domingo, 4 de dezembro de 2016

Despedidas ao Comandante em Chefe da Revolução Cubana - Raúl

Pela ocasião do falecimento do Comandante em Chefe da Revolução Cubana e o depósito de suas cinzas após longo cortejo fúnebre que percorreu Cuba e recebeu sua solidariedade dos povos do mundo, publicamos a tradução do discurso pronunciado pelo General de Exército Raúl Castro Ruz, Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba e Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no ato político em homenagem póstuma ao Comandante-em-Chefe da Revolução Cubana, Fidel Casto Ruz, na Praça General Antonio Maceo Grajales, Santiago de Cuba, em 03 de dezembro de 2016, "Ano 58 da Revolução".

Caros Chefes de Estado e de Governo;

Personalidades proeminentes que se juntaram a nós;

Compatriotas que estão aqui hoje representando as províncias orientais e Camaguey;

Santiagueras e Santiagueros;

Querido povo de Cuba:

Na tarde de hoje, após sua chegada a esta cidade heróica, o cortejo fúnebre com as cinzas de Fidel, reeditou em sentido contrário a Caravana da Liberdade de janeiro de 1959, passando por marcos de Santiago de Cuba, berço da Revolução, onde, como no resto do país, recebeu o testemunho de amor dos cubanos.

Amanhã suas cinzas serão depositadas em uma cerimônia simples no cemitério de Santa Ifigenia, perto do mausoléu do herói nacional José Martí; de seus companheiros do Moncada, o Exército Granma e rebelde; da clandestinidade e das missões internacionalistas.

A poucos passos de distância estão os túmulos de Carlos Manuel de Cespedes, o pai da nação, e de Mariana Grajales lendária, mãe de Maceo, e atrevo-me a improvisar neste ato, também mãe de todos os cubanos. Também está perto do cemitério com os restos de Frank Pais Garcia, Santiaguero jovem, morto pelos capangas da ditadura de Batista com apenas 22 anos, um mês depois que caiu em ação de combate nesta cidade seu irmão Joshua. A idade de Frank não o impediu de acumular um recorde exemplar de lutas contra a ditadura, em que se destacou como chefe do levante armado de Santiago de Cuba, em 30 de Novembro de 1956, em apoio do desembarque da expedição Granma, assim como na organização do envio decisivo de armas e combatentes para o Exército rebelde nascente na Serra Maestra.

Desde que se tornou conhecido, na tarde na noite de 25 de Novembro, a notícia da morte do líder histórico da Revolução Cubana, dor e tristeza tomaram conta do povo que, profundamente comovido com sua perda física irreparável, mostrou firmeza, convicção patriótica, disciplina e maturidade ao participar massivamente das atividades de homenagem organizadas e endossar o juramento de fidelidade ao conceito de revolução, exposto por Fidel em Maio de 2000. Entre 28 e 29 de Novembro milhões de compatriotas estamparam suas assinaturas em apoio à Revolução.

Em meio a dor destes dias nos sentimos reconfortados e orgulhosos, mais uma vez, pela reação surpreendente de crianças cubanas e jovens que reafirmam a sua vontade de ser fiéis seguidores dos ideais do líder da Revolução.

Em nome do nosso povo, o Partido, o Estado, o Governo e dos familiares reitero a profunda gratidão pelas inúmeras manifestações de carinho e respeito por Fidel, suas ideias e seu trabalho, que continuam a chegar de todos os cantos do planeta.

Fiel à ética de Marti que disse "toda a glória do mundo cabe em um grão de milho", o líder da revolução rejeitou qualquer manifestação de culto à personalidade e foi consistente com essa atitude até as últimas horas de vida, insistindo que uma vez falecido, seu nome e figura nunca seriam usados ​​para nomear instituições, praças, parques, avenidas, ruas e outros locais públicos ou que monumentos seriam erigidos em sua memória, como bustos, estátuas e outras formas similares de tributo.

Em correspondência com a determinação de Fidel, vamos apresentar para a próxima sessão da Assembleia Nacional do Poder Popular, as propostas legislativas necessárias para prevalecer sua vontade.

Com razão, o caro amigo Bouteflika, presidente da Argélia, disse que Fidel teve a extraordinária capacidade de viajar para o futuro, voltar e explicá-lo. Em 26 de julho de 1989, na cidade de Camagüey, o comandante-em-chefe previu, com dois anos e meio de antecedência, o desaparecimento da União Soviética e do campo socialista, e disse ao mundo que, se essas circunstâncias ocorressem, Cuba continuaria a defender as bandeiras do socialismo.

A autoridade de Fidel e sua estreita relação com as pessoas foram decisivos para a heróica resistência do país nos anos dramáticos do período especial, quando o produto interno bruto caiu 34,8% e a alimentação dos cubanos se deteriorou substancialmente; quando sofremos apagões 16 e 20 horas por dia e grande parte da indústria e transporte público foi paralisado. No entanto, foi possível preservar a saúde pública e educação para todo o nosso povo.

Vêm-me à mente as reuniões do Partido nos territórios: no oriente, na cidade de Holguin; no Centro, na cidade de Santa Clara, e no Oeste, na capital da república, Havana, realizada em Julho de 1994 para analisar como enfrentar com uma maior eficiência e coesão os desafios do período especial, o crescente bloqueio imperialista e as campanhas midiáticas, destinada a semear o desânimo entre os cidadãos. A partir desses encontros, incluindo o do Ocidente, que presidiu Fidel, saímos todos convencidos de que com a força e a inteligência das massas coesas, sob a liderança do próprio partido era possível converter o período especial em uma nova batalha vitoriosa na história do país.

Tão poucos no mundo apostavam em nossa capacidade de resistir e superar a adversidade e reforçado cerco inimigo; no entanto, o nosso povo, sob a liderança de Fidel deu uma lição inesquecível lição de firmeza e lealdade aos princípios da Revolução.

Para lembrar aqueles momentos difíceis, eu acho justo e relevante  retomar o que sobre Fidel expressei em 26 de julho de 1994, um dos anos mais difíceis na Ilha da Juventude, ao longo de 22 anos atrás, e cito: "... o mais ilustre filho de Cuba neste século, que nos mostrou que era possível tentar a conquista do Quartel Moncada; que sim, era possível transformar esse revés em vitória" que alcançamos cinco anos, cinco meses e cinco dias depois, no glorioso primeiro de janeiro de 1959, esse último em adição às palavras exatas que eu disse naquela ocasião (Aplausos).

Nós mostramos "sim era possível chegar às costas de Cuba no iate Granma; sim, era possível resistir ao inimigo, a fome, chuva e frio, e organizar um exército revolucionário na Sierra Maestra depois do fracasso de Alegria de Pio; sim, era possível abrir novas frentes de guerrilha na província de Oriente, com as colunas de Almeida e a nossa; sim, era possível derrotar com 300 rifles a grande ofensiva de mais de 10.000 soldados", que ao ser derrotada, Che escreveu em seu Diário de Campanha, com esta vitória ele tinha se partido a coluna vertebral do exército da tirania; "Sim, era possível repetir a epopeia de Maceo e Gómez, estendendo-se até as colunas de Che e Camilo a luta a partir do oriente para o ocidente da ilha; sim, era possível derrubar, com o apoio de todo o povo, a ditadura de Batista apoiada pelo imperialismo norte-americano.

"Aquele que nos ensinou que era possível derrotar em 72 horas" e ainda menos, "a invasão mercenária da Baía dos Porcos e, ao mesmo tempo, continuar a erradicar o analfabetismo em um ano", como foi alcançado em 1961.

...que sim, era possível proclamar o caráter socialista da Revolução a 90 milhas do império, e quando os seus navios de guerra se moveram em direção a Cuba, após as tropas da brigada mercenária; que era possível manter firmemente os princípios irrenunciáveis da nossa soberania, sem medo da chantagem nuclear dos EUA nos dias da Crise dos Mísseis, em outubro de 1962.

"que era possível enviar ajuda solidária aos outros povos irmãos que lutam contra a opressão colonial, a agressão externa e o racismo.

"Que sim, era possível derrotar os racistas Sul-Africanos, salvando a integridade territorial de Angola, forçando a independência da Namíbia dando um duro golpe ao regime do apartheid.

"que sim, era possível transformar Cuba em uma potência médica, reduzir a mortalidade infantil para a menor taxa no Terceiro Mundo, em primeiro lugar, e do mundo rico depois; porque neste continente, pelo menos, temos menos de mortalidade infantil de crianças com menos de um ano de idade que o Canadá e os próprios Estados Unidos (Aplausos), e, por sua vez, aumentar significativamente a expectativa de vida da nossa população.

"que sim, era possível transformar Cuba em um importante centro científico, moderno e fazer avançar as principais áreas da engenharia genética e da biotecnologia; inserir-nos no fechado comércio internacional de fármacos; desenvolver o turismo, apesar do bloqueio norte-americano; construir calçadas no mar para fazer Cuba um arquipélago cada vez mais atraente, obtendo de nossas belezas naturais um ingresso crescente de receitas em divisas.

"que sim, era possível resistir, sobreviver e desenvolver-se sem renunciar os princípios e as conquistas do socialismo no mundo unipolar e de onipotência das corporações transnacionais que surgiu após o colapso do bloco socialista europeu e a desintegração da União Soviética.

"O ensinamento permanente ao longo da vida de Fidel é que sim, é possível, que o homem é capaz de superar as condições mais difíceis se não desfalecer sua vontade de vencer, de fazer uma avaliação correta de cada situação e não desistir de seus princípios justos e nobres." fim de citação.

Aquelas palavras que expressei há mais de duas décadas sobre quem, depois do desastre do primeiro combate em Alegria de Pio, que se cumprirá, depois de amanhã, 60 anos, nunca perdeu a fé na vitória, e 13 dias mais tarde, nas montanhas Sierra Maestra, de 18 de dezembro do ano mencionado, reunindo sete fuzis e um punhado de combatentes, disse: "Agora nós podemos ganhar a guerra! (Aplausos e exclamações de: "Fidel, Fidel Isso é Fidel")

Esse é o Fidel invicto que nos chama com seu exemplo e com a demonstração de que sim, era possível! De que sim, é possível! de que sim, será possível! (Aplausos e exclamações de: "Sim, é possível!) Então, repito que provou que sim era possível, que é e será possível superar qualquer obstáculo, ameaça ou turbulência na nossa determinação firme de construir o socialismo em Cuba, ou, o que é o mesmo, assegurar a independência e soberania da pátria! (Aplausos).

Frente aos restos de Fidel na Praça da Revolução Antonio Maceo Grajales, na cidade heróica de Santiago de Cuba, juremos defender a pátria e o socialismo! (Exclamações de: "Juramos!") e juntos reafirmemos a sentença do Titã de Bronze: "Quem tentar se apoderar de Cuba, juntará o pó de seu solo alagado de sangue, se não perecer na luta! (Exclamações).

Fidel, Fidel! Até a vitória! (Exclamações de: "Sempre!") (Exclamações de:" Fidel é Raul": "Raul, tranquilo, o povo está contigo"

  • Tradução equipe Fuzil contra Fuzil

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Che Guevara - Segundo Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática - 24 de fevereiro de 1965 - Parte I

Em 24 de fevereiro de 1965 na Argélia, o Comandante Ernesto "Che" Guevara pronuncia seu último discurso em um evento internacional. Foi no Segundo Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática. 
 
Guevara e Ahmed Ben Bella na Argélia
Cuba chega a esta Conferência levantando sua voz em representação aos povos da América Latina(1), e, como em outras oportunidades enfatizamos, enquanto um pais subdesenvolvido, que ao mesmo tempo constrói o socialismo. Não é por acaso que nossa representação busca mostrar sua opinião entre países da África(2) e Ásia. Um objetivo comum, a derrota do imperialismo, nos une em nosso marcha até o futuro: um passado comum de luta contra o mesmo inimigo nós mantem unidos ao longo do caminho.

    Essa é uma assembleia dos povos em luta: que se desenvolve em duas frentes de igual importância e exige todos os nossos esforços. A luta contra o imperialismo, pela busca da liberdade aos entraves coloniais ou neocoloniais, que se conquista pelas armas politicas, as armas de fogo e as combinação de ambas, não estão desligadas das lutas contra o atraso e a pobreza, ambas são etapas de um mesmo caminho que conduz à criação de uma sociedade nova, rica e justa. É fundamental conquistar o poder politico e eliminar as classes opressoras, entretanto, depois é necessário confrontar a segunda etapa da luta, que revela impasses de maiores dificuldades que a etapa anterior.

    Desde que o capital monopolista alastrou-se e dominou o mundo, mantém na pobreza a maioria da humanidade, enquanto divide os lucros em um grupo de países mais fortes. O nível de vida nesses países se estrutura na miséria dos nossos países; para elevar o nível de vida dos povos subdesenvolvidos temos que lutar contra o imperialismo. E cada vez que um país se destaca da arvore imperialista, não só vence uma batalha parcial contra o inimigo fundamental, como contribui para o seu enfraquecimento real dando um passo para a vitória final.

Não existem fronteiras nessa luta à morte, não podemos ser indiferentes frente ao que ocorre em qualquer parte do mundo, pois uma vitória de qualquer país sobre o imperialismo é uma vitória nossa, assim como a derrota de uma nação qualquer é uma derrota para todos. O exercício do internacionalismo proletário é um dever dos povos que lutam por assegurar um futuro melhor. Além disso, é uma necessidade inevitável. Se o inimigo imperialista, norte-americano ou outro qualquer, desenvolve seus ataques contra os povos subdesenvolvidos e os países socialistas, uma lógica elementar determina a necessidade da aliança entre os povos subdesenvolvidos e os países socialistas(3), porque se não houver nenhum outro fator de união, o inimigo comum deve ser constituí-lo.

Claro, essas conexões não podem ser feitas de forma espontânea, sem discussões, sem aliança antecedente, dolorosa, às vezes.
Cada vez que um país se liberta, dizemos ser uma derrota do sistema imperialista mundial. Entretanto, devemos concordar que o engajamento não acaba com o mero direito de se proclamar uma independência ou conquistar uma vitória pelas armas em uma revolução, mas acaba quando dominação econômica imperialista deixa de ser exercida sobre o povo. Portanto, é interesse fundamental dos países socialistas que se desenvolva efetivamente esse engajamento, sendo nosso dever internacional, dever que se baseia na ideologia que nos dirige, contribuir com nossos esforços para que a libertação se faça o mais rápida e profundamente possível.
Não pode existir socialismo se não se operar na consciência uma mudança que seja capaz de provocar uma nova atitude fraternal pela humanidade, tanto enquanto caráter individual, que se propõem a construir o socialismo, como de caráter mundial com relação a todos os povos que sofrem da opressão imperialista.
Acreditamos que com esse espirito devemos nos colocar frente a responsabilidade de ajudar os países dependentes e que não se deve mais falar de desenvolvimento de comércio de benefício mútuo baseado nos preceitos da lei do valor e nas relações internacionais de troca desigual, produtos, justamente, da lei de valor, impõem aos países atrasados. (4)
Como pode significar "beneficio mútuo" vender a preços do mercado mundial as matérias primas que custam o suor e sofrimento sem limites dos paises atrasados e comprar a preços de mercado mundial as máquinas produzidas nas grandes fábricas automatizadas do presente?
Se estabelecemos esse tipo de relação entre as nações, devemos concordar, que de certa forma os países socialistas de certa maneira são cúmplices da exploração imperialista. Pode-se argumentar que a troca com os países subdesenvolvidos constituem uma parte insignificante do comercio exterior desses países. Isso é uma grande verdade, porém não elimina o caráter imoral dessa troca.
Os países socialistas tem o dever moral de eliminar suas relações com os países exploradores do Ocidente. O fato de que seja hoje pequeno o comércio não quer dizer nada: nos anos 50 cuba vendia, ocasionalmente, açúcar a algum pais do bloco socialista, sobretudo através de comerciantes ingleses e de outras nacionalidades. Hoje, 80% de seu comércio se desenvolve nessa área, todos seus abastecimentos vitais vem do campo socialista, e, de fato, cuba se integrou a esse campo. Não se pode dizer que esse ingresso deu-se apenas por conta do aumento do comércio, nem que tenha aumentado o comércio por conta do fato do rompimento com as velhas estruturas e encarar a forma socialista de desenvolvimento, ambos os extremos se tocam e um e outro se interrelacionam.
Nós não começamos o caminho que terminará no comunismo com todos os passos previstos, como produto lógico de um desenvolvimento ideológico que marchará a um fim determinado; as verdades do socialismo, mas as cruas verdades do imperialismo, foram forjando nosso povo e ensinando a eles o caminho que logo adotaríamos conscientemente. Os povos da África e da Ásia que buscam sua liberdade devem tomar o mesmo caminho, a empreenderão, mais cedo ou mais tarde,  ainda que seu socialismo tome hoje qualquer adjetivo definitório. Não existe outra definição de socialismo válida para nós, que a abolição da exploração do homem pelo homem. Enquanto essa definição não se concretize, se está ainda no período de construção da sociedade socialista, e em vez de se realizar esse fenômeno, a tarefa de superação da exploração se estagna ou, mesmo, retrocede no desenvolvimento socialista, não é valido sequer faler de construção do socialismo. (5)
Temos que preparar as condições para que nossos irmãos entrem direta e conscientemente no caminho da abolição definitiva da exploração, porém não podemos convidá-los a entrar caso sejamos ainda cúmplices da exploração. Se nos perguntarem quais são os métodos para fixar preços equitativos, não poderíamos responder, não conhecemos a magnitude pratica dessa questão, só sabemos que depois das questões politicas, União Soviética e Cuba firmaram acordos vantajosos para nós, onde será possível vender até 5 milhões de toneladas a preço fixo superior ao normal no mercado mundial açucareiro. A Republica Popular da China também mantem esses preços de compra.
Isto é apenas um antecedente, a real tarefa consiste em fixar os preços que permitem seu desenvolvimento. Uma grande mudança de concepção consiste em transformar a ordem das relações internacionais, não deve ser o comércio exterior que direcione a politica, senão o contrario, aquele deve estar subordinado a uma política fraternal entre os povos.
Analisaremos brevemente o problema dos créditos a longo prazo para desenvolver as estruturas básicas da industrias. Frequentemente nos deparamos com que os países beneficiários preparam suas bases industriais desproporcionais a partir de capacidade atual, cujos produtos não se consumirão no território e cujas reservas se comprometerão nesse esforço.
Nossa opinião é de que os investimentos dos Estados socialistas em seus próprios territórios pesam diretamente sobre o orçamento estatal e não se recuperam se não através da utilização dos produtos no processo completo de sua elaboração até chegar ao extremo da manufatura. Nossa proposta é pensar na possibilidade de realizar investimentos desse tipo em países subdesenvolvidos.
Dessa forma se poderia colocar em movimento uma força imensa, subjacente em nossos continentes que vem sendo miseravelmente explorados, porém nunca auxiliados em seu desenvolvimento, e iniciar uma nova etapa da autêntica divisão internacional do trabalho, baseada não na historia do que hoje tornou-se, se não, no futuro, a historia do que pode ser feito.
Os Estados cujo os territórios nos quais se desenvolverão novos investimentos teriam todos seus direitos inerentes baseados em um princípio absoluto da propriedade soberana sobre os mesmos, sem que haja pagamento ou crédito algum, acabando por obrigar os possuidores a fornecer determinada quantidade de seus produtos aos países investidores a um preço determinado durante certo tempo.
É digno de estudo ainda a questão de financiamento das despesas em que deve incorrer um país que faz tais investimentos. Uma forma de ajuda, que não gera despesas com moedas livremente convertíveis, poderia ser o fornecimento de produtos facilmente vendidos a governos de países subdesenvolvidos, a partir de crédito a longo prazo.
Outro grande problemas que devemos resolver é o de domínio da técnica (6). É bem conhecido por todos a falta de técnicos que sofrem os países em desenvolvimento. Faltam instituições de ensino. Faltam por vezes, a real consciência das nossas necessidades e a decisão de tomar a cabo uma política de desenvolvimento técnico e ideológico que se deveria atribuir como prioridade.
Os países socialistas devem fornecer ajuda para a formação de órgãos de ensino técnico, insistir na importância fundamental disso e fornecer quadros de trabalhadores técnicos que consigam suprimir essa carência atual. Deve-se enfatizar mais sobre este último ponto: os técnicos que vem a nossos países devem ser exemplares. Eles são companheiros que têm de lidar com um ambiente desconhecido muitas vezes hostil à tecnologia, com uma língua diferente e totalmente diferentes hábitos. Os técnicos que irão de enfrentar a difícil tarefa devem ser, acima de tudo comunistas, no sentido mais profundo e nobre da palavra: com esta única qualidade, além de um mínimo de organização e vontade, fará maravilhas.
Sabemos disso porque os países companheiros nos enviaram certo número de técnicos que tem feito mais pelo desenvolvimento de nosso país que dez institutos e tem contribuído para nossa amizade mais do que dez embaixadores ou uma centena de recepções diplomáticas.
O imperialismo foi derrotado em muitas batalhas parciais. Mas é uma força significativa no mundo e não se pode esperar sua derrota final se não através do esforço e sacrifício de todos.
Porém, as medidas propostas não podem ser realizadas de forma unilateral. O desenvolvimento dos paises subdesenvolvidos deve custar aos países socialistas. Concordo, mas também deve colocar em tensão as forças dos países subdesenvolvidos e tomar firmemente o caminho da construção de uma nova sociedade – ponha-se o nome que se queira – onde a máquina, instrumento de trabalho, não seja instrumento de exploração do homem pelo homem. Também não pode reivindicar a confiança dos países socialistas quando se joga no equilíbrio entre o capitalismo e o socialismo e usa ambas as forças como elementos contrapostos para conquistar determinadas vantagens nesta posição.

É importante destacarmos mais uma vez que os meios de produção devem estar preferencialmente nas mãos do Estado, para que gradualmente desapareçam os traços de exploração.
Por outro lado, não se pode deixar que o desenvolvimento ocorra baseado em improvisações, a nova sociedade deve ser planificada. A planificação é uma das leis do socialismo, sem ela o socialismo não existiria. Sem uma correta planificação não se pode existir suficientes garantias de que todos os setores econômicos se relacionem harmoniosamente para que consiga cumprir as demandas exigidas no momento que estamos vivendo. A planificação não é um problema isolado de cada um dos nossos países, pequenos e distorcidos em seu desenvolvimento, possuidores de algumas matérias-primas ou produtores de alguns produtos manufaturados ou semi-manufaturadas, faltando a maioria dos outros(7). Esta deve ter como foco desde o início, uma certa regionalidade a permear as economias dos países e alcançar uma integração sobre a base de um verdadeiro benefício mútuo.
Acreditamos que o caminho atual esta cheio de perigos, perigos que não são inventados ou previstos para o futuro por alguma mente superior, são o resultado da realidade palpável que nos atinge. A luta contra o colonialismo alcançou sua etapas finais, porém atualmente, o status colonial não é senão consequência da dominação imperialista. Enquanto exista imperialismo exercerá sua dominação sobre outros países, por definição, exercerá sua dominação sobre os países, essa dominação se chama hoje neocolonialismo.

Continua
 
Tradução equipe do Fuzil contra Fuzil

   
NOTAS

1. Che Guevara pronunciou seu discurso no Segundo Seminário Econômico de Solidariedade Afroasiática, em 24 de fevereiro de 1965. Estava visitando à África desde dezembro, depois de participar da Assembleia Geral da ONU, em 11 de dezembro de 1964. Nesse momento crucial, Che preparava sua participação no movimento de libertação no Congo, que teve inicio em abril de 1965.

2. Durante a participação na Conferência da Argélia, Che refletiu sobre as relações de Cuba com o Terceiro Mundo. Depois do triunfo da revolução, de junho a setembro, visitou vários países relacionados ao Pacto de Bandung. O Pacto de Bandung foi o precursor do que mais tarde se tornou o Movimento dos Não-Alinhados . No primeiro Seminário sobre Planejamento na Argélia em 16 de Julho de 1963,  Che havia tratado da experiência da Revolução Cubana, explicando que ele havia aceitado o convite de participar para " oferecer apenas uma pequena história do nosso desenvolvimento econômico , os nossos erros e triunfos , que poderiam ser úteis para vocês no futuro próximo ..."

3. Neste discurso Che definiu com muita precisão sua tese revolucionária para o Terceiro Mundo e a integração da luta de libertação nacional com idéias socialistas. Che fez um chamado aos países socialistas, para apoiar de forma incondicional e radical o Terceiro Mundo.

4. Esta definição de intercâmbio desigual partiu de uma profunda analise feita em Genebra em 25 de março de 1964 na Conferência das Nações Unidas sobre Economia e Desenvolvimento no Terceiro Mundo : “Estamos em nosso dever de atrair a atenção dos presentes de que enquanto o statos quo seja mantido e a justiça esteja determinada por poderosos interesses… será difícil eliminar as tensões prevalecentes que colocam em perigo a humanidade.”

5.  Para Che , o significado inerente ao socialismo era superar a exploração como um passo essencial para uma sociedade justa e humana, dando ênfase na necessidade de unidade internacional na luta pelo socialismo. A ideia de Che era que as forças socialistas internacionais pudessem contribuir para o desenvolvimento social e econômico dos povos.

6.  A Participação direta de Che entre 1959-1965 na construção de uma base material e tecnológica para o desenvolvimento da sociedade cubana está intimamente ligada à ideia de criação de um novo homem e uma nova mulher. Esta é uma pergunta que ele constantemente retorna, considerando este um dos dois principais pilares sobre os quais uma nova sociedade poderia ser construída. Esta estratégia foi aplicada não só para resolver problemas imediatos, mas para criar certas estruturas que possibilitassem garantir a Cuba um futuro desenvolvimento científico e tecnológico. Ele foi capaz de desenvolver esta estratégia durante o tempo chefiou o Ministério das Indústrias. Para ler mais sobre este assunto , consulte o seu discurso: " As universidades podem estar cheias de negros, mulatos, operários e camponeses" (1960) e "Juventude Revolucionária" (1964).

7.  Neste esforço para compreender as tarefas na transição para uma economia socialista, Che destacava o papel vital do planejamento econômico, especialmente na construção da economia socialista em um país subdesenvolvido que continha elementos de capitalistas. Esse planejamento é necessário porque representa a primeira tentativa humana de controlar as forças econômicas e caracteriza este período de transição. Ele chama atenção para a inclinação dentro do socialismo para reformas do sistema econômico de alienação de mercado, interesses materiais e da lei do valor. Para contrariar esta tendência, Che defendia a centralização anti- burocrática e planejamento que enriquecem consciência. Sua ideia era usar a consciência e ação organizada como a força fundamental para direcionar o planejamento econômico do socialismo. Para mais informações sobre o assunto, veja o artigo " A importância da abordagem socialista " (1964) .








sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A história não contada que Obama quer nos fazer esquecer

Em 1949, Marines ianques urinam em uma estátua de Martí.
Em março de 2016, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, esteve em Cuba e afirmou que estadunidenses e cubanos deveriam esquecer o passado de relações conturbadas entre ambos os países [itálico]. Ao povo cubano é impossível apagar de sua história as interferências ianques.

Nos últimos tempos tem se incrementado a tendência para distorcer a história de Cuba, especialmente antes de 1959. Por exemplo, na Enciclopédia Wikipedia, Fulgêncio Batista era um militar, político e ditador; mas em nenhum lugar é dito que ele era um criminoso envolvido no assassinato e desaparecimento de milhares de cubanos com a cumplicidade do governo dos EUA. A natureza desta personagem foi muito bem identificada pelo líder da Revolução cubana, Fidel Castro, em sua defesa histórica "História me absolverá", quando disse de Batista: "Dante dividiu seu Inferno em nove círculos: colocou no sétimo criminosos, colocou no oitavo ladrões e colocou no nono traidores. Seria um dilema difícil que os demônios teriam de enfrentar para encontrar um local adequado para a alma deste homem ... se esse homem tivesse uma alma!"

Pretende-se vender para a juventude cubana e de outros países a ideia de que Cuba pré-revolucionária era um paraíso, quando na realidade era o oposto em todos os sentidos. Dados refletidos no livro "Por que a Revolução Cubana?", Publicado pela Editorial Capitan San Luis demonstram que durante o governo de Batista Cuba viveu um clima de terror como nunca antes em sua história republicana.

"Eram utilizados ​​instrumentos para remover os olhos, unhas, aguilhões elétricos, chicotes, varas para quebrar ossos, um arsenal de crimes, mostrando a selvageria sem precedentes de homens que o serviam.

"A juventude universitária levantou um forte protesto contra a ditadura e pagou com a vida e sangue generoso. Ela lutou duramente contra as forças repressivas do exército. O resultado foi cabeças quebradas, braços quebrados, camisas manchadas de sangue e morte de muitos jovens.

"Cadáveres apareciam jogados em números cada vez maiores, em áreas desertas, em estradas, pendurados nas árvores ou simplesmente abandonados, com sinais de tortura, em qualquer lugar público. Centenas deles seriam enterrados sem uma certidão de óbito. Algumas vítimas da repressão permaneciam nas geladeiras do necrotério por várias semanas e mais tarde eram enterrados em uma cova especial no cemitério de Columbus, no grupo de indigentes.

"Em 1956, o governo de Batista suprime o escasso apoio financeiro ao Ballet de Cuba, e insere Alicia Alonso num registro no Bureau de Repressão das Atividades Comunistas (BRAC) e do Serviço de Inteligência Militar (SIM), nos dois corpos mais repressivos do regime".

Na ordem socioeconômica, 85% dos pequenos agricultores cubanos pagavam rendas e viviam sob a constante ameaça de desapropriação de suas terras; mais da metade das melhores terras produtivas estavam em mãos estrangeiras; 90% das crianças rurais eram devoradas por parasitas; a capital, com 22% da população, tinha 65% dos médicos; além disso, havia apenas um hospital rural com apenas 10 camas e nenhum médico; acesso aos hospitais, que eram sempre cheios, só era possível através da recomendação de um político que exigia ao infeliz seu voto e toda sua família; a mortalidade infantil era de mais de sessenta mortes por mil nascidos vivos; 23,6% da população acima de 10 anos era analfabeta e havia mais de um milhão de pessoas que não sabiam ler e escrever; nas escolas públicas de 100 crianças que se inscreviam apenas 6 atingiam o sexto grau e mais de dez mil professores estavam desempregados. [1]

Nunca na história do Estado foi visto tamanho apoio ao jogo como o dado por Batista. O próprio Estado foi o principal impulsionador do vício, e sustentava a Loteria Nacional e jogo ilegal; as arrecadações do jogo chegaram a penetrar no Palácio Presidencial. O tirano controlava os recebimentos de jogos clandestina e apostas ilegais, recebendo cerca de 730.000 pesos por isso.

O governo dos Estados Unidos da época fazia entregas importantes de armas e equipamentos militares para que a ditadura de Batista reprimisse o povo cubano. Em fevereiro de 1955, Batista recebeu o vice-presidente americano Richard Nixon e em abril do mesmo ano, o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), Allan Dulles, que representou um endosso do governo dos EUA ao regime repressivo de Batista.

O Presidente Obama pretende que os cubanos se esqueçam do estado de coisas para que voltem, talvez, multiplicadas. Mas ele está errado, a juventude deste país sabe muito bem o que significa em termos de soberania e independência apagar a memória histórica. Um amigo septuagenário que viveu em primeira mão as calamidades que existiam antes de 1959 disse-me recentemente que tem certeza que as futuras gerações nunca permitirão que se repitam cenas como aquelas daqueles fuzileiros navais dos EUA, que, em 1949, urinaram na estátua do herói nacional cubano, José Martí, localizado no parque central de Havana. Muitos jovens, dentre os quais se incluia o então jovem estudante de direito, Fidel Castro, fizeram um ativo protesto em frente da embaixada norte-americana. Cinismo ou ignorância do presidente que há alguns dias nos pediu-nos a esquecer o passado?


Tradução equipe Fuzil contra Fuzil

De abril de 2016, por Omar Perez Solomon, na Pupila Insomne.

Nota:

[1] "Por que a Revolução Cubana?". Editorial Capitan San Luis. Havana, de 2010.

O respeito a soberania: um direito do povo

O encontro dessa sexta desenvolveu-se na Universidade Tecnológica de Havana. Foto: Ismael Batista

Jovens da Federação de Estudantes do Ensino Médio e da Federação Estudantil Universitária rechaçaram esta sexta em instituições da capital as mais recentes ações do Governo dos Estados Unidos, destinadas a promover mudanças em Cuba.

A organização "sem fins lucrativos" World Learning - com o objetivo aparente de "empoderar as pessoas e fortalecer as instituições" - realizou nos meses do veraneio o Programa de Verão para Jovens Cubanos, destinado fundamentalmente a educandos do ensino médio, cuja agenda incluía a elaboração de um projeto de ações a implementar-se em Cuba, sob a supervisão de seus patrocinadores.

Com financiamento recebido por distintas instâncias do Departamento de Estado dos Estados Unidos, incluindo a USAID, a World Learning se soma a outras tentativas subversivas na maior das Antilhas, como o programa secreto "Zunzuneo", melhor conhecido como "Twitter Cubano".

O projeto ampara-se na seção 109 da Lei Helms-Burton de 1996, que garante a utilização de cifras milhonárias para a subversão ideológica em Cuba.

Como explicou nessa sexta-feira na Universidade Tecnológica de Havana (CUJAE), o egresso desse centro de educação superior, intelectual e blogueiro cubano Iroel Sánchez, algumas pessoas - dois panamenhos e um espanhol - chegaram a Ilha para buscar jovens, principalmente do Ensino Médio, com o objetivo de levá-los como bolsistas à nação do norte.

Somente no ano de 2015 ocorreram mais de 1300 ações de intercâmbio acadêmico com estudantes norte-americanos, fato que constitui demonstração fiel de que Cuba não se opõe a esse tipo de intercâmbio, toda vez que sustentada com respeito a soberania e autodeterminação de nosso povo.

Do granma
Tradução equipe Fuzil contra Fuzil

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Che Guevara - Pronunciamento ao Conselho Interamericano de Estudos Sociais - 8 de agosto de 1961) - Parte II

Pronunciamento diante do CIES (Conselho Interamericano de Estudos Sociais)
(8 de agosto de 1961) 


Segunda parte


Senhor delegado de Cuba: Bem, senhor Presidente. 

É necessário explicar o que é a Revolução cubana, o que é este fato especial que fez ferver o sangue dos impérios do mundo e também ferver o sangue, mas de esperança, dos despossuídos do mundo, pelo menos. 

É uma Revolução Agrária, anti-feudal e antiimperialista, que foi se transformando imperiosamente, por conta de sua evolução interna e de suas agressões externas, em uma revolução socialista e que a proclama assim, diante da face da América: Uma revolução socialista. Uma revolução socialista que tomou a terra do que tinha muito e a deu ao que estava assalariado nessa terra, ou a distribuiu em cooperativas entre outros grupos de pessoas que não tinham nem sequer terra onde trabalhar, mesmo que fosse como assalariado. 

É uma revolução que chegou ao poder com seu próprio exército e sobre as ruínas do exército da opressão; que sentou no poder, olhou ao seu redor, e dedicou-se, sistematicamente, a destruir todas as formas anteriores de ditaduras de uma classe exploradora sobre a classe dos explorados, destruiu o exército totalmente, como casta, como instituição, não como homens, salvo os criminosos de guerra, que foram fuzilados. Também em face à opinião pública do continente e com a consciência bem tranquila. 

É uma revolução que reafirmou a soberania nacional e, pela primeira vez, apresentou para si e para todos os povos da América, e para todos os povos do mundo, a reivindicação dos territórios injustamente ocupados por outras potências. 

É uma revolução que tem uma política externa independente, que vem aqui, a esta reunião de Estados Americanos, como mais um entre os latino-americanos; que vai à reunião dos países não alinhados como um de seus membros importantes e que senta nas deliberações com os países socialistas, que a consideram como um país irmão. 

É, pois, uma revolução com características humanistas. É solidária com todos os povos oprimidos do mundo; solidária, senhor Presidente, porque também dizia Martí: «Todo homem verdadeiro deve sentir na face o golpe dado a qualquer face de um homem.» E cada vez que uma potência imperial avassala um território, está dando uma bofetada em todos os habitantes desse território. 

Por isso nós lutamos pela independência dos países, lutamos pela reivindicação dos territórios ocupados. Apoiamos o Panamá, que tem um pedaço de seu território ocupado pelos Estados Unidos. Chamamos de Ilhas Malvinas, e não de Falkland, às do sul da Argentina, e chamamos de Ilha do Cisne àquela que os Estados Unidos arrancaram de Honduras e de onde nos está agredindo por meios telegráficos e radiofônicos. 

Lutamos constantemente aqui, na América, pela independência das Guianas e das Antilhas Britânicas, onde aceitamos o fato da independência de Belize, porque a Guatemala já renunciou a sua soberania sobre esse pedaço de seu território; e lutamos também na África, na Ásia, em qualquer lugar do mundo onde o poderoso oprime ao mais fraco, para que o mais fraco alcance sua independência, sua autodeterminação e seu direito a organizar-se como Estado soberano. 

Nosso povo, permitam que lhes digamos, quando da ocasião do terremoto que assolou o Chile, buscou ajudá-lo na medida de suas forças, com seu produto único, com o açúcar. Uma ajuda pequena, mas que, entretanto, foi uma ajuda que não exigia nada; foi simplesmente a entrega ao país irmão, ao povo irmão, de algo de alimento para suportar essas horas angustiosas. Nem nos tem que agradecer por nada esse povo e, ainda menos, nos deve algo. Nosso dever fez que entregássemos o que entregamos. 

Nossa revolução nacionalizou a economia nacional, nacionalizou todo o comércio exterior, que está agora em mãos do Estado, e dedicou-se a sua diversificação, comercializando com todo o mundo; nacionalizou o sistema bancário para ter em suas mãos um instrumento eficaz para exercer tecnicamente o crédito de acordo com as necessidades do país. Faz seus trabalhadores participarem na direção da economia nacional planificada e realizou, faz poucos meses, a Reforma Urbana, por meio da qual entregou a cada habitante do país a casa onde residia, tornando-o dono dela com a única condição de pagar o mesmo que estava pagando até esse momento, de acordo com uma tabela, durante determinado número de anos. 

Tomou muitas medidas de afirmação da dignidade humana, incluindo entre as primeiras a abolição de a discriminação racial, que existia, senhores delegados, de uma forma sutil, mas existia. As praias de nossa ilha não serviam para que se banhassem o negro nem o pobre, porque pertenciam a um clube privado, e vinham turistas de outras praias, que não gostavam de se banharem com os negros. 

Nossos hotéis, os grandes hotéis de Havana, que eram construídos por companhias estrangeiras, não permitiam que dormissem negros ali, porque os turistas que vinham de outros países não gostavam de negros. 

Assim era nosso país; a mulher não tinha nenhuma sorte de direito igualitário; ganhava menos por trabalho igual, era descriminada como na maioria de nossos países americanos. 

A cidade e o campo eram duas zonas em permanente luta e dessa luta o imperialismo extraía a força de trabalho suficiente, a ser mal paga e com atraso. 

Nós realizamos uma revolução nisso tudo e realizamos, também, uma autêntica revolução na educação, cultura e saúde. Neste ano, será eliminado o analfabetismo em Cuba. Cento e quatro mil alfabetizadores de todas as idades alfabetizam um milhão e duzentos e cinquenta mil analfabetos, porque em Cuba realmente havia analfabetos, muitos mais de os que as estatísticas oficiais de tempos anteriores diziam. 

Este ano, o ensino primário será gratuito e obrigatório, convertemos os quartéis em escolas; realizamos a reforma universitária, dando livre acesso a todo o povo à cultura superior, às ciências e à tecnologia moderna, fizemos uma grande exaltação dos valores nacionais, diante da deformação cultural produzida pelo imperialismo e as manifestações de nossa arte recebem os aplausos de todos os povos do mundo de todos não, em alguns lugares não deixam que entrem—, exaltação do patrimônio cultural de toda nossa América Latina, que se manifesta em prêmios anuais dados a literatos de todas as latitudes de América, e cujo premio de poesia, senhor Presidente, foi ganho pelo renomado poeta Roberto Ibáñez [1], no último confronto; estendemos a função da medicina em benefício de camponeses e trabalhadores urbanos humildes; esportes para todo o povo, [política] que se reflete em 75 000 pessoas desfilando no 25 de julho em uma festa desportiva realizada em homenagem ao primeiro cosmonauta do mundo, Yuri Gagarin; a abertura das praias populares, a todos, evidentemente, sem distinção de cor nem de ideologia e, além disso, gratuita; e os círculos sociais operários, nos que foram transformados todos os círculos exclusivistas de nosso país, que eram muitos. 

Bem, senhores técnicos, companheiros delegados, chegou a hora de se referir à parte econômica das discussões. O ponto I é muito amplo. Feita também por técnicos muito inteligentes é a planificação do desenvolvimento econômico e social na América Latina. A primeira incongruência que observamos no trabalho é expressa nesta frase: «Às vezes é expressa a ideia de que um aumento no nível e diversidade da atividade econômica acarreta necessariamente na melhoria das condições sanitárias. Entretanto, o grupo é da opinião de que a melhoria das condições sanitárias não somente é desejável em si mesma, mas constitui um requisito essencial, prévio ao crescimento econômico, e deve formar, assim, parte essencial dos programas de desenvolvimento da região.»

Isso, por outro lado, encontra-se refletido, também, na estrutura dos empréstimos do Banco Internacional de Desenvolvimento, pois na análise que fizemos dos 120 milhões emprestados em primeiro lugar, 40 milhões, isto é, um terço, correspondem diretamente a empréstimos desse tipo; para casas de habitação, para aquedutos, redes de esgoto. 

É um pouco... eu não sei, mas eu qualificaria quase como uma condição colonial. Tenho a impressão de que se pensa fazer a latrina como uma coisa fundamental. Isso melhora as condições sociais do pobre índio, do pobre negro, do pobre individuo que vive em uma condição subumana; «vamos a fazer-lhe latrinas e então, depois que lhe façamos latrinas, e depois a que a sua educação tenha permitido que a mantenha limpa, então poderá gozar dos benefícios da produção.» Porque é notável, senhores delegados, que o tema da industrialização não figura na análise dos senhores técnicos. Para os senhores técnicos, planificar é planificar a latrina. O resto, quem sabe quando que será feito! 

Se me permite o senhor Presidente, lamentarei profundamente, em nome da delegação cubana, ter perdido os serviços de um técnico tão eficiente como o que dirigiu este primeiro grupo, o doutor Felipe Pazos. Com sua inteligência e sua capacidade de trabalho, e nossa atividade revolucionária, em dois anos Cuba seria o paraíso da latrina, mesmo se não tivéssemos nenhuma das 250 fábricas que estamos começando a construir, mesmo se não tivéssemos feito a Reforma Agrária. 

Eu me pergunto, senhores delegados, se não se pretende tirar sarro, não de Cuba,— porque Cuba está à margem, já que a Aliança para o Progresso [2] não está com Cuba, mas contra ela, e não é estabelecido dar sequer um centavo a Cuba—, mas sim de todos os outros delegados. 

Não há um pouco de impressão de que lhes estão tirando sarro? Dão-se dólares para fazer estradas, dão-se dólares para fazer caminhos, dão-se dólares para fazer esgotos; senhores, com o que são feitos os esgotos? Não é preciso ser um gênio para isso. Por que não se dão dólares para equipamentos, dólares para maquinarias, dólares para que nossos países subdesenvolvidos, todos, possam converter-se em países industriais, agrícolas, de uma vez? Realmente, é triste. 

Na página 10, nos elementos de planificação do desenvolvimento, no ponto VI, é estabelecido quem é o verdadeiro autor deste plano. 

Diz o ponto VI: «Estabelecer bases mais sólidas para a concessão e utilização de ajuda financeira externa, especialmente o proporcionar critérios eficazes para avaliar projetos individuais.»

Nós não vamos estabelecer as bases mais sólidas para a concessão e utilização, porque nós não somos, são os senhores os que recebem, não os que concedem, e nós quem olhamos, e os que concedem são os Estados Unidos. Então, este ponto VI é redigido diretamente pelos Estados Unidos e este é o espírito de toda esta construção chamada ponto I. 

Mas bem, quero fazer constar uma coisa; falamos muito de política, denunciamos que há aqui uma confabulação política; em conversas com os senhores delegados pontuamos o direito de Cuba da expressar estas opiniões, porque se ataca diretamente Cuba no ponto V. 

Entretanto, Cuba não vem, como dizem alguns jornais o muitos porta-vozes de empresas de informação estrangeira, para sabotar a reunião. 

Cuba vem para condenar o condenável a partir do ponto de vista dos princípios, mas vem também para trabalhar harmonicamente, se é que é possível, para conseguir corrigir isto, que nasceu muito torto, e está disposta a colaborar com todos os senhores delegados para corrigi-los e fazer um bonito projeto. 

O honroso senhor Douglas Dillon [3], em seu discurso, citou o financiamento, porque é importante. Nós, para que nos juntemos todos para falar de desenvolvimento, temos que falar de financiamento, e todos nos juntamos para falar com o único país que tem capitais para financiar. 

Diz o senhor Dillon: «Olhando nos anos vindouros todas as fontes de financiamento externo entidades internacionais, Europa e Japão, assim como a América do Norte, os novos investimentos privados e os investimentos dos fundos públicos—, se a América Latina toma as medidas internas necessárias, condição prévia, poderá logicamente esperar que seus esforços» — não é tampouco que, se toma as medidas, está feito, mas sim que «poderá logicamente esperar» —, «serão igualados por um fluxo de capitais da ordem de pelo menos 20 bilhões de dólares nos próximos dez anos. E a maioria desses fundos procederão de fontes oficiais.»

Isto é o que há? Não, o que há são 500 milhões aprovados, isto é do que se fala. Bem, há que pontuar isto bem, porque é o centro da questão. O que querem dizer? —E eu garanto que não pergunto por nós, mas sim pelo bem de todos. O que quer dizer «se a América Latina toma as medidas internas necessárias» e o que quer dizer «poderá logicamente esperar»? 

Acredito que depois, no trabalho das comissões ou no momento em que o representante dos Estados Unidos julgue oportuno, haverá que deixar um pouco mais claro este detalhe, porque 20 bilhões é uma cifra interessante. É nada menos que 2/3 da cifra que nosso Primeiro Ministro anunciou como necessária para o desenvolvimento da América; um pequeno empurrãozinho e chegamos aos 30 bilhões. Mas é preciso chegar a esses 30 bilhões contantes y sonantes [4], um a um, nos tesouros nacionais de cada um dos países da América, menos esta pobre cinderela, que, provavelmente, não receberá nada. 

Aí é onde nós podemos ajudar, não num plano de chantagem, como se está afirmando, porque é dito: não, Cuba é a galhinha dos ovos de ouro, está Cuba [presente], enquanto Cuba estiver [presente], os Estados Unidos dão. Não, nós não viemos com esse intuito, nós viemos trabalhar, tentar lutar no plano dos princípios e das ideias, para que nossos povos se desenvolvam, porque todos ou quase todos os senhores representantes lhe disseram: se a Aliança para o Progresso fracassa, nada pode deter as ondas dos movimentos populares; se a Aliança para o Progresso fracassa, e nós estamos interessados em que não fracasse, na medida em que signifique para América uma real melhoria nos níveis de vida de todos os seus 200 milhões de habitantes. Posso fazer esta afirmação com honestidade e com toda a sinceridade. 

Nós diagnosticamos e previmos a revolução social na América, a verdadeira, porque os acontecimentos estão desenvolvendo-se de outra forma, porque há a pretensão de frear os povos com baionetas e quando o povo sabe que pode tomar as baionetas e voltá-las contra quem as empunha, já está perdido quem as empunha. Mas se o caminho dos povos quer se levar a partir deste do desenvolvimento lógico e harmônico, pelos empréstimos a longo prazo, com juros baixos, como anunciou o senhor Dillon, com 50 anos de prazo, também nós estamos de acordo. 

O único, senhores delegados, é que todos juntos temos que trabalhar para que aqui seja efetivado esse valor e para garantir que o Congresso dos Estados Unidos a aprove; porque que não se esqueçam que estamos diante de um regime presidencial e parlamentar, não é uma ditadura como Cuba onde aparece um senhor representante de Cuba, fala em nome do governo, e há responsabilidade de seus atos; aqui, além disso, tem que ser ratificado ali, e a experiência de todos os senhores delegados é que muitas vezes não foram ratificadas ali as promessas que se fizeram aqui... 

A taxa de crescimento que é apresentada como uma coisa belíssima para toda a América é de 2,5% de crescimento líquido [5]. A Bolívia anunciou 5% para 10 anos, nós parabenizamos o representante da Bolívia e lhe dizemos que com um pouquinho de esforço e de mobilização das forças populares, pode falar em 10%. Nós falamos em 10% de desenvolvimento sem medo algum, 10% de desenvolvimento é a taxa que Cuba prevê nos anos vindouros. 

O que isto indica, senhores delegados? Que se cada um vai pelo caminho que vai, quando a América, que atualmente tem aproximadamente [uma renda] per capita de 330 dólares, vê crescer seu produto líquido em 2,5%, vai ter 500 dólares lá pelo ano de 1980, 500 dólares per capita. Claro que para muitos países é um verdadeiro fenômeno. O que pensa ter Cuba no ano 1980? Pois uma renda líquida per capita de uns 3 mil dólares; mais que os Estados Unidos. E se não acreditam em nós, perfeito, aqui estamos [dispostos] para a competição, senhores. Que nos deixem em paz, que nos deixem desenvolver e que daqui a 20 anos venhamos todos de novo, para ver se o canto da sereia era o da Cuba revolucionária ou era outro. Mas nós anunciamos, responsavelmente, essa taxa de crescimento anual. 

Os especialistas sugerem a substituição de ineficientes latifúndios e minifúndios por fazendas bem equipadas. Nós dizemos: querem fazer a Reforma Agrária? Tomem a terra dos que têm muita e a deem ao que não tem. Assim se faz a Reforma Agrária. O resto é canto de sereia. A forma de fazê-la; se é entregue um pedaço de parcela, de acordo com todas as regras da propriedade privada; se é feita em propriedade coletiva; se é feito um meio-termo — como o temos nós—, isso depende das peculiaridades de cada povo; mas a Reforma Agrária se faz liquidando os latifúndios, não indo colonizar lá longe. 

E, assim, poderia falar da redistribuição da renda que em Cuba se fez efetiva, porque é tirado dos têm mais e lhes é permitido ter mais aos que não têm nada ou aos que têm menos, porque fizemos a Reforma Agrária, porque fizemos a Reforma Urbana, porque baixamos as tarifas elétricas e telefônicas — que, entre parênteses, esta foi a primeira escaramuça com as companhias monopolistas estrangeiras, porque fizemos círculos sociais operários e círculos infantis, onde os filhos dos operários vão receber alimentação e vivem enquanto seus pais trabalham; porque fizemos praias populares e porque nacionalizamos o ensino, que é absolutamente gratuito. Além disso, estamos trabalhando em um amplo plano de saúde. 

De industrialização falarei à parte, porque é a base fundamental do desenvolvimento e assim o interpretamos nós. 

Mas há um ponto que é muito importante —é o filtro, o purificar, os técnicos, acredito que são sete, de novo, senhores, — o perigo da latrinocracia, enfiado no meio dos acordos com os que os povos querem melhorar seus níveis de vida; outra vez políticos disfarçados de técnicos dizendo: aqui sim e aqui não; porque você fez tal coisa e tal coisa, sim, mas na realidade, porque és um fácil instrumento de quem dá os meios; e a ti não, porque fizeste isto mal; mas, na realidade, porque não és instrumento de quem dá os meios, porque dizes, por exemplo, que não podes aceitar como preço de algum empréstimo que Cuba seja agredida. 

Esse é o perigo, sem contar que os pequenos, como em todos os lugares, são os que recebem pouco ou nada. Há, senhores delegados, um só lugar onde os pequenos têm direito ao «pataleo» [6], e é aqui, onde cada voto é um voto, e onde isso há que votá-lo, e podem os pequenos, —se têm a atitude de fazê-lo—, contar com o voto militante de Cuba contra as medidas dos «sete», que são esterilizantes, purificantes e almejam canalizar o crédito com disfarces técnicos por caminhos diferentes. 

Qual é a posição que verdadeiramente conduz a uma autêntica planificação, que deve ter coordenação com todos, mas que não pode estar sujeita a nenhum outro organismo supranacional? Nós entendemos — e assim o fizemos em nosso pais — senhores delegados, que a condição previa para que haja uma verdadeira planificação econômica é que o poder político esteja nas mãos da classe trabalhadora. Esse é o sine qua non [7] da verdadeira planificação para nós. Além disso, é necessária a eliminação total dos monopólios imperialistas e o controle estatal das atividades produtivas fundamentais. Amarrados bem a esses três cabos, passa-se à planificação do desenvolvimento econômico; se não, tudo será perdido em palavras, em discursos e em reuniões. 

Além disso, há dois requisitos que permitirão fazer ou não que este desenvolvimento aproveite as potencialidades dormentes no seio dos povos, que estão esperando acordar. São, por um lado, o da direção central racional da economia por um poder único, que tenha possibilidades de decisão.— Não estou falando de possibilidades ditatoriais, mas sim de possibilidades de decisão — e, por outro, o da participação ativa de todo o povo nas tarefas da planificação. Naturalmente, para que todo o povo participe nas tarefas da planificação, terá que ser todo o povo dono dos meios de produção, se não, dificilmente participará. O povo não quererá, e os donos das empresas onde trabalha, acredito que tampouco.

Bem, podemos falar uns minutos do que Cuba obteve em seu caminho, comercializando com todo o mundo, «indo pelas vertentes do comércio», dizia Martí. 

Nós temos assinados, até o presente momento, créditos de 357 milhões de dólares com os países socialistas e estamos em conversações — que são conversações de verdade — por cento e quarenta e pouco milhões a mais, com os quais chegaremos aos 500 milhões em empréstimos nestes cinco anos. 

Esse empréstimo, que nos dá a posse e o domínio de nosso desenvolvimento econômico, chega, como dissemos, aos 500 milhões— o valor que os Estados Unidos dão à América como um todo somente para nossa pequena república. Isto, referente à República de Cuba, transposto para a América, significaria que os Estados Unidos, para proporcionar ou para fazer o mesmo trabalho, teria que dar 15 bilhões de dólares falo de pesos a dólares, porque em nosso país valem o mesmo. 

Trinta bilhões de dólares em dez anos; a cifra que nosso Primeiro Ministro solicitara e, com isso, se há uma acertada condução do processo econômico, a América Latina, em somente cinco anos, seria outra coisa. 
Continua
 
Traduzido pela equipe do Fuzil contra Fuzil



Notas

[1] Roberto Ibáñez (1907-1978) foi um poeta uruguaio responsável por resgatar a vida e obra de diversos autores uruguaios de destaque, tendo trabalhado como pesquisador e professor da literatura nacional desse país.

[2] Programa de “ajuda” mútua desenvolvido pelos Estados Unidos na América Latina, cujo conteúdo, na prática, era uma forma de buscar contrapor a influência da Revolução Cubana no continente.

[3] Então delegado dos Estados Unidos.

[4] Em espanhol, essa expressão equivale a algo próximo de “em espécie”.

[5] Crescimento do Produto Interno Bruto com desconto da depreciação dos bens de capital construídos.

[6] Em espanhol, algo como fazer escândalo, protestar.

[7] Do latim, “condição {sem a qual não}[IT]” algo é impossível.

sábado, 3 de setembro de 2016

Raúl Castro, o verdadeiro dissidente

Contrariamente a uma ideia amplamente difundida, particularmente no Ocidente, o debate crítico está presente na sociedade cubana.


No Ocidente, Cuba é representada como uma sociedade fechada em si mesma, na qual o debate crítico é inexistente e a pluralidade das ideias é proibida por quem está no poder. Na realidade, Cuba está longe de ser uma sociedade monolítica que compartilharia um pensamento único. Com efeito, a cultura do debate se desenvolve mais a cada dia e é simbolizada pelo Presidente cubano Raúl Castro, que se converteu no primeiro a falar dos reveses, das contradições, aberrações e injustiças presentes na sociedade cubana.

A necessidade de mudança e do debate crítico

Em dezembro de 2010, em uma intervenção diante do Parlamento cubano, Raúl Castro fez um discurso mais alarmista e colocou o governo e os cidadãos frente às suas responsabilidades: “Ou retificamos ou já acabou o tempo de seguir à beira do precipício, nos afundamos, e afundaremos” (1).  Também acrescentou pouco tempo depois: “É imprescindível romper com a barreira psicológica colossal que resulta de uma mentalidade arraigada em hábitos e conceitos do passado”(2).

Raúl Castro também reprovou duramente a debilidade do debate crítico em cuba. Também reprovou os silêncios, a complacência e a mediocridade. Lançou um chamado para maior franqueza: “Não é preciso temer a discrepância de critérios […], as diferenças de opiniões, que […] sempre serão mais desejáveis do que a falsa unanimidade baseada na simulação e no oportunismo. Trata-se de um direito do qual ninguém deve ser privado”. Castro denunciou “o excesso de secretismo a que nos habituamos por mais de 50 anos” para ocultar erros, falhas e equívocos. “É necessário mudar a mentalidade dos quatros e de todos os compatriotas, acrescentou(3).

Sobre os meios de comunicação, disse o seguinte:

"Nossa imprensa fala bastante disso, das conquistas da Revolução, e nos discursos também falamos muito; mas é preciso ir à medula dos problemas […]. Sou um defensor da luta contra o secretismo porque é debaixo desse tapete onde se ocultam as falhas que temos, bem como os interessados de que isso seja assim e de que tudo siga assim. E eu me lembro de algumas críticas; “sim, coloquem no jornal tal crítica”, orientei eu mesmo […]. Imediatamente, a grande burocracia começou a se mover: “Essas coisas não ajudam, demoralizam os trabalhadores”. Quais trabalhadores vão desmoralizar? Como ocorreu em uma ocasião, na grande empresa estatal de leite El Triángulo. Levou semanas, porque um dos caminhões dessa vacaria(4),  que estava lá em Camagüey, estava quebrado, e então todo o leite que se produzia nas vacarias dessa zona, desse lugar, eram jogados a uns porcos que estavam criando. Foi então que eu disse a um secretário do Comitê Central para atender a agricultura nessa etapa, coloque no Granma, conte tudo isso que está acontecendo, faça uma crítica. Alguns vieram mim e até que: “Essas coisas não ajudam porque desmoralizam os trabalhadores”. O que não sabiam era que eu o havia orientado(5).

No dia 1º de agosto de 2011, durante seu discurso de fechamento da VII Legislatura do Parlamento Cubano, Raúl Castro reiterou a necessidade do debate crítico e da controvérsia na sociedade. “Todas as opiniões devem ser analisadas, e quando não se alcançar o consenso, as discrepâncias serão levadas às instâncias superiores facultadas para decidir e, além disso, ninguém está autorizado para impedi-lo(6).  Convidou para acabar com “o hábito do triunfalismo, a estridência e o formalismo ao abordar a atualidade nacional e a gerar materiais escritos e programas de televisão e rádio, que, por seu conteúdo e estilo, chamem a atenção e estimulem o debate na opinião pública” para evitar “materiais entediantes, improvisados e superficiais” nos meios de comunicação(7).

A corrupção

Raúl Castro tampouco se esquivou do problema da corrupção: “Diante das violações da Constituição e da legalidade estabelecida, não resta outra alternativa senão recorrer à Fiscalização e aos Tribunais, como já começamos a fazer, para exigir a responsabilidade dos infratores, sejam quem forem, porque todos os cubanos, sem exceção, somos iguais perante a lei”(8).  Raúl Castro, consciente de que a corrupção também afeta os funcionários do alto escalão, mandou uma mensagem clara aos responsáveis por todos os setores: “É preciso lugar para acabar definitivamente com a mentira e o engano na conduta dos quadros de qualquer nível”. De modo mais insólito, apoiou-se em dois dos dez mandamentos bíblicos para ilustrar seus pontos. “Não roubarás” e “não mentirás”. Do mesmo modo, evocou os três princípios éticos e morais da civilização inca: “não mentir, não roubar, não ser folgado”, os quais devem guiar a conduta de todos os responsáveis da nação(9).

A liberdade religiosa

Da mesma forma, Raúl Castro condenou veementemente as derivas sectárias. Assim, denunciou publicamente por televisão alguns atentados à liberdade religiosa devidos à intolerância “enraizada na mentalidade de não poucos dirigentes em todos os níveis”(10).  Citou o caso de uma mulher, quadro do Partido Comunista com trajetória exemplar, que foi afastada de suas funções em fevereiro de 2011 por sua fé cristã, e cujo salário foi reduzido em 40%, uma clara violação do artigo 43 da Constituição de 1976, que proíbe todo tipo de discriminação. O Presidente da República denunciou assim “o dano ocasionado a uma família cubana por atitudes baseadas em uma mentalidade arcaica, alimentada pela simulação e o oportunismo”. Ao lembrar que a pessoa vítima dessa discriminação havia nascido em 1953, data do ataque ao quartel Moncada pelos partidários de Fidel Castro contra a ditadura de Fulgencio Batista, Raúl Castro disse o seguinte:

"Eu não fui ao Moncada para isso […]. Da mesma forma, recordávamos que o dia 30 de julho, dia da reunião mencionada, eram completados 54 anos do assassinato de Frank País e de seu fiel companheiro Raúl Pujol. Eu conheci Frank no México, voltei a vê-lo na Sierra, não me lembro de ter conhecido uma alma tão pura como essa, tão valente, tão revolucionária, tão nobre e modesta, e dirigindo-me a um dos responsáveis por essa injustiça que cometeram, eu lhe disse: Frank acreditava em Deus e praticava sua religião. Que eu saiba, nunca deixou de fazê-lo. “O que vocês teriam feito com Frank País?”(11)." 

A produtividade, o salário mensal e a libreta de abastecimento

Quanto à produtividade e à política econômica, Raúl Castro admite “uma ausência de cultura econômica na população”, assim como os erros do passado. “Não pensamos em voltar a copiar ninguém. Tivemos muitos problemas ao fazê-lo e porque, além disso, muitas vezes copiamos mal”(12).  O governo cubano dá prova de lucidez quanto às carências em matéria econômica. Reconhece que “a espontaneidade, a improvisação, a superficialidade, o não cumprimento das metas, a falta de profundidade nos estudos de viabilidade e a carência de completude ao empreender uma inversão” atentam gravemente contra a nação(13).

Quanto à renda mensal dos cubanos, Raúl Castro dá provas de ludidez: “O salário ainda é claramente insuficiente para satisfazer a todas as necessidades, pois praticamente deixou de cumprir com seu papel de assegurar o princípio socialista de que cada qual ganhe segundo sua capacidade e receba segundo seu trabalho. Ele favoreceu manifestações de indisciplina social”(14).

Do mesmo modo, o presidente cubano não vacilou ao salientar os efeitos negativos da libreta de abastecimento em vigor desde 1960 – particularmente, “seu nocivo caráter igualitarista”, que se converteu em “um peso insuportável para a economia e em um desestímulo ao trabalho, além de gerar ilegalidades diversas na sociedade”. Também apontou as seguintes contradições: “Como a libreta está projetada para cobrir os mais de 11 milhões de cubanos por igual, não faltam exemplos absurdos, como o café que abastece até os recém-nascidos. O mesmo acontecia com os cigarros até setembro de 2010, quando era fornecido sem distinguir fumantes e não fumantes, propiciando o crescimento desse hábito nocivo na população. Segundo ele, a libreta “contradiz, em sua essência, o princípio da distribuição que deve caracterizar o socialismo, ou seja, “de cada qual segundo sua capacidade, cada qual segundo seu trabalho”. Por isso, “será imprescindível agir para erradicar as profunda distorções existentes no funcionamento da economia e da sociedade em seu conjunto”(15).

A troca geracional

Por outro lado, Raúl Castro também salientou a presença de um problema crucial em Cuba: a troca geracional e a falta de diversidade. Denunciou “a insuficiente sistematicidade e vontade política para assegurar a promoção de mulheres, negros, mestiços e jovens a cargos decisórios, sobre a base do mérito e das condições pessoais. Expressou seu despeito sem se esquivar de sua própria responsabilidade: “Não ter resolvido este último problema em mais de meio século é uma verdadeira vergonha que carregaremos em nossas consciências durante muitos anos”. Portanto, Cuba sofre “as consequência de não contar com uma reserva de substitutos devidamente preparados, com experiência suficiente e maturidade para assumir as novas e complexas tarefas de direção no Partido, no Estado e no Governo”(16).

Todas essas declarações foram feitas ao vivo na televisão cubana em horário nobre. Permitem ilustrar a presença do debate crítico em Cuba no mais lato nível do Estado. Assim, Raúl Castro não é apenas o presidente da nação, mas também – segundo parece – o primeiro dissidente do país e o mais feroz crítico das derivas e imperfeições do sistema.

De Salim Lamrani
Tomado de Opera Mundi

Notas:

1 - Raúl Castro Ruz, «Discurso feito pelo General do Exército Raúl Castro Ruz, Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento do Sexto Período Ordinário de Sessões da Sétima Legislatura da Asambleia Nacional do Poder Popular», República de Cuba, 18 de dezembro de 2010. (site acessado em 2 de abril de 2011).
2 - Raúl Castro Ruz, «Intervenção do General do Exército Raúl Castro Ruz, Presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, no encerramento do X Período de Sessões da Sétima Legislatura da Asambleia Nacional do Poder Popular», 13 de dezembro de 2012. (site acessado em 2 de janeiro de 2013).
3 - Raúl Castro, «Discurso…», 18 de dezembro de 2010, op.cit. N. do T.: estábulo ou local onde vacas são tratadas e seu leite é ordenhado à vista dos compradores. Original: “vaquería”.
4 - Ibid.
5 - Raúl Castro, «Toda resistência burocrática ao estrito cumprimeiro dos acordos do Congreso, respaldados massivamente pelo povo, será inútil», Cubadebate, 1º de agosto de 2011.
6 - Raúl Castro, «Texto integral do Informe Central ao VI Congreso del PCC», 16 de abril de 2011. (site acessado em 20 de abril de 2011).
7 - Raúl Castro, «Toda resistência…», op. cit.
8 - Raúl Castro, «Discurso…», 18 de dezembdo de 2010, op.cit.
9 - Raúl Castro, «Toda resistência…», op. cit.
10 - Ibid.
11 - Raúl Castro, « Discurso… », 18 de dezembro de 2010, op.cit.
12 - Partido Comunista de Cuba, «Resolução sobre os alinhamentos da política econômica e social do partido e a Revolução», op. cit.
13 - Raúl Castro Ruz, « Discurso… », 18 de dezembdo de 2010, op. cit.
14 - Raúl Castro, «Informe central ao VI Congreso del Partido Comunista de Cuba», 16 de abril de 2011. (site acessao em 2 de janeiro de 2013).
15 - Ibid.

domingo, 28 de agosto de 2016

Acesso de Cuba à Internet completa 20 anos.

Apesar das dificuldades impostas pelo bloqueio, pouco a pouco a internet passa a ser cada vez mais acessada na Ilha. Ainda assim, ao contrário do que pode parecer, o acesso dos cubanos tanto às redes externas quanto internas não é novidade.

Nesse 22 de agosto, completa-se 20 anos desde que o pleno acesso de Cuba à Internet ocorreu, através da ligação do IDICT com o GLOBAL-ONE fornecedor dos EUA, por meio de um canal de transmissão 64 Kbs, o que favoreceu significativamente o serviço de e-mails.

Em 1973, Cuba juntou-se ao Centro Internacional de Informação Científica e Técnica dos países membros do Conselho de Assistência Mútua Econômica (CAME), e começou seu trabalho no Sistema Internacional de Informação Científica e Técnica. Neste mesmo ano entra em funcionamento a estação terrestre Caribe, integrada ao sistema Intersputnik  de comunicações por satélites artificiais.

Entre fevereiro de 1983 e maio de 1984, um grupo de especialistas e instituições cubanas e soviéticas começou a realizar um trabalho experimental conjunto para a transmissão automatizada de informações via satélite. Em 1985, instalou-se o Centro Nacional de Intercâmbio Automatizado de Informações, um microcomputador de fabricação Norueguesa para desenvolver gradualmente e testar vários serviços telemáticos, incluindo mensagens eletrônicas. [1]

Em Junho de 1987, estabeleceu-se na província de Matanzas o primeiro equipamento de comunicações desenvolvido em Cuba com a sua própria tecnologia, e permitiu-se o estabelecimento de uma pequena rede experimental ao serviço do Poder Popular Provincial, que funcionou como parte da rede da Academia de Ciências de Cuba (REDACC).

O relatado até aqui mostra os esforços feitos pelo governo cubano desde os anos 1970, para acelerar a introdução de tecnologias que permitissem o desenvolvimento de redes de computadores no país e acesso à informação

Creio que é importante lembrar que, desde 1986, a empresa de telecomunicações dos Estados Unidos, a AT & T, começou a negociar com o governo de seu país a autorização para construir um cabo submarino analógico entre os EUA e Cuba, que substituiria ultrapassado sistema troposférico, única via de comunicação existente entre os dois países na época.

Em meados de 1988 são obtidas as autorizações para a colocação do cabo submarino sem deixar de aplicar o bloqueio tecnológico contra Cuba, porque era um trecho de cabo de tecnologia ultrapassada, recuperado do fundo do mar depois de ser substituído no Atlântico, e com uma capacidade de apenas 143 circuitos, quando as necessidades de tráfego existente eram muito mais elevadas. Não obstante essa discriminação tecnológica, o governo cubano também autorizou a realização da ligação como um esforço a mais para manter as comunicações.

Em 1989, depois de vários meses destinadas a prospecção, projeção, preparação, colocação de cabos e sintonia das estações, conclui-se a instalação do sistema de cabo submarino analógico  entre Cuba e os EUA, o denominado Cabo No 7 .

Apesar disso, este cabo nunca foi posto em serviço já que o governo dos EUA não aprovou um acordo de serviços justo, razoável, equitativo, e em conformidade com as normas internacionais entre os operadores de telecomunicações de ambos os países. Da mesma forma, durante anos impediram com que Cuba fosse conectada a redes de telecomunicações internacionais via cabos de fibra ótica que passam perto da ilha, alguns poucos 30 quilômetros, forçando conexões com uso de satélites, que não só são mais caros, mas que são de banda mais restritas, mantendo as conexões lentas.

Em 1996, Cuba tinha quatro redes com conexões internacionais: Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGBnet), Centro de Intercâmbio Automatizado de Informação (CENIAI), Jovem Club (Tinored) e Ministério da Saúde (Infomed). Naquele ano, um relatório da Rand Corporation, um think tank ligado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos reconhece que "Cuba tem desenvolvido uma considerável comunidade de redes com capacidades e serviços. Isso é o resultado de uma dedicação de longo prazo para a educação em toda a sociedade, um importante desenvolvimento de programas de pesquisa e terapêuticos no campo da biotecnologia e da medicina. Cuba tem todo o conhecimento necessário para operar um link de IP internacional e o consentimento do governo. Faltam fundos e um contrato de trabalho ou plano de cooperação entre várias redes; mas, eventualmente, irão conseguí-lo "[2]

Entre as recomendações da Rand Corporation para o Pentágono refletidos nesse relatório estão: estimular uma conexão IP direta com a Internet para dar aos cubanos acesso interativo a materiais estrangeiros; dar uma resposta rápida ao pedido feito pela empresa WilTel de uma autorização para construir um cabo óptico entre os Estados Unidos e Cuba, pendente desde março de 1994, e outras solicitações para fornecer vários serviços relacionados a dados; estimular viagens desde Cuba para fins de treinamento e capacitação na administração de redes de computadores, e outras formas de intercâmbio técnico.

Neste contexto, ocorre o pleno acesso de Cuba à rede, há 20 anos. O progresso discreto na expansão dos serviços de Internet, na minha opinião, tem como raiz o bloqueio tecnológico, a interferência nos assuntos de nosso país usando as TIC e as dificuldades de natureza interna que prevaleceram nesse período.

Escrito por Omar Pérez Salomón, publicado em La Pupila Insomne
Tradução Equipe Fuzil contra Fuzil.

Notas:

[1] Do livro “Secretos de Internet”.

[2] Relatório da Rand Corporation: “Las telecomunicaciones cubanas, la red de computación y las implicaciones en la política de los Estados Unidos.” Elaborado para a Oficina do Secretário de Defesa dos Estados Unidos, julho de 1996.

domingo, 21 de agosto de 2016

Cuba é uma nação socialista - Fidel Castro - Parte II

Leia a Parte I.

Discurso Pronunciado por Fidel Castro em  1º de Maio de 1961

"...

Não há Tempo para Eleições

Houve um período para a abolição de privilégios. As pessoas agora tem tempo para eleições? Não! O que eram os partidos políticos? Só uma expressão dos interesses de classe. Aqui só há uma classe, a humilde; aquela classe está no poder, então ela não está interessada na ambição de um minoria exploradora de voltar ao poder. Aquelas pessoas não teriam nenhuma chance em uma eleição. A revolução não tem tempo a perder com esse tipo de tolices. Não há chance para a classe exploradora reconquistar o poder. A revolução e povo sabem que a revolução expressou sua vontade; a revolução não vem ao poder com armamento ianque. 

Ela vem através da vontade do povo em luta contra todo tipo de armamento, armamento ianque.

A revolução mantêm-se no poder através do povo. No que o povo está interessado? Em fazer a revolução avançar sem perder um só minuto. (Aplausos) Pode qualquer governo na América afirmar ter mais apoio popular que esse? Por que a democracia deve ser essa pedante e falsa democracia dos outros, ao invés dessa direta expressão da vontade do povo? As pessoas morrem lutando ao invés de ir a uma eleição para escrever nomes em um papel. A revolução deu a cada cidadão uma arma, uma arma a todo homem que quis entrar na milícia. Então algum tolo vem para perguntar se, tendo a maioria por que nós não fazemos eleições? Porque o povo não se importa de satisfazer tolos e pequenos finos cavalheiros! As pessoas estão interessadas em avançar.
Eles não tem tempo a perder. O povo deve gastar uma quantidade tremenda de energia se preparando contra agressões, enquanto todos sabemos que queremos construir escolas, casas e fábricas. Não não somos belicosos. Os ianques gastam a metade de seu orçamento em armamento; não somos belicosos. Nós somos obrigados a despender aquelas energia, por causa dos imperialistas. Não temos ambições expansionistas. Não queremos explorar nenhum trabalhador de nenhum país. Não estamos interessados em planos agressivos; fomos forçados a ter tanques, aviões, metralhadoras e força militar para nos defender.
A recente invasão mostra o quão corretos estamos em nos armar. Em Playa Giron eles vieram para matar camponeses e trabalhadores. O imperialismo forçou-nos ao armamento para nossa defesa. Fomos forçados a colocar energia, materiais e recursos nisso, embora preferiríamos colocar esses recursos em mais escolas, para que em futuros desfiles possa existir mais atletas e estudantes. Se nosso povo estivesse desarmado, eles não poderiam ter esmagado os mercenários que vieram com equipamentos modernos.
Os imperialistas teriam se lançado contra nós a muito tempo se não nos tivéssemos armado. Mas nós preferimos morrer antes de render o país que temos agora. Eles sabem disso. Eles sabem que encontrarão resistência e então os círculos agressivos do imperialismo devem parar e pensar.
Então somos forçados, pela ameaça de agressão a proclamar aos quatro cantos do mundo: Todo o povo da América deveria se elevar em indignação depois da afirmação de que um país pode intervir em outro só por causa o primeiro é mais forte. Tal política significaria que o vizinho mais poderoso tem o direito de intervir para evitar um povo de se autogovernar de acordo com sua escolha. É inconcebível que deveriam existir miseráveis governos como esses; depois da agressão que matou trabalhadores e camponeses, é inconcebível que eles até mesmo tenham começado uma política de romper com Cuba, ao invés de romper com Somoza, Guatemala, ou o governo de Washington que paga por aviões, tanques e armamentos para vir aqui e matar camponeses.
O governo da Costa Rica disse que, se os mercenários fossem executados, romperia relações conosco. Eles não tem razão alguma para romper, então buscam um pretexto, nesse caso escolhendo  a questão das execuções.
Aqueles que promovem a política de usar Cuba, às ordens do imperialismo, são traidores miseráveis aos interesses e sentimentos da América. (Aplausos) Esses fatos mostram-nos a política podre que prevalece em muitos países latino americanos, e como a revolução cubana inverteu essas formas corruptas para estabelecer novas formas nesse país.
Nova Constituição Socialista
Para aqueles que falam a nós sobre a Constituição de 1940, nós respondemos que a Constituição de 1940 está datada e velha para nós. Nós avançamos muito rápido para aquela pequena seção da Constituição de 1940, que era boa para o seu tempo, mas nunca foi posta em prática. Aquela constituição foi ultrapassada pela revolução, que como dissemos, é uma revolução socialista. Devemos sim falar de uma nova constituição, uma nova constituição, mas não uma constituição burguesa, não uma constituição que corresponda a dominação e exploração de certas classes, mas uma constituição que corresponda a um novo sistema social sem a exploração do homem sobre o homem. O novo sistema social é chamado de socialismo e essa constituição será, consequentemente, uma constituição socialista.

Protesto de Kennedy
Se o Sr. Kennedy não gosta de socialismo, nós não gostamos de imperialismo! Nós não gostamos de capitalismo! Nós temos todo direito de protestar sobre a existência de um regime capitalista-imperialista a 90 milhas de nossa costa. No passado e agora, nós não pensamos em protestar em relação a isso, porque isso é coisa do povo dos Estados Unidos. Seria absurdo para nós tentarmos contar para o povo dos Estados Unidos que sistema de governo eles deveriam ter, nesse caso nós estaríamos considerando que os Estados Unidos não são uma nação soberana e que nós temos direitos sobre a vida política interna dos Estados Unidos.
Direitos não vem com tamanho. Direitos não vem do fato de um país ser maior que o outro. Isso não importa. Nós temos um território limitado, uma pequena nação, mas nosso direito é tão respeitável quanto o de qualquer país, independentemente do tamanho. Não nos passa pela cabeça falar para o povo dos Estados Unidos qual sistema de governo eles devem ter. Portanto, é absurdo o Sr. Kennedy nos falar qual governo ele quer que estabeleçamos aqui. Isso é absurdo. Sr. Kennedy faz isso por não ter um conceito claro de leis internacionais nem de soberania. Quem teve essas ideias antes de Kennedy? Hitler e Mussolini!
Eles falaram a mesma língua, a da força; é a língua fascista. Nós ouvimos anos antes do ataque da Alemanha sobre a Czechoslovakia. Hitler a dividiu pois era governada por um governo reacionário. A burguesia, reacionária e protofascista, com medo do avanço do sistema socialista, preferiu até a dominação de Hitler. Nós ouvimos aquela linguagem na véspera da invasão a Dinamarca, Bélgica, Polônia e assim por diante. É o direito do poder. Esse é o único direito que Kennedy sugere quando declara o direito a interferência em nosso país.
Esse é um sistema socialista, sim! Sim, esse é um regime socialista. Está aqui, mas a culpa não é nossa, a culpa e é de Colombo, dos colonizadores ingleses, os colonizadores espanhóis. O povo dos Estados Unido algum dia ficará cansado.

Nenhuma ameaça aos Estados Unidos

O governo dos Estados Unidos diz que um regime socialista aqui ameaça a segurança dos Estados Unidos. Mas o que ameaça a segurança do povo da América do norte é a política agressiva dos belicistas dos Estados Unidos. O que ameaça a segurança da família da América do norte e seu povo é a violência, a política agressiva, aquela política que ignora a soberania e os direitos dos outros povos. Aquela política agressiva pode levar a uma guerra mundial; e a guerra mundial pode custar as vidas de dezenas de milhões de norte americanos. Portanto, aquele que ameaça a segurança dos Estados Unidos não é o Governo Revolucionário de Cuba, mas o agressor e agressivo governo dos Estados Unidos.
Nós não colocamos em perigo a segurança de um único norte-americano. Nós não pomos em perigo a vida ou a segurança de uma única família norte-americana. Nós, fazendo cooperativas, reforma agrária, ranchos do povo, casas, escolas, campanhas de alfabetização e mandando centenas e centenas de professores para o interior, construindo hospitais, mandando médicos, dando bolsas de estudos, construindo fábricas, aumentando a capacidade produtiva do país, criando praias públicas, convertendo fortalezas em escolas e dando ao povo o direito a um futuro melhor – nós não pomos em perigo uma única família ou um único cidadão dos Estados Unidos da América.
Aqueles que colocam em perigo milhões de famílias, de dezenas de milhões de norte-americanos são aqueles que brincam com a guerra atômica. São aqueles que, segundo General Cardenas fala, estão brincando com a possibilidade de Nova York se tornar Hiroshima. Aqueles que estão brincando com a guerra atômica, com a sua guerra agressiva, com a sua política que viola os direitos do povo são aqueles que colocam em perigo a segurança da nação da América do norte, a segurança das vidas de  milhares de norte-americanos desconhecidos.

O que os monopolistas temem? Eles dizem que não estão seguros com uma revolução socialista por perto. Eles estão, como Khruscev fala, provando que seu sistema é inferior. Eles nem acreditam no próprio sistema. Por que eles não nos deixam em paz quando o que o nosso governo quer é paz?

A recusa do EUA em negociar


Recentemente, nosso governo publicou a afirmação de que nós estaríamos dispostos a negociar. Por que? Porque nós temos medo? Não! Nós estamos convencidos que eles temem a revolução mais do que tememos eles. Eles tem uma mentalidade que não os permite dormir quando eles sabem que existe uma revolução por perto.
Medo? Ninguém tem medo aqui. O povo que luta pela sua liberdade nunca se amedronta. Os amedrontados são os ricos. Aqueles que tem sido ricos. Nós não temos interesse no suicídio do imperialismo às nossas custas. Eles não se importam com a morte de negros, porto riquenhos ou americanos. Mas nós nos importamos com cada vida cubana. Nós estamos interessados em paz.
Nós estamos prontos para negociar. Eles falam que as condições econômicas podem ser discutidas, mas não o comunismo. Bem, de onde eles tiraram a ideia de que nós discutiríamos isso? Nós discutiríamos problemas econômicos. Mas não estamos prontos para admitir essas conversas tanto quanto a pincelada de uma pétala de uma rosa. O povo cubano é capaz de estabelecer o regime que ele quiser. Nós nunca pensamos na possibilidade de discussão do regime. Nós discutiremos apenas coisas que não afetem nossa soberania. Nós queremos negociar em nome da paz.
Aqueles que não se preocupam sobre encaminhar o povo americano para guerra estão sendo guiados por emoções. Nós não temos medo. Se eles pensam que sim, deixem eles rejeitarem aquela ideia. Nenhum cubano está com medo. Se eles pensam que discutiremos nossa política interna, deixem eles esquecerem isso. Deixem eles discutir todos os tópicos que querem discutir. Nós discutimos com os invasores, não? Bem, nós debateremos com qualquer um. Nós estamos dispostos a falar. Estamos dispostos a debater. Mas isso quer dizer que desejamos negociar nossa política interna? Claro que não. Nós estamos apenas dando um passo sensato. Isso quer dizer que a revolução irá desacelerar? Claro que não! Nós continuaremos, pegando velocidade o quanto pudermos.

Matar invasores estrangeiros

Se eles querem dizer que não se importam com a soberania dos países, deixem-nos dizê-lo. Mas estamos prontos para defender, bem como negociar. Nós estamos prontos para atirar um milhão de tiros no primeiro ianque paraquedista que tentar pousar aqui. Do primeiro momento que eles desembarcarem em nosso solo eles podem ter certeza que eles começaram a guerra mais difícil das quais eles já ouviram. Aquela guerra seria o começo do fim do imperialismo. Com a mesma disponibilidade para negociar, nós lutaremos. Até mesmo os pioneiros lutariam. Cada homem, mulher e criança tem um dever no caso de um ataque estrangeiro – matar! Se nós somos atacados por estrangeiros não haverá prisioneiros. O invasor estrangeiro deve saber que deve matar a todos nós! Enquanto um viva, ele terá um inimigo! Luta de vida ou morte! Não há meio termo! Será uma guerra sem prisioneiros!
Se os invasores desembarcam em solo cubano não iremos querer nossas vidas. Nós lutaremos até o último homem contra qualquer um que colocar os pés em nossa terra. Todos os homens e mulheres devem saber de seus deveres. Esse dever será cumprido de maneira simples e natural enquanto o povo luta uma guerra justa.
É um crime que nosso povo não seja deixado em paz para completar nosso trabalho de justiça por aqueles que outrora viveram em humilhação e miséria. É uma pena que interesses ilegítimos foram determinados a causar o mal a nosso país. Enquanto eles tentaram  cortar nossos suprimentos, eles estavam abastecendo os mercenários com armas para invadir nosso país e derramar o sangue do povo. E nessa vergonhosa tarefa, quem participou?
Eu já os falei sobre sua composição social. Padres também não faltavam. Três deles vieram. Nenhum era cubano, eles eram espanhóis. Você lembra que quando nós perguntamos eles disseram que vieram em uma missão puramente espiritual. Eles disseram que vieram em uma missão cristã. Mas revisando os seus livros nós achamos isso: um apelo para o povo por Ismael de Lugo: "Atenção católicos cubanos: as forças libertadoras desembarcaram em praias cubanas. Nós viemos em nome de Deus – como se Calvino viesse no nome de Deus – justiça e democracia para reestabelecer a pisoteada liberdade - Isso deve ser mentira. Nós viemos por causa do amor, não do ódio. Nós viemos com milhares de cubanos, os quais são católicos e cristãos – que mentira, cujo espírito é o espírito dos cruzados. (Notas do Editor: Castro continua lendo a mensagem escrita pelo Padre de Lugo...)

E esse cavalheiro não é nem cubano; ele é um espanhol falangista. Ele poderia ter economizado todos aqueles apelos e energia de guerreiro para lutar contra a guarda moura de Franco. Por que ele veio aqui com outros 3 padres falangistas espanhóis ao invés de ir para a Espanha lutar pela liberdade contra Franco, que está oprimindo o povo espanhol por 20 estranhos anos e que se vendeu  para o imperialismo ianque? Os ianques não estão lutando pela liberdade na Espanha, Nicarágua ou Guatemala. Eles são grandes amigos de Franco. E esses padres falangistas vieram aqui, quando é na Espanha que eles deveriam estar lutando pela liberdade, pelos camponeses e trabalhadores. Os padres falangistas ao invés disso vem aqui pregar contra os trabalhadores e camponeses que se livraram da exploração. E vieram três, não apenas um; e o quarto, em Escambray, é espanhol também.

Padres estrangeiros a serem expulsos

Nós vamos anunciar aqui para o povo que nos próximos dias o Governo Revolucionário passará uma lei declarando inválida qualquer permissão assegurada por qualquer padre estrangeiro nesse país. E essa lei terá uma única exceção: vocês sabem a quem? Um padre estrangeiro poderá ficar com permissão especial, aprovada pelo governo, se ele não estiver combatendo a revolução e não estiver mantendo atividades contrarrevolucionárias. Ele pode pedir permissão, e o governo poderá garantir se considerar adequado, pois existem padres estrangeiros, pela via da exceção, que não se posicionaram contra a revolução, embora a regra geral seja o contrário.
Claro, eles falarão que somos ímpios, inimigos da religião. Como eles podem dizer isso depois de um líder de um serviço eclesiástico, enquanto proclamava que ele estava chegando para realizar um serviço espiritual, também assinou um manifesto como esse – de natureza política? Pode a revolução continuar permitindo atos como esses continuarem impunes?
E deixar esses cavalheiros trazerem o inferno aqui, trazerem o inferno para a terra aqui, com a guerra criminosa, seus calvinistas, seus Soler Puigs, seus latifundiários e seus filhos privilegiados, para trazer o inferno para a terra aqui para os camponeses e trabalhadores? Podemos deixar a falange espanhola continuar promovendo derramamento de sangue e conspiração aqui por meio de seus padres? Não, nós não estamos dispostos a permitir isso. Os padres falangistas sabem agora, eles podem começar a fazer as malas (Aplausos).
Eles estão realizando atividades contrarrevolucionárias nas escolas também, envenenando as mentes  dos alunos. Eles estão formando mentes terroristas. Eles estão ensinando ódio para o país. Por que a revolução deveria tolerar isso? Seríamos culpados se deixássemos isso ir adiante.

Nacionalização das escolas privadas
Nós anunciamos aqui que nos próximos dias o governo revolucionário irá passar uma lei nacionalizando as escolas privadas. Essa lei não pode ser uma lei para um setor; será geral. Isso quer dizer que escolas privadas serão nacionalizadas; claro, não uma pequena escola, na qual uma professora dá aulas, mas escolas privadas com vários professores.
Diretores de escolas privadas mostraram diferentes tipos de conduta. Muitas diretores de escolas privadas não estão inculcando veneno contrarrevolucionário. A revolução sente como sendo seu dever organizar e estabelecer o princípio de educação gratuita para todos os cidadãos. O povo sente que ele tem o dever de treinar as futuras gerações no espírito de amor por seu país, por justiça, pela revolução.
O que deve ser feito no caso de escolas privadas que não mostraram conduta contrarrevolucionária? O governo Revolucionário indenizará aqueles diretores ou donos de escolas cuja atitude não tiver sido contrarrevolucionária, cuja atitude foi favorável para a revolução; e a revolução não indenizará nenhuma escola cujos professores estão travando uma campanha contrarrevolucionária, que foram contra a revolução.
Aos professores e empregados de todas essas escolas, serão dados trabalhos. Ou seja, os empregados e professores dessas escolas terão trabalhos garantidos. Os alunos dessas escolas poderão continuar frequentando-as, os padrões educacionais será mantido alto ou aumentado e além disso, eles  não terão de pagar absolutamente nada para frequentá-las.

Religião não é restringida

Villanueva é incluída nessa nacionalização, claro. Eles falarão que esse governo ímpio se opõe à instrução religiosa. Não senhor. Nós nos opomos é contra esses atos sem-vergonha que estão sendo cometidos e esse crime contra o nosso país. Eles podem ensinar religião, sim; nas igrejas eles podem ensinar religião.
Religião é uma coisa, política é outra. Se esses cavalheiros não fossem contra os interesses políticos do povo, não poderíamos nos importar menos com suas pastorais, a discussão de questões religiosas, etc. As igrejas podem manter-se abertas; religião pode ser ensinada aqui, Não seria muito melhor se eles se restringissem aos seus ensinamentos religiosos? Não seria melhor ter paz? Eles podem ter paz, dentro de estritos limites de respeito de acordo com o povo revolucionário e o governo. Mas eles não podem guerrear contra o povo em serviço dos exploradores. Isso não tem nada a ver com religião; tem a ver com sangue, com ouro, com interesses materiais. Eles podem ter consideração pelo povo, nos limites de respeito e direitos mútuos.
O cristianismo surgiu como uma religião dos pobres, de escravos e dos oprimidos de Roma – a religião que floresceu nas catacumbas. Era a religião dos pobres e obteu o respeito de leis. Coexistiu com o Império Romano. Então veio o feudalismo. Aquela igreja coexistiu com o feudalismo, mais tarde com monarquias absolutas, depois com repúblicas burguesas. Aqui a república burguesa desaparece; por que não deveria a mesma igreja coexistir com um sistema de justiça social que é muito superior às formas anteriores de governo? Esse sistema é muito mais cristão que o imperialismo ianque ou política burguesa, ou o Império Romano. Nós acreditamos que a coexistência é perfeitamente possível. A revolução não se opõe à religião. Eles usaram a religião como um pretexto para combater os pobres. Eles esquecem o que Cristo disse sobre ser mais fácil para um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico ir para o céu.

O pequeno homem de negócios protegido
Aqueles são fatos. Nós falamos, com sempre, claramente. Isso apenas quer dizer que estamos preparados para defender a revolução e continuar avançando, convencidos da justiça de nossa causa.
Nós falamos de nossa revolução socialista. Não quer dizer que o pequeno homem de negócio ou pequeno industrial precise se preocupar. Minas, combustível, bancário, usinas de açúcar, comércio de exportação e importação – a maior parte da economia – está nas mãos do povo. Dessa forma o povo pode desenvolver nossa economia. O pequeno industrial e pequeno homem de negócios podem coexistir com a revolução. A revolução sempre teve cuidado em relação aos interesses dos pequenos proprietários.
A reforma urbana é uma prova. Esse mês, todos os pequenos proprietários de terras receberão cerca de 105,000 pesos. Antigamente, se o inquilino não pagasse o aluguel, o proprietário não recebia; agora um fundo foi estabelecido para garantir que o dono da terra seja pago. A revolução terá 80 milhões de pesos por ano para construção pela reforma urbana. E quando o aluguel é a única renda desses donos de terra, a revolução determinou que depois que a casa foi integralmente paga, o dono de terra receberá uma pensão. Uma revolução socialista não quer dizer que os interesses de certos setores serão eliminados sem consideração. Os interesses dos grandes proprietários de terras, banqueiros e industriais foram eliminados. Nenhum interesse social dos níveis mais baixos da sociedade foram condenados. A revolução irá aderir à sua palavra: nenhum interesse médio será afetado sem consideração.
Pequenos empresários e industriais tem crédito hoje. A revolução não tem interesse na sua nacionalização. A revolução tem o bastante para desenvolver as fontes de riqueza que agora tem a sua disposição. A revolução sente que aqui pode existir colaboração do pequeno empresário e do pequeno industrial. Ela acredita que seus interesses  podem coincidir com aqueles da revolução. 

Contrarrevolucionários afirmaram que as barbearias seriam nacionalizadas, mesmo barracas de comida. A revolução não os tem como objetivo. A solução desses problemas será o resultado de uma longa evolução. Existe alguns problemas; algumas vezes tomates e abacaxis são vendidos na cidade a preços mais altos do que nos campo. Ainda existe uma pequena praga de atravessadores. A revolução ainda tem de tomar medidas para se livrar dos abusos dos atravessadores, para melhorar o consumo para as pessoas. Mas eu não quero que as pessoas fiquem confusas. Eu quero que todos saibam o que esperar.

O chamado para a colaboração
Basicamente a revolução já passou suas medidas. Ninguém precisa se preocupar. Por que não se juntar a esse entusiasmo, nessa proeza? Por que ainda existem cubanos aborrecidos por essa felicidade? Eu me perguntei isso enquanto assistia o desfile. Por que alguns cubanos são incapazes de entender que sua felicidade pode também ser deles? Por que eles não se adaptam à revolução? Por que não ver as suas crianças nas escolas aqui? Algumas pessoas não podem se adaptar, mas a sociedade futura será melhor do que a antiga.
Essa é a hora na qual nós, longe de usarmos o momento contra os que não entendem, devemos perguntar a eles se já não é tempo deles se juntarem a nós. 

A revolução considera necessário que eles sejam retidos. Talvez eles já tenham sido. A revolução não quer que se use força contra a minoria. A revolução quer que todos os cubanos entendam. Nós não queremos que toda essa felicidade e emoção toda apenas para nós. É a glória do povo.
Nós dissemos a todos que mentiram no passado e não entenderam. Nós francamente dizemos que nossa revolução deveria ser menosprezada pelas sanções severas contra os mercenários. Isso serve como uma arma para os nossos inimigos. Nós dizemos isso, porque nós contamos ao povo tudo o que beneficiará a revolução. Nós tivemos uma vitória moral e será maior se nós não mancharmos a nosso vitória.
As vidas perdidas nos machucam o mesmo que machucam aos outros, Mas nós devemos superar isso e falar pelo prestígio e pela nossa causa. O que está diante de nós? O risco da agressão imperialista! Grandes tarefas! Chegamos ao ponto no qual nós devemos entender que chegou o momento de fazermos o nosso maior esforço. Os próximos meses são muito importantes. Eles serão meses nos quais nós devemos fazer grandes esforços em todos os campos. Todos nós temos a tarefa de fazer o máximo, ninguém tem o direito de descansar. Com o que nós vimos hoje, nós devemos aprender que com esforço e coragem nós podemos colher magníficos frutos. E as frutas de hoje não são nada se comparadas ao que pode ser feito se nós nos empenharmos ao máximo.
Antes de concluir, eu gostaria de lembrar o que eu disse no julgamento Moncada. Aqui está o parágrafo: O país não pode ficar de joelhos implorando milagres do bezerro de ouro. Nenhum problema social é resolvido espontaneamente. Nesse momento tínhamos expressado nossos pontos de vista. 

A revolução seguiu as ideias revolucionárias daqueles que tiveram um importante papel nessa luta.
Esse é o porquê de quando um milhão de cubanos se reuniram para proclamar a Declaração de Havana, o documento expressou a essência da revolução, nossa revolução socialista. Dizia que condenava os proprietários de terra, os salários de fome, analfabetismo, falta de professores, médicos, hospitais, discriminação, exploração das mulheres, oligarquias que atrasavam o país, governos que ignoravam a vontade do povo obedecendo as ordens dos EUA, monopólios das agências de notícias ianques, leis que preveniam as massas de se organizarem e os monopólios imperialistas de riqueza. A assembleia geral do povo condenou a exploração do homem pelo homem. A assembleia geral proclamou o seguinte: o direito ao trabalho, educação, dignidade do homem, direitos civis às mulheres, previdência aos aposentados, liberdade artística, nacionalização dos monopólios. Esse é o programa de nosso revolução socialista.

Vida longa à classe trabalhadora cubana! Vida longa às nações latino-americanas! Vida longa à nação! Pátria ou morte! Venceremos!"

Tradução: equipe do Fuzil contra Fuzil