeti-se o ato, seria dado ordem às nossas tropas de repelir a agressão. Simultaneamente, se ordenou a retirada das linhas avançadas das forças cubanas até posições mais distantes da divisória e da construção de casamatas(9) adequadas.

"A Conferência advertindo com preocupação que as bases militares estrangeiras constituem, na prática, um meio de exercer pressão sobre as nações, e entorpecer sua emancipação e seu desenvolvimento, segundo suas concepções ideológicas, políticas, econômicas e culturais, declara que apoia sem reserva aos países que tratam de lograr a supressão das bases estrangeiras estabelecidas em seu território e pede a todos os Estados a imediata evacuação das tropas e bases que tem em outros países.

A Conferência considera que a manutenção pelos Estados Unidos da América de uma base militar em Guantánamo (Cuba), contra a vontade do Governo e do povo de Cuba, e contra as disposições da Declaração da Conferência de Belgrado, constitui uma violação da soberania e da integridade territorial de Cuba.

A Conferência, considerando que o governo de Cuba se declara disposto a resolver seu litígio com o Governo dos Estados Unidos da América acerca da base de Guantánamo em condições de igualdade, pede encarecidamente ao Governo dos Estados Unidos que inicie negociações com o governo de Cuba para evacuar essa base".

O governo dos Estados Unidos não respondeu a esta instância da Conferência do Cairo e pretende manter indefinidamente ocupado pela força um pedaço do nosso território, desde o qual leva a cabo agressões como as detalhadas anteriormente.

A Organização dos Estados Americanos também chamada pelos povos de Ministério das Colônias norte-americanas, nos condenou "energicamente", mesmo depois de já ter nos excluído de seu seio, ordenando aos países membros que rompam relações diplomáticas e comerciais com Cuba. A OEA autorizou a agressão ao nosso país, em qualquer momento, sob qualquer pretexto, violando as mais elementares leis internacionais e ignorando por completo a Organização das Nações Unidas.

Àquela medida se opuseram com seus votos os países Uruguai, Bolívia, Chile e México; e se opôs a cumprir a sanção, uma vez aprovada, o governo dos Estados Unidos Mexicanos; desde então não temos relações com países latino-americanos, salvo com o México, cumprindo-se assim uma das etapas prévias da agressão direta do imperialismo.

Queremos aclarar, uma vez mais, que nossa preocupação pela América Latina está embasada nos laços que nos unem: a língua que falamos, a cultura que sustentamos, o patrão comum que tivemos. Que não nos anima qualquer outra causa como a libertação da América Latina sobre o julgo colonial norte-americano. Se alguns dos países latino-americanos aqui presentes decidirem restabelecer relações com Cuba, estaríamos dispostos a fazê-lo sobre estas bases de igualdade e não com o critério de que é uma dádiva ao nosso governo o reconhecimento como país livre do mundo, porque este reconhecimento nós obtemos com nosso sangue nos dias de luta pela libertação, nós adquirimos com sangue em defesa de nossas praias frentes a invasão ianque.

Ainda quando nós rechaçamos que se nos pretendam atribuir ingerências nos assuntos internos de outros países, não podemos negar nossa simpatia pelos povos que lutam por sua libertação e devemos cumprir com a obrigação do nosso governo e nosso povo de expressar contundentemente ao mundo que apoiamos moralmente e nos solidarizamos com os povos que lutam em qualquer parte do mundo para fazer realidade os direitos de soberania plena proclamados na Carta das Nações Unidas.

Os Estados Unidos invadem; estão fazendo isso historicamente na América. Cuba conhece desde os fins do século passado esta verdade, assim como conhece também Colômbia, Venezuela, Nicarágua e a América Central de modo geral, México, Haiti, Santo Domingo.

Em anos recentes, além do nosso povo, conhecem a agressão direta o Panamá, onde a "marinha" do Canal atirou aos montes contra o povo desamparado; Santo Domingo, cujas costas foram violadas pela frota ianque para evitar o estrondo da justa ira popular, logo após o assassinato de Trujillo; e Colômbia, cuja capital foi tomada por assalto por motivo da rebelião provocada pelo assassinato de Gaitán.

Se produzem intervenções facilitadas por intermédio das missões militares que participam a repressão interna, organizando as forças destinadas a este fim em um bom número de países, e também em todos os golpes de estado, também chamados de "gorilazos", que tantas vezes se repetiram no continente americano durante os últimos tempos.

Concretamente, interviram forças dos Estados Unidos na repressão dos povos da Venezuela, Colômbia e Guatemala, que lutam com as armas pela sua liberdade. No primeiro destes países, não só assessoram o exército e a polícia, como também dirigem os genocídios efetuados desde o ar contra a população campesina de amplas regiões insurgentes e, as companhias ianques instaladas ali, fazem todo tipo de pressões para aumentar a ingerência direta.

Os imperialistas se preparam para reprimir aos povos americanos e estão formando a associação internacional do crime. Os EUA intervém na América invocando a defesa de suas instituições livres. Chegará o dia em que esta Assembleia adquirirá ainda mais amadurecimento e demandará ao governo norte-americano garantias para a vida da população negra e latino-americana que vive neste país, norte-americanos de origem ou adotivos, a maioria deles. Como pode se reconhecer como agentes da liberdade quem assassina aos seus próprios filhos e os discrimina diariamente pela cor da pela, quem deixa em liberdade aos assassinos de negros, os protege, e ainda castiga à população negra por exigir o respeito aos seus legítimos direitos de homens livres?

Compreendemos que hoje a Assembleia não está em condições de demandar explicações sobre isso, mas deve deixar claramente assentado que o governo dos Estados Unidos não é agente da liberdade, senão perpetuador da exploração e da opressão contra os povos do mundo e contra boa parte de seu próprio povo.

Na linguagem ambígua com que alguns delegados estão desenhando o caso de Cuba e a OEA, nós contestamos com palavras contundentes e proclamamos que os povos da América cobrarão aos governos entreguistas essa traição.

Cuba, senhores delegados, livre e soberana, sem algemas que a prendem a ninguém, sem intervenções estrangeiras em seu território, se pró-consulês que orientem sua política, pode falar à frente desta Assembleia e demonstrar a justeza da frase com que foi batizada: "Território Livre da América".

Nosso exemplo frutificará a todo o Continente como já o faz em certa medida na Guatemala, na Colômbia e na Venezuela.

Não há inimigo pequeno nem força desdenhável, porque já não há povos isolados. Como estabelece a Segunda Declaração de Havana: "Nenhum povo da América Latina é débil, porque forma parte de uma família de duzentos milhões de irmãos que padecem das mesmas misérias, acolhem os mesmos sentimentos, tem o mesmo inimigo, sonham todos um mesmo melhor destino e contam com a solidariedade de todos os homens e mulheres honrados do mundo.

Esta epopeia que temos a nossa frente vai ser escrita pelas massas esfomeadas de índios, de camponeses sem terra, de operários explorados; vai ser escrita pelas massas progressistas, pelos intelectuais honestos e brilhantes que tanto abundam em nossas sofridas terras da América Latina. Luta em massa e de ideias, epopeia que levarão para frente nossos povos maltratados e depreciados pelo imperialismo, nossos povos desconhecidos até hoje, que já começaram a despertar do sono. Nos consideram um rebanho impotente e submisso e já se começa a assustar este rebanho, rebanho gigante de duzentos milhões de latino-americanos que os adverte já seus coveiros, o capital monopolista ianque.

A hora de sua reivindicação, na hora em que esta mesma foi escolhida, vem sendo passada com precisão de um extremo ao outro do Continente. Agora esta massa anônima, esta América de cor, sombria e taciturna, que canta em todo Continente com uma mesma tristeza e decepção, agora esta massa é a que começa a entrar definitivamente em sua própria história, começa a escrever com seu sangue, começa a sofrer e a morrer, porque agora os campos e as montanhas da América, pelas encostas das suas serras, pelas planícies e pelas selvas, entre a solidão e o tráfico das cidades, nas costas dos grandes oceanos e rios, se começa a estremecer este mundo cheio de corações com punhos quentes de desejos de morrer pelo seu, de conquistar seus direitos quase quinhentos anos burlados por uns e outros. Agora sim, a história terá que contar com os pobres da América, com os explorados e vilipendiados, que tem decidido começar a escrever por si próprios, para sempre, sua história. Já os vemos pelos caminhos dia a dia, a pé, em marchas sem término de centenas de quilômetros, para chegar até os "olímpicos" governantes reivindicar seus direitos. Já os vemos, armados de pedras, de paus, de machados, aqui e acolá, cada dia, ocupando terras, afincando suas foices nas terras que lhes pertencem e defendendo-as com suas vidas; já vemos levando seus cartazes, suas bandeiras, suas consignas; fazendo-as correr com o vento, por entre as montanhas ou ao longo das planícies. E esta onda de estremecido rancor, de justiça reclamada, de direito pisoteado, que se começa a levantar por entre as terras latino-americanas, esta onda já não parará mais. Esta onda irá crescer cada dia que passe. Porque esta onda é formada pela maioria, pela maioria em todos os aspectos, pelos que acumulam com seu trabalho as riquezas, criam os valores, fazem andar as rodas da história e que agora despertam do longo sonho embrutecedor que foram submetidos.

Porque esta grande humanidade disse: "Basta!", e se atreveu a andar. E em sua marcha, de gigantes, não irá parar até conquistar a verdadeira independência, na qual já foram mortos mais de uma vez inutilmente. Agora, em todo caso, os que morrem, morrerão como os de Cuba, os de Playa Girón, morrerão por sua única, verdadeira e irrenunciável independência."

Tudo isso, Senhores Delegados, esta disposição nova de um continente, da América, está plasmada e resumida no grito que, dia a dia, nossas massas proclamam como expressão irrefutável de sua decisão de luta, paralisando a mão armada do invasor. Proclama que conta com a compreensão e o apoio de todos os povos do mundo e especialmente, do campo socialista, encabeçado pela União Soviética.

Essa proclama é: Pátria ou Morte!"

Periódico Revolución, 12 de dezembro de 1964.
Tradução equipe Fuzil contra Fuzil


NOTAS (Parte II):
(7) Playa Girón é uma praia na Baía dos Porcos em Cuba onde em 1961 apoiados e armados pelo governo norte-americano, cerca de 1500 mercenários invadiram Cuba na tentativa de retirar o governo revolucionário cubano. Com grande apoio das massas e um ímpeto revolucionário incrível dos soldados cubanos a guerrilha foi neutralizada e seus participantes julgados. O evento foi também denunciado amplamente por Cuba e demonstrou na prática como não se pode confiar no imperialismo ianque “nem um tantinho assim”, como disse Che Guevara.
(8) Ainda existe de maneira arbitrária e de maneira contrária ao direito internacional o controle do território de Guantánamo por parte do governo dos Estados Unidos.
(9) Casamata são fortificações militares, geralmente subterrâneas, a prova de bombardeios, para guarda e proteção estratégica de um posto militar e afins.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Vilma Espín, paradigma para as mulheres cubanas


Vilma, na Serra, durante sua juventude; e já idosa, quando ocupava
a presidência de Federação de Mulheres Cubanas
Qualidades humanas formadas por preceitos familiares, sentido de justiça, rejeição à mentira, ao banal e ao superficial, (1) caracterizam Vilma Espín Guillois, que nasceu em Santiago de Cuba exatamente há 86 anos, em 7 de abril de 1930. Frente à situação social, apesar de sua vida cômoda, repudiou o que via, perguntando-se “por que há pedintes na rua?”, “Como resolver isso?”
Iniciou a carreira de Engenheira Química em 1948, na Universidade do Oriente, coincidindo com as lutas pela oficialiazação de um financiamento estatal, atividades em que esteve presente. Se filiou à Federação Estudantil Universitária do Oriente (FEUO) e não deixou de somar-se as mais variadas jornadas de protestos convocados (3).

Com o golpe de Estado de 1952, que violou a Constituição, e a derrota do Partido do Povo Cubano (Ortodoxo), aflora seu ideal de acabar com a tirania, considerando o ocorrido como uma ofensa pessoal. Dessa forma, participou de diversas ações de oposição junto com outros estudantes e se integrou a geração que mobilizou seu pensamento radical, fazendo militância revolucionária que proporcionou a insurreição armada.

Consequentemente em 1952, depois do jovem estudante Rubén Batista ser condenado à morte em Havana, consolidou seu pensamento e teve o valor de aproximar-se ao Moncada junto com outras companheiras, e de vincular-se aos combatentes do assalto ao quartel Moncada e Carlos Manuel de Céspedes levados a cabo em Santiago de Cuba e Bayamo, respectivamente, pela Geração do Centanário encabeçados por Fidel.

Sobre o ocorrido diria “...Muitas das nossas famílias acolheram a companheiros do Moncada, ajudaram os que estavam no hospital, levando comida aos que estiveram presos”, (4) exemplo foi sua ajuda a José Ponce e Abelardo Crespo. Vilma também escondeu Severino Rossel, na casa de sua família em Punta de Sal.

Seu vínculo com Frank País e José Tey (Pepito), possibilitou a uma maior preparação ideológica que canalizou no Movimento Nacional Revolucionário, com um programa de acordo com seus ideais (5). “Dessa forma, se torna parte de um desfile em homenagem a Antonio Maceo que foi reprimido, mas consegue chegar a casa do Titã[em Cuba Maceo é apelidado de Titã de bronze], expressado em uma nota:  “... muitos saímos a homenageá-lo hoje 7 de dezembro, mas só um pequeno grupo chegou… As forças policiais que destruíram a nação que você liberou, se encarregaram de detê-los. Mas saibas, Titã de Bronze, com isso, que seus filhos sabem defender a pátria”. (6)

Quando Frank cria a Ação Revolucionária Oriental (ARO), Vilma se incorpora e trabalha junto na seção de finanças, onde demonstra honestidade e desempenho. A organização cresce e começa a ser chamada Ação Nacional Revolucionária (ANR), nome que segundo Calas Benavides foi acordado em uma reunião na casa de Frank em que estava Vilma e Pepito Tey.

A oportunidade de ler e compreender A História me absolverá [histórico discurso de Fidel Castro], fortalece sua formação ideológica, o que a faz expressar ”... lí o discurso todo de uma vez só.. Estávamos todos fascinados, se clareava um programa no qual podíamos aglutinarmos para lutar..”, (7) e em seguida contribuiu para sua distribuição. Depois de concluir seus estudos em 15 de julho de 1954, continuaria vinculada no centro e aos revolucionários.

Junto a sua irmã Nilsa apaga os rastros de pólvora que Frank teria nas mãos logo depois do assalto ao quartel de Caney. Quando este é preso, assume alguns dos seus trabalhos. Era considerada sua ajudante e sobre isso disse Graciela Aguiar... mandou fazer todo o possível para garantir sua vida… juntos fomos à prísão e me disse que tinha tanta coisas a dizer-me em tão pouco tempo, que não sabia como começar”.

Mostrou sua capacidade de manejar as estratégias do Movimento.

O Movimiento Revolucionario 26 de Julio, é fundado no Oriente no último trimestre de 1955 e Vilma participa do processo de consultas efetuado por Frank, antes que fosse estudar em Boston, Estados Unidos. Poder-se-ia pensar que acabava uma etapa ativa de luta, ainda que não deixasse de se preocupar com a situação de Cuba. (8). Em junho de 1956 vai ao México, se reúne com Fidel Castro já exilado, e traz à Cuba mensagens para a coordenação de ações de apoio no país. Foi protagonista do trabalho em Santiago, onde preparou suprimentos e facilitou a estadia para  a organização de levantamento armado de 30 de novembro, no local que depois passou a ser a sede do quartel general.

O ano de 1957 foi decisivo. Esteve na Sierra Maestra em reunião com os chefes da guerrilha nascida na expedição do Granma, e participou da entrevista de Fidel com o jornalista norteamericano Herbert Matthew. Junto com Frank organizou o primeiro envio de homens a Sierra e é encarregada, em 20 de julho, da Coordenação Provincial do Oriente, responsabilidade que a colocou na vanguarda em momentos decisivos, como foi a morte de Frank e tudo o que ela gerou posteriormente.

Sua ação não cessa, e em 1958 é vista no abastecimento da guerrilha, na grande greve de 9 de abril e em reuniões importantes convocadas na Sierra Maestra, o que contribuiu para que Oriente fosse considerado um baluarte na luta. Em junho participa junto ao comandante Raúl Castro Ruz nas conversas com o cônsul americano, em função da Operação Antiaérea realizada na Segundo Frente Oriental Frank País, e por sua segurança decide permanecer em território rebelde, como Delegada Nacional de MR-26-7. Participou em diferentes reuniões realizadas para a tomada de Santiago de Cuba e entrou triunfante na sua cidade natal em 1º de Janeiro de 1959.

A partir de então se inicia uma nova etapa de luta, pela plena igualdade de direitos da mulher, desde a Federação de Mulheres Cubanas, que presidiu por 47 anos, assim como desde o Partido comunista e como Deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular. Em 18 de Junho de 2007 nos deixa fisicamente, mas segue sendo a eterna Presidenta e seu exemplo, como disse Fidel, é hoje mais necessário que nunca.


*Máster en Ciencias. Museóloga del Memorial Vilma Espín, Santiago de Cuba. Miembro de la UNIHC.


Notas:
1 Palavras de Asela de los Santos en el montaje do memorial Vilma Espín.
2 Margot Randall: “La mujer cubana de ahora” en revista Mujeres, julio de 1973, p. 6, entrevista a Vil­ma Espín.

3 Mirza, Ramos Ochoa: Participación de Vilma Espín en las luchas estudiantiles, 2011 (inédito).
4 Vilma Espín: “Seguimos a Fidel”, en revista Mu­jeres no. 2, 2003, p. 57.
5 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución que Comienza, p. 56.
6 Renaldo Infante Urivazo: Frank País: Leyenda sin Mitos, p. 104.
7 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución  que Comienza, p. 59. Contra todo Obstáculo, p. 23.
8 Vilma Espín: “Deborah” en Una Revolución que Comienza, p. 60.

Tradução Fuzil contra Fuzil
Original de Granma

domingo, 3 de abril de 2016

10 documentos para entender a aproximação Cuba-Estados Unidos.

Por Elier Ramírez Canedo

Um dia depois do anúncio da visita oficial do presidente Barack Obama a Cuba, prevista para os dias 21 e 22 de Março deste ano [ocorrida de fato entre os dias 20 e 22 de março], publicamos este valioso material, uma contribuição de nosso colaborador, o doutor em Ciência Históricas, Elier Ramírez Canedo.

Neste dossiê são apresentado 10 documentos tornados públicos nos Estados Unidos e fragmentos de uma conferência de imprensa oferecida pelo presidente Barack Obama dois dias depois dos anúncios de 17 de Dezembro de 2014, pouco divulgados. 

O critério de seleção dos documentos responde a três ideias básicas:

1.    Junto a clássica agressividade praticada contra Cuba pelas diferentes administrações norte-americanas, conviveu uma parte menos visível da confrontação Estados Unidos-Cuba: a negociação, o diálogo e a aproximação.

2.    Do lado cubano, em especial do líder Fidel Castro, sempre existiu a vontade de dialogar e até mesmo avançar para uma relação mais civilizada com os Estados Unidos.

3.    Nos diferentes momentos que ocorreu aproximações, diálogos e tentativas de "normalizar" as relações com Cuba por parte do governo dos Estados Unidos, jamais este abandonou os objetivos estratégicos de mudança de regime na Ilha.

O dossiê começa com dois documentos que mostram as ideias que se debateu no mais estrito círculo de colaboradores de J.F. Kennedy, sobre a possibilidade de uma aproximação diplomática secreta com Cuba. Finalmente foi aprovada pelo presidente estadunidense meses antes de acontecer seu assassinato em Dallas, em 22 de Novembro de 1963. O primeiro deles é um importante memorando elaborado por William Atwood, funcionário dos Estados Unidos nas Nações Unidas, que provou ser uma figura-chave naquela tímida exploração de um modus vivendi com a Maior das Antilhas. Seu memorando chegou às mãos de Stevenson, embaixador dos Estados Unidos na ONU, Robert Kennedy, Procurador-Geral, e ao próprio presidente antes de ser autorizado a ter um primeiro contado com o embaixador cubano nas Nações Unidas, Carlos Lechuga. Atwood utilizou como apoio em sua iniciativa de mediar uma aproximação com Cuba as seguintes ideias:

"“Este memorando propõe passos que, se bem sucedidos, pode excluir a questão de Cuba da campanha de 1964.
Não propõe oferecer um “acordo” a Castro – o que, do o ponto de vista político, seria muito mais perigoso que não fazer nada. Mas sim, propõe uma indagação discreta sobre a possibilidade de neutralizar Cuba segundo nossas condições.” (...)
Como não pretendemos derrubar o regime de Castro através do uso da força militar, há algo que podemos fazer para promover os interesses dos Estados Unidos sem correr o risco de sermos acusados de aplicar uma política conciliadora?”"

O segundo documento tem também a assinatura de uma das figuras que tiveram maior protagonismo na aproximação com Cuba do ano de 1963: Gordon Chase, que serviu como assistente do Conselheiro para assuntos de Segurança Nacional, McGeorge Bundy. O mais importante a destacar deste documento é o seguinte fragmento que amplia sobre a proposta de Chase sobre o curso de ação a seguir com Cuba:

“"Nossa posição, para não dizer nossas palavras, deveria repassar o seguinte: “Fidel, estamos dispostos a deixar que os eventos sigam seu curso atual. Pretendemos manter e, quando possível, aumentar nossa pressão contra ti para derrubá-lo e estamos mais do que seguros de que triunfaremos. Além disso, pode ir esquecendo de obter “outra Cuba” no hemisfério. Aprendemos nossa lição e não permitiremos “outra Cuba”. No entanto, como pessoas razoáveis que somos, no vamos por su cabeza nem tampouco desfrutamos com o sofrimento do povo cubano. Vocês sabem quais são as nossas maiores preocupações: o vínculo com os soviéticos e a subversão. Se vocês creem que estão em condições de acabar tais preocupações, provavelmente podemos encontrar uma maneira de coexistir amigavelmente e construir uma Cuba próspera. Se creem que não podem fazer frente a nossas preocupações, então esqueçam o assunto; nós não teremos problema em manter a situação atual. Ao mesmo tempo, pode ser conveniente que tenham em conta que, embora estejamos sempre interessados em sua opinião sobre o vínculo com os soviéticos e a subversão cubana, obviamente não podemos dizer que estaremos sempre dispostos a negociar com vocês nas mesmas condições.”" 

Em seguida, segue o documento mais importante entre os quais pude ler, que demonstra claramente a disposição histórica de Fidel de sentar para negociar com os Estados Unidos, em  pé de igualdade e sem a menor sombra sobre a soberania de Cuba ou renúncia as princípios proclamados e defendidos pela Revolução. Trata-se de uma mensagem verbal enviada pelo líder cubano ao presidente Jonhson, pela famosa jornalista americana Lisa Howard.

Continuando, coloco um documento que revela uma mensagem conciliatória que Fidel enviou também a Richard Nixon por meio do embaixador Suíço em Havana.

Seguindo em ordem cronológica, aparecem dois documentos pertencentes à administração de Gerald Ford (1974-1977). O primeiro deles constitui uma proposta muito interessante de estratégia negociadora dos Estados Unidos para avançar sobre a “normalização” das relações com Cuba. E o segundo, um resumo das mais importantes conversas secretas mantidas nesse período entre ambos os países. 

Finalmente, da adminisração de James Carter (1977-1981), 4 documentos que considero muito importantes. Dois saindo da mão de Robert Pastor, assessor para a América Latina do Conselho de Segurança Nacional, e, sem dúvida, um dos homens mais inteligentes que desempenhou um papel destacado na criação e execução da políticas em relação a Cuba naqueles anos. Seu memorando de agosto 1977 a Brzezinski, revela que tinha critérios diferentes desde último e dos do próprio Carter no modo que deveria se focar a política em relação a Cuba. Em sua opinião, como expressou ao assessor para assuntos de segurança nacional, condicionar o progresso do processo de normalização das relações com Cuba à retirada de suas tropas da África foi um "instrumento errado", que não conseguiria nem a normalização, nem que Cuba retirasse suas tropas da África. A história provou que ele estava certo.

Também se expõe o decreto presidencial de Carter de Março de 1977, onde ordena que se tente avançar os contatos para a “normalização” das relações. É o único documento desse tipo assinado por um presidente dos Estados Unidos, ao menos, até o segundo mandato de Obama. Acrescenta-se um documento de Brzezisnki onde afirma malevolamente que as conversas com Fidel em Dezembro de 1978 tinham só o propósito de “adular” o líder cubano. Devo dizer que Brzezinski tornou-se um inimigo visceral da normalização das relações com Cuba, devido a que seu enfoque - que era diferente do que sustentava o Departamento de Estado - de que a Ilha era simplesmente um satélite dos soviéticos na África, portanto, os assuntos cubanos não deviam ser discutidos com Havana mas sim com Moscou. Tudo via através da lente do conflito Leste-Oeste[i]

Finalmente, as palavras de Obama, as mais transparentes que se pronunciou sobre quais são as intenções do “nova abordagem” da política em relação a Cuba. Anunciado ao 17D, converte a guerra cultural contra a Ilha no epicentro fundamental da política, sem renunciar a utilizar, de acordo com as circunstâncias, o bastão e a cenoura. [em espanhol a expressão remete à ideia de há duas formas de mover um burro na direção pretendida: mediante a violência ou mediante o estímulo]. Talvez alguns apontem que isto não é necessário advertir, pois não se espera que os Estados Unidos mudem sua política imperialista, mas infelizmente, não são poucos os que se confundem e se enganam, tanto em Cuba como no mundo. Isso não diminui a importância na alteração dos instrumentos, que significa a política anunciada ao 17D. Ao fazer o anúncio, o governo Obama, apesar de incorporar uma série de elementos inéditos na política em relação a Cuba, dá continuidadade a outros numerosos aspectos da estratégia em relação a Ilha que perseguiram as administrações Ford e Carter. 

(Da Revista Pensar en Cuba)

[I] Para mais, veja: Elier Ramírez Cañedo y Esteban Morales, De la confrontación a los intentos de “normalización”. La política de los Estados Unidos hacia Cuba, Editorial de Ciencias Sociales, La Habana, 2014.

Tradução Fuzil contra Fuzil